Profissionais formados na USP, Unesp e Unicamp têm produtividade maior

No longo prazo, essa produtividade garante o retorno para a sociedade dos valores investidos nas três instituições

Arte sobre fotos de George Campos e Wikimedia Commons

Imagine duas pessoas, com o mesmo nível universitário, idade, gênero, ocupação, tempo de emprego, trabalhando no mesmo Estado e setor de atividade. Se uma delas tiver feito a graduação na USP, na Unesp ou na Unicamp, o diferencial de produtividade, em 2018, terá sido 24% maior em comparação a um profissional graduado em outras universidades, sejam elas públicas ou privadas. Caso não sejam levadas em conta variáveis como gênero, idade, unidade federada, entre outras, o diferencial bruto será 62% maior.

Carlos Roberto Azzoni – Foto: Cedida pelo pesquisador

No longo prazo, ou seja, pensando em uma carreira profissional de 40 anos (no caso dos graduados) e de 35 (no caso dos pós-graduados), o valor gerado pela produtividade dos profissionais formados por USP, Unesp e Unicamp é maior do que o investimento que a sociedade faz para manter essas instituições. Como se sabe, as três universidades estaduais paulistas são bancadas pelo repasse de 9,57% da arrecadação do ICMS.

Os dados são de um estudo publicado nesta quinta-feira (17) pelo Núcleo de Economia Regional e Urbana (Nereus) da USP. O levantamento “As Três Grandes Universidades Públicas Paulistas Valem o que Custam?“ foi produzido pelos professores Carlos Roberto Azzoni e Eduardo A. Haddad, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, e Moisés Vassallo, da Universidade Federal de Itajubá, a pedido dos reitores da USP, Unesp e Unicamp.


Quanto as universidades recebem do governo do Estado de São Paulo?

Entre os tributos que compõem a receita do Estado de São Paulo está o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, o ICMS. Parte do arrecadado com o imposto é dividido entre o Estado e os seus 645 municípios. Dentro da chamada cota-parte que vai para o governo estadual, um porcentual é destinado para as três universidades estaduais paulistas.


 

Eduardo Haddad – Foto: Cedida pelo pesquisado

O professor Azzoni explica que a produtividade pode ser entendida como a capacidade de produzir, de gerar produto, a partir de um determinado número de horas trabalhadas. Um funcionário que produza mais, em menos tempo, tende a receber mais por decisão do empregador. “Em estudos econômicos, os diferenciais salariais são considerados indicativos de diferenciais de produtividade”, diz ele ao Jornal da USP.

“Mesmo descontando as variáveis, somente a graduação paga cerca de 42% do gasto anual da sociedade com as três universidades públicas estaduais paulistas. Se juntar a pós-graduação, aumenta para 87%, e isso sem incluir pesquisa e extensão, as atividades dos museus e os atendimentos nos hospitais universitários”, destaca o professor.

 

Dados disponíveis na Rais

Moisés Vassallo – Foto: Cedida pelo pesquisador

O estudo foi baseado em dados de 2018 disponíveis na Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério da Economia, onde o empregador é obrigado a cadastrar informações de seus empregados (características individuais, regionais, tipo de contrato, empresa onde trabalha, etc.). A amostra contou com dados de 138 mil profissionais formados em uma das três universidades públicas paulistas e outros 13 milhões de profissionais empregados, formados em outras universidades, públicas ou privadas.

Os pesquisadores buscaram na Rais o CPF dos 180 mil graduados pela USP, Unesp e Unicamp, entre 2005 e 2015 (em média, 16.431 formados por ano). Eles encontraram, para o ano de 2018 – o mais recente da base –, 138 mil profissionais empregados em regime CLT oriundos das universidades estaduais paulistas. Depois, compararam a diferença da produtividade dessas pessoas com a de cerca de outros 13 milhões de profissionais com nível universitário, mas formados em outras universidades (públicas e privadas).

