A 8ª edição do Hackaton-USP reuniu 75 participantes em uma imersão de 36 horas dedicada à criação de tecnologias voltadas à inclusão digital

As equipes vencedoras, 1º e 2º lugar na competição, criaram soluções tecnológicas que impulsionam a inovação dentro da Universidade – Foto: Arquivo pessoal
Estudantes do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, desenvolveram soluções tecnológicas por meio de dois aplicativos inclusivos: o Eyetapper, voltado a pessoas com deficiências neuromotoras ou dificuldades de fala, e o Hermes, um sistema de navegação interna projetado para auxiliar no deslocamento de pessoas com deficiência visual. Ambos os aplicativos foram desenvolvidos na 8ª edição do Hackaton-USP. O encontro reuniu em São Paulo 75 estudantes, de 14 equipes diferentes, em uma imersão de 36 horas dedicada à criação de tecnologias voltadas à inclusão digital.
Nos dias 1º e 2 novembro, os estudantes viraram a madrugada trabalhando no desenvolvimento das tecnologias. O hackaton é organizado pelo grupo de extensão USPCodeLab e pelo Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU), e o desafio é que os participantes devem criar, em apenas 36 horas, soluções tecnológicas de impacto social. Assim, os estudantes do ICMC venceram o primeiro lugar da competição com o Eyetapper e o segundo com o Hermes.
O Eyetapper foi desenvolvido pelos estudantes Renan Scarpin, Pietra Gullo, Gabriel Barbosa, Gabriel Antunes, Otávio Biagioni e Carol Guerreiro. Já o Hermes foi desenvolvido por Giovanna Noventa, Christyan Nantes, Arthur Martins, Caio Petroncini, Juan Passos e Arthur Santana.

Combinando visão computacional, IA generativa e sensores de proximidade, o grupo responsável pelo desenvolvimento do Hermes conquistou o segundo lugar na competição – Foto: Arquivo pessoal

A equipe que conquistou o primeiro lugar com um protótipo para permitir que o usuário consiga digitar sem utilizar as mãos e sem depender de comandos de voz – Foto: Arquivo pessoal
Desenvolvido em Kotlin, uma linguagem de programação utilizada para criar aplicativos, a ideia do Eyetapper é permitir que o usuário consiga digitar sem utilizar as mãos e sem depender de comandos de voz. No protótipo, rastreamento ocular e predição de caracteres trabalham juntos para exibir na tela um conjunto reduzido de letras, facilitando a seleção apenas com o olhar. Segundo a equipe, a tecnologia pode beneficiar pessoas com Parkinson em estágio avançado, esclerose lateral amiotrófica e outras condições que comprometem a fala e o movimento.
De acordo com Renan, a principal dificuldade enfrentada durante o desenvolvimento foi o tempo limitado da maratona e o fato de o sistema Android não possuir um recurso nativo de rastreamento ocular. Para contornar essa limitação, o grupo criou uma versão inicial e simplificada, usada apenas para demonstrar que a ideia é tecnicamente viável, utilizando o recurso disponível no iOS. “Em paralelo, desenvolvemos também uma versão preliminar para Android baseada na movimentação da cabeça, que já permite avaliar a experiência de uso”, explica.
O código do protótipo foi disponibilizado no GitHub para que outros desenvolvedores possam contribuir: github.com/gotembarbosa/eyetapper. A equipe ainda discute a continuidade do projeto, já que transformá-lo em uma solução amplamente utilizável exigiria um período maior de desenvolvimento e novos ciclos de testes e aprimoramentos.
Já o Hermes foi pensado para auxiliar pessoas com deficiência visual e a ideia do desenvolvimento surgiu da adaptação de tecnologias utilizadas em veículos autônomos, que combinam sensores e visão computacional para interpretar o ambiente. No contexto do hackathon, o grupo aplicou o conceito a espaços fechados, como museus, shoppings e mercados – locais onde barreiras de acessibilidade ainda são frequentes. “O foco foi criar algo simples e de baixo custo para os estabelecimentos, além de intuitivo para o usuário final, que recebe orientações principalmente por áudio. A arquitetura foi pensada para ser escalável, econômica e capaz de evoluir para funcionalidades mais avançadas, como desvio automático de obstáculos e mapeamento automático dos ambientes”, destaca Christian.
Após o evento, a equipe responsável pelo Hermes iniciou conversas com o NEU para avaliar a continuidade do projeto e a possibilidade de transformar o protótipo em um produto funcional.
Para os participantes, o evento agregou muito à formação acadêmica e profissional. “Participar da competição e sair premiado é muito bom. Mostra que conseguimos idealizar e prototipar rapidamente algo inovador e com potencial de impacto social real. Além disso, o hackathon proporciona um networking valioso com pessoas que já estão em um nível elevado de suas carreiras, o que pode abrir portas importantes no futuro”, afirma Christyan Nantes.
Renan Scarpin também destaca o crescimento pessoal proporcionado pelo evento: “Aprendemos muito sobre tecnologias que raramente aparecem na graduação. Mas, mais do que isso, crescemos socialmente, trabalhamos em equipe e aprendemos a apresentar um projeto de maneira objetiva para um júri especializado”.
Texto: Redação – Com informações da Assessoria de Comunicação do ICMC
Arte: Daniela Gonçalves
Por Jornal da USP