Próxima palestra do Ciclo ACT> aborda interações entre infraestrutura industrial, urbanização e impactos socioambientais

Conheça mais sobre o projeto MG/ES

No dia 21 de outubro o pesquisador Nelson Brissac Peixoto vai proferir a palestra  MG/ES — cartografias de um território mineral-industrial no Instituto de Estudos Avançados Polo São Carlos (IEA-USP). O evento integra o Ciclo ACT>, conjunto de palestras mensais sobre assuntos que envolvem arte, ciência, tecnologia e suas interconexões. A palestra será online, a partir das 17h, via meet.

A apresentação abordará o projeto MG/ES desenvolvido entre 2003 e 2005 por professores e alunos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais (Unileste). 

O projeto investigou a macrorregião situada entre Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES), vasto território estruturado por um sistema infraestrutural complexo e dinâmico. Nele a implantação de minas, siderúrgicas, projetos de reflorestamento, portos e redes ferroviárias e de navegação conforma um verdadeiro dispositivo territorial. Trata-se de um mecanismo que articula extração, processamento industrial, distribuição, exportação e fluxos de capital – compondo um sistema de alcance internacional. Essa infraestrutura industrial e logística não apenas movimenta a economia, mas também estrutura as formas urbanas e ambientais locais. É um território em que, durante décadas, se agenciaram as condições de integração global do Brasil.

Desde então, profundas transformações atingiram esse dispositivo industrial-territorial. De um lado, os desastres de Mariana e Brumadinho expuseram o caráter essencialmente anti-ecológico e insustentável dos modelos de mineração e siderurgia praticados no país. De outro, a transição tecnológica — cada vez mais orientada ao digital, à informação e à mobilidade elétrica — passou a valorizar outros materiais estratégicos. O sistema industrial da região, incapaz de se atualizar tecnologicamente, tornou-se progressivamente anacrônico. Hoje, poderíamos dizer que o projeto MG/ES revela a história de uma inserção malograda do Brasil na economia global.

No entanto, o projeto também trouxe aprendizados valiosos de caráter experimental. Ao propor-se a lidar com uma escala territorial tão extensa, enfrentou um primeiro desafio: o da percepção — como apreender e mapear um espaço que escapa à capacidade individual de visualizar e compreender? O segundo desafio foi o da articulação — como conectar situações e atores dispersos num campo territorial de dimensões continentais?

Essas experiências indicam a necessidade de estabelecer princípios para a organização de programas em grande escala, capazes de lidar com processos de negociação entre múltiplos atores e campos em contínua transformação. Apontam também para a urgência de desenvolver novos repertórios políticos, urbanísticos e artísticos que permitam imaginar e intervir criticamente nos grandes territórios contemporâneos.

Nelson Brissac Peixoto  é mestre em filosofia pela PUC-SP e doutor pela Sorbonne. Trabalha com questões relativas à arte e ao urbanismo. É professor do curso de Pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital na PUC-SP. Publicou A sedução da barbárie, Cenários em ruínas, América, Paisagens urbanas, Brasmitte e Arte/cidade – intervenções urbanas. Dedica-se ultimamente a questões de urbanização e manejo de água na várzea do rio Tietê, em SP.

O evento é uma oportunidade para o público compreender melhor o momento atual, quando a disputa global por recursos minerais estratégicos — como o lítio e as terras raras — redefine alianças geopolíticas e fronteiras tecnológicas. Portanto, revisitar MG/ES permite refletir sobre o lugar do Brasil nessa nova cartografia de poder. O projeto torna-se, assim, uma lente para compreender como nossas infraestruturas territoriais e políticas industriais permanecem presas a um paradigma extrativista que precisa ser urgentemente repensado.

Mais informações:

ieasc@sc.usp.br | (16) 3373-9177

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