Em termos gerais, o diferencial bruto de produtividade foi 62% maior para os graduados nas universidades estaduais paulistas. Quando os pesquisadores excluíram variáveis como gênero, idade e qualidade do emprego obtido (setor de atividade, tempo de emprego, unidade da federação e ocupação específica) esse percentual foi para 24% (diferencial líquido), tanto nos setores públicos como no privado. Considerando apenas o setor privado, o diferencial líquido é ainda maior: 30%.

Orçamento USP, Unesp e Unicamp versus diferencial de produtividade de 62%

MÉDIA SALARIAL

Profissional graduado na USP, Unesp e Unicamp:

R$ 5.585,01

Profissional formado em outras universidades:

R$ 3.447,54

Diferença = R$2.137,47 (62%)

R$2.137,47 x 13¹ = R$27.787,17 por profissional/ano

R$27.787,17 x 40² = R$1.111.486,80

R$1.111.486,80 x 16.431³ – 2% a.a4 = R$12.573.111.231,96 (retorno bruto)

Esse retorno bruto é 14,5% maior que o orçamento de USP, Unesp e Unicamp para 20018, no valor de R$10.983.827.104,00

Notas:

13¹ número de pagamentos anuais

40² número de anos prováveis de duração da carreira

16.431³  graduados USP, Unesp e Unicamp de 20181

2% a.a4 A taxa de 2% ao ano é comumente usada em estudos desse tipo, que trabalham com valores de longo prazo – neste caso, quatro décadas de vida profissional. “O que acontece no futuro vale menos nas relações presentes. É uma espécie de pedágio que se paga por esperar esses 40 anos de retorno”, diz Azzone.

Obs.: Dados da RAIS de 2018, levando em conta a média dos valores

Orçamento USP, Unesp e Unicamp versus diferencial de produtividade de 24% para mestres e doutores

OUTRAS UNIVERSIDADES

Mestre por outras universidades

R$ 4.222,26

Doutor por outras universidades

R$ 6.752,96

USP, UNESP E UNICAMP

Mestrando USP, Unesp e Unicamp

R$ 5.235,6

Doutorando USP, Unesp e Unicamp

R$ 8.373,67

Diferença (24%) = R$ 1.013,34 (mestrando) R$ 1.620,71 (doutorando)

R$ 1.013,34 x 13¹ = R$ 13.173,45 por ano para mestres

R$ 1.620,71 x 13¹ = R$ 21,069,23 por ano para doutores

R$ 13.173,45 por mestre/ano x 7104² = R$ 93.584.188,8

R$ 21.069,23 por doutor/ano x 5.231³ = R$ 110.213.142,13

R$ 93.584.188,804 x 356 = R$ 3.275.446.608 – 2% ao ano7
+
R$ 110.213.142,135 x 356 = R$ 3.857.459.974,55 – 2% ao ano7
=  R$ R$ 4.062.138.292,79

R$ 4.062.138.292,79 representa 37% do valor presente no orçamento das
três universidades estaduais paulistas de R$10.983.827.104,00

Notas:

131  número de pagamentos anuais

71042  mestres titulados na USP em 2018

5.2313 doutores titulados na USP em 2018

R$ 93.584.188,804 produtividade anual de todos os mestres

R$ 110.213.142,135 produtividade anual de todos os doutores

356 anos de duração total da carreira, excluindo os investidos na pós-graduação

2% ao ano7 A taxa de 2% ao ano é comumente usada em estudos desse tipo, que trabalham com valores de longo prazo – neste caso, quatro décadas de vida profissional. “O que acontece no futuro vale menos nas relações presentes. É uma espécie de pedágio que se paga por esperar esses 40 anos de retorno”, diz Azzone.

Obs.: Dados da RAIS de 2018, levando em conta a média dos valores, dados aproximados


Os pesquisadores também fizeram os cálculos para o diferencial de produtividade de 24% para a graduação. E chegaram ao valor de R$ 4.887.084.187,19, que representa 44,5% do orçamento das três estaduais paulistas em 2018.

Ao interpretar esses dados, Azzoni atenta para o chamado viés de seleção: o fato de os melhores alunos do ensino médio normalmente irem estudar nas três universidades estaduais paulistas. “Como eles entram melhores, eles saem melhores”, diz o professor ao Jornal da USP. “Tanto isso como o fato dos nossos egressos acharem os melhores empregos ajuda a explicar porque eles ganham mais. Mas esse prestígio também é fruto da universidade. Ela traz os melhores alunos, os empregadores alocam os melhores empregos para os nossos egressos por causa da qualidade, do prestigio dessas instituições. Tirar isso da conta diminui o efeito dessas universidades, mas não faz sentido porque parte do efeito é o prestígio”, completa.

42 mil egressos fora da Rais

Azzoni lembra que foram cerca de 180 mil formandos na graduação das três universidades estaduais paulistas entre 2005 e 2015. Mas os pesquisadores não encontraram na Rais o CPF de 42 mil deles. Isso leva a um questionamento: onde estarão esses profissionais?

É possível que grande parte desses egressos tenham se tornado profissionais autônomos ou empreendedores. “Minha intuição diz que, se a produtividade do profissional formado na USP, na Unesp e na Unicamp é maior, é muito provável imaginar que a taxa de sucesso de um egresso que atue como empresário seja também maior, mas não podemos afirmar, visto que isso não foi medido neste trabalho”, pondera o pesquisador, que aponta a dificuldade para mensurar isso. Seria preciso verificar na Receita Federal se o CPF dessas pessoas está associado ou não a alguma empresa como sócio. Porém, não estariam disponíveis dados mais detalhados, como: a empresa faliu ou tem sucesso? quantos empregados tem? qual a área de atuação? A informação disponível seria sobre o CNPJ, de modo geral, mas não se saberia detalhes sobre esse CNPJ.

Unicórnios

A intuição do professor parece estar no caminho certo. Pelo menos em relação à USP, no que se refere aos chamados “unicórnios”, as startups avaliadas em 1 bilhão de dólares ou mais.

A reportagem USP formou 10 dos 16 fundadores de ‘unicórnios’ do Brasil, publicada em maio de 2019 pelo Jornal da USP, cita que naquele mesmo ano, “Em fevereiro, um levantamento da plataforma Distrito em parceria com a KPMG, apontou que o País contava com seis empresas unicórnios estabelecidas: 99, Nubank, iFood, Gympass, Stone Pagamentos e Arco Educação. Quatro delas têm entre seus fundadores pessoas formadas na USP. O texto aponta ainda que “10 das 16 pessoas que fundaram estes unicórnios se formaram na USP”.

USP formou 10 dos 16 fundadores de ‘unicórnios’ do Brasil

A matéria destaca ainda que por “dois anos consecutivos, 2016 e 2017, a USP foi considerada a universidade mais empreendedora do Brasil. Disciplinas e cursos na área, empresas juniores, bolsas para estruturar novos negócios, maratonas de programação e incubadoras de empresas são alguns exemplos de como a instituição estimula sua comunidade a criar e desenvolver ideias inovadoras. Tudo isso envolto em um ambiente de pesquisa, no qual cientistas estão constantemente buscando soluções – de cada dez trabalhos científicos produzidos no Brasil, dois têm pelo menos um pesquisador da USP entre os autores.”

Mais informações: e-mail cazzoni@usp.br, com o professor Carlos Roberto Azzoni


A pesquisa:

Entre 2005 e 2015 USP, Unesp e Unicamp formaram 180 mil alunos na graduação

Na RAIS 2018: busca dos CPFs desses egressos para obter dados de emprego e renda. Desses 180 mil, encontraram 138 mil profissionais empregados via CLT.

RAIS (Relação Anual de Informações Sociais): banco de dados do Ministério da Economia onde o empregador cadastra informações de seus empregados (características individuais, regionais, tipo de contrato, empresa onde trabalha, