IFSC-USP completa três décadas e inaugura novos centros de pesquisa

A celebração incluiu a revitalização de um espaço de convivência, inaugurações de novos centros de pesquisa, a reinauguração de uma escultura e uma sessão solene da Congregação

Imagem mostra uma mesa com quatro homens de ternos, o primeiro com um microfone e na frente dessa mesa a sigla USP, o emblema do Instituto de Física de São Carlos com a sigla e escrito por extenso logo a seguir

(Da esq. p/ direita) Carlos Gilberto Carlotti Junior, Osvaldo Novais de Oliveira Junior, Luiz Vitor de Souza Filho e Adriano Andricopulo, na sessão solene da Congregação – Foto: Rose Talamone

Na manhã do dia 2 de dezembro, o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) comemorou três décadas de história com uma programação especial que uniu ciência, arte e reconhecimento. Distribuída entre as Áreas 1 e 2 do Campus USP de São Carlos, a celebração incluiu a revitalização de um espaço de convivência, inaugurações de novos centros de pesquisa, a reinauguração de uma escultura que simboliza a trajetória interdisciplinar do instituto e uma sessão solene da Congregação, que destacou os avanços do instituto e suas contribuições para o desenvolvimento científico.

O diretor do IFSC, Osvaldo Novais de Oliveira Junior, abriu as comemorações dando as boas-vindas aos presentes e enfatizando o significado do evento: “Hoje comemoramos não só os 30 anos de história do IFSC, mas também o futuro que essas novas iniciativas nos permitem vislumbrar. Esses marcos reforçam nosso compromisso com a inovação e a interdisciplinaridade. A revitalização deste espaço e a criação de novos centros são mais do que estruturas físicas; são a materialização de ideias e conceitos que guiarão as próximas décadas de pesquisa e inovação em nosso instituto”.

Como parte das celebrações, foi reinaugurada a obra do artista Antônio de Santana Galvão Leite, totalmente revitalizada e instalada na Área de Vivência do instituto no Campus 2, que conta também com um jardim de plantas medicinais. Leite, ex-funcionário do instituto, canalizou sua experiência administrativa e artística para criar algo único, como destacou o professor Glaucius Oliva. Durante a apresentação da escultura, Oliva explicou seu simbolismo: “Essa obra representa a convergência de diversas áreas do conhecimento, algo que tem sido marca registrada do nosso instituto. A estrutura remete à origem da vida, simbolizada pela cadeia de DNA, que carrega a história e também a complexidade das interações moleculares que estamos comprometidos a desvendar em nossas pesquisas”.

O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, destacou a importância dos espaços de convivência. “Esses ambientes simbolizam a troca de ideias e o fortalecimento do senso de comunidade, ambos essenciais para o avanço da ciência e da pesquisa. Nos principais centros de excelência no mundo, áreas de convivência são projetadas para incentivar o diálogo entre pesquisadores”, afirmou. Ele também ressaltou o papel histórico e interdisciplinar do IFSC: “A união de diferentes campos do conhecimento é um dos pilares que sustentam o instituto. Essa interação entre física, biologia e química nos permite enfrentar desafios científicos como o câncer e as doenças infecciosas”.

(Da esq, p/direita) Glaucius Oliva, Carlos Gilberto Carlotti Junior e Osvaldo Novais de Oliveira Junior, na reinauguração da escultura do artista Antônio de Santana Galvão Leite – Foto: Rose Talamone

Novos centros de pesquisa

No mesmo dia, foram inaugurados dois novos centros de pesquisa no Campus 2: o Centro de Pesquisa e Inovação Especial em Ciências da Descoberta de Medicamentos (Cepix Cepimed) e o Centro de Crio-Microscopia Eletrônica de Biomoléculas (Cemeb). O coordenador do Cepix-Cepimed, Adriano Andricopulo, destacou a relevância dessas inaugurações: “Estamos inaugurando um centro que é fruto de uma década de trabalho colaborativo, envolvendo mais de 25 pesquisadores de oito instituições. Essa iniciativa reflete o legado de visionários, como o professor Glaucius Oliva, que estabeleceram as bases para a pesquisa em biologia estrutural no IFSC”. Andricopulo enfatizou que as novas instalações ampliam a capacidade do instituto de abordar questões científicas globais. “O compromisso com a interdisciplinaridade e a pesquisa de ponta reflete a essência do que somos e buscamos construir”, afirmou.

O coordenador do Cemeb, André Luís Berteli Ambrósio, ressaltou o impacto científico e simbólico das inaugurações no IFSC. Ele descreveu o novo centro como um divisor de águas na pesquisa científica: “O Cemeb é uma conquista extraordinária. Com os equipamentos adquiridos e o suporte da Fapesp, estamos criando um espaço que será referência na determinação estrutural de macromoléculas biológicas em alta resolução. Isso coloca o IFSC na vanguarda da pesquisa e acelera o desenvolvimento de terapias para doenças como o câncer e infecções resistentes”.

Ambrósio também enfatizou os desafios superados para a implementação do centro, destacando a complexidade técnica envolvida: “Cada detalhe foi pensado para atender às especificações rigorosas desses equipamentos de ponta, desde o isolamento vibracional até as condições eletromagnéticas do ambiente. Trabalhamos contra o tempo e superamos desafios técnicos e logísticos complexos para que hoje possamos estar aqui comemorando. Isso reflete o espírito colaborativo do instituto e, mais do que um centro de pesquisa, este é um espaço de integração. Ele estará acessível a toda a comunidade científica, não apenas no Estado de São Paulo, mas também no Brasil e na América Latina. A ciência que produzimos aqui terá um impacto global, e isso só é possível graças à interdisciplinaridade que define o IFSC”.

O professor Vanderlei Bagnato, em participação virtual, destacou o lançamento dos novos centros de pesquisa, em especial de Óptica e Fotônica (Cepof) na qual coordena e um dos Cepix da USP, ressaltando a importância estratégica desses projetos para a ciência brasileira e internacional. “Esses centros são a materialização de décadas de esforço conjunto e visão. Eles representam um marco não apenas para o IFSC, mas para a ciência global. Com esses espaços, estamos criando um ambiente que integra pesquisa de ponta, formação de talentos e transferência de tecnologia, permitindo enfrentar desafios científicos complexos e gerar impacto direto na sociedade. Esse é o espírito do IFSC: transformar conhecimento em soluções práticas”, enfatizou Bagnato. Ele mencionou como esses centros reforçam a internacionalização do instituto e o posicionam como referência em tecnologias avançadas. “Com estruturas como essas, o IFSC se consolida como um polo de inovação, atraindo pesquisadores de todo o mundo e estabelecendo parcerias estratégicas que ampliam nosso alcance e relevância”, acrescentou.

Representando o diretor científico da Fapesp, Marcio de Castro Silva, o professor Luiz Vitor de Souza Filho reforçou a importância do caráter multiusuário dos novos centros e destacou a relevância da parceria com o IFSC. Ele abordou o impacto do Programa de Equipamentos Multiusuários: “Esse é um dos programas mais importantes da Fapesp, pois garante que a infraestrutura de ponta esteja disponível para toda a comunidade científica. No caso do IFSC, essa tradição de acesso compartilhado é exemplificada pelas instalações que inauguramos hoje. Aqui, cada equipamento e espaço foram projetados para beneficiar pesquisadores de diversas instituições”.

Como parte das comemorações, foram homenageados os funcionários Francisco Fernando Falvo, José Augusto Lopes da Rocha e Humberto D’Muniz Pereira, que tiveram papel fundamental nas obras de instalação do Cemeb, financiado pela Fapesp. Suas contribuições foram reconhecidas como essenciais para o sucesso do projeto, simbolizando o esforço coletivo que marca essa nova fase do instituto.

Imagem mostra do lado esquerdo três homens de terno, um azul, um cinza e um preto com gravata vermelha e do lado esquerdo dois homens de ternos escuros e duas mulheres de saia, uma com uma bolsa vermelha, no centro uma placa de alumínio fixada numa parede azul

Descerramento da placa de inauguração do Cepix -Cepimed no Instituto de Física de São Carlos – Campus 2 – Foto: Rose Talamone

Sessão solene

Na sessão solene da Congregação, as contribuições do IFSC ao longo das últimas três décadas e seus projetos futuros foram destacados por lideranças acadêmicas e científicas. “Estamos celebrando uma história marcada pela interdisciplinaridade, inovação e impacto social. Hoje, reafirmamos nosso compromisso de fazer ciência de excelência, contribuindo para o enfrentamento dos grandes desafios da sociedade contemporânea. Esse evento não é apenas uma comemoração, mas também um marco de um novo ciclo de realizações”, afirmou o diretor do instituto.

Desde os primeiros anos, diz Oliveira, a formação de recursos humanos foi um foco estratégico, mesmo em um Brasil ainda carente de programas estruturados de internacionalização. “Já na década de 1960, enviamos nossos pesquisadores ao exterior para capacitações sofisticadas, garantindo a troca de conhecimento e inovação”, destacou.

Ao abordar o futuro da ciência e da tecnologia, o professor refletiu sobre as perspectivas da inteligência artificial (IA), destacando suas limitações atuais, como a necessidade de grandes volumes de dados e os custos energéticos elevados. “É muito provável que, no futuro, tenhamos sistemas que não exijam tantas quantidades de dados”, explicou, comparando o aprendizado artificial à capacidade humana de generalizar com menos informações. O avanço, segundo ele, dependerá de novas abordagens e teorias. “Talvez uma nova matemática seja necessária para que possamos transformar os estudos atuais em tecnologias que realmente impactem a sociedade”, projetou.

O reitor da USP, por sua vez, enfatizou os esforços da Universidade para alinhar a graduação às expectativas dos alunos e às demandas do mercado, sem abrir mão de uma formação sólida. Entre as iniciativas mencionadas estão o uso de ferramentas para acompanhar o desempenho acadêmico e oferecer suporte personalizado.

Carlotti reconheceu o IFSC como referência em pesquisa de ponta e ressaltou a importância dos novos centros, como os Cepix, inaugurados recentemente. “Esses espaços não são apenas laboratórios, mas plataformas para transformar conhecimento em impacto social”, disse, reforçando a necessidade de atrair pesquisadores estrangeiros e proporcionar aos alunos experiências internacionais, promovendo trocas produtivas e enriquecedoras. No âmbito da extensão, o reitor elogiou projetos que vão além da academia e beneficiam diretamente a sociedade. “Os novos centros do IFSC são mais do que estruturas físicas; eles simbolizam o papel essencial da ciência pública”, afirmou.

Por Rose Talamone – Jornal da USP

VEJA TAMBÉM ...