Brasília é a capital de um Brasil que sonhou em ser moderno

Arquiteto Luiz Gustavo Sobral Fernandes, da USP, fez levantamento dos registros históricos da cidade

Foto: Marcel Gautherot/IMS

Quem não olha os edifícios de Brasília e os associa à cidade? Quantos brasileiros não relacionam a nova capital ao ex-presidente Juscelino Kubitschek?

Poucos brasileiros discordariam de que Brasília é uma cidade com alto potencial simbólico: representa o poder, o Brasil moderno, a política e a arquitetura brasileira dos anos 1960. Um estudo desenvolvido no Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, em São Carlos, se aprofundou nos registros históricos da cidade.

“Buscamos publicações mais antigas para compreender melhor Brasília, um fenômeno do Brasil moderno que foi amplamente aplaudido e criticado”, diz Luiz Gustavo Sobral Fernandes, do IAU e autor da pesquisa realizada em parceria com a Universidade do Texas em Austin, Estados Unidos.

As publicações

Para tanto, foram levantadas mais de uma centena de publicações impressas sobre a cidade, publicadas entre as décadas de 1950, quando Juscelino Kubitschek decide pela construção da cidade, até meados dos anos 2010, quando a capital comemorou 50 anos de inauguração. A pesquisa constatou, no entanto, que muito do ‘espírito’ de Brasília estava presente em publicações que iam até os anos 1970.

No início, diz o arquiteto, “surgiram trabalhos de muitas personalidades que defendiam a construção da cidade. Brasília representava o progresso do Brasil”. São trabalhos muito apaixonados, com inclinações bandeiristas e que faziam alusão a uma marcha ao oeste no Brasil, semelhante ao que aconteceu nos Estados Unidos da América, destaca.

Posteriormente, a pesquisa descobriu livros escritos em primeira pessoa. São trabalhos de homens e mulheres, muitas vezes anônimos, que optaram por contar sua relação pioneira com a cidade.

Palácio do Congresso Nacional. Brasília, 1960. Foto: Marcel Gautherot/IMS

Mais adiante surgiriam livros de personalidades como Gilberto Freyre e Henrique Mindlin, que mostram versões diferentes sobre a cidade. Freyre, por exemplo, era muito crítico à maneira como Brasília vinha sendo executada.

Alguns anos após a inauguração, começam a aparecer muitos livros que investigam a cidade ocupada, que apresenta uma periferia cheia de cidades satélites. Segundo o pesquisador, “é aí que Brasília surge como a cidade que prometeu algo que não cumpriu. Mostra o sonho que não virou realidade”.

O Brasil moderno

Sobral Fernandes (arquivo pessoal)

Esta é uma pesquisa que contribui para que a sociedade compreenda melhor as relações estabelecidas entre a arquitetura e o espaço construído. “Brasília se tornou um objeto ‘síntese’ de sonho e de esperança. A arquitetura de Niemeyer acabou tendo esse papel de apresentar um símbolo de um país que estaria por vir”, diz Sobral Fernandes.

A pesquisa abordou também a difusão desse ideário criado em torno da cidade. Segundo o arquiteto, são comuns, em cidades de todo o Brasil, casas de classe média que imitam a arquitetura de Niemeyer para Brasília. “Esse é um fenômeno muito interessante. Hoje as pessoas imitam casas estilo neoclássico. Casas que pretendiam ser modernas demonstram como Brasília ficou impregnada no imaginário popular”, finaliza.

 

Niemeyer architecture24 – Foto: Marcel Gautherot/IMS

 

Palácio da Alvorada. Brasília, 1962. Foto: Marcel Gautherot/IMS

Vista aérea da Praça dos Três Poderes. Brasília, 1960. Foto: Marcel Gautherot/IMS

 

 

Câmara dos Deputados, em fase de construção. Brasília, 1958. Foto: Marcel Gautherot/IMS

 

Foto: Marcel Gautherot/IMS

Com informações de Luiz Gustavo Sobral Fernandes do IAU

 

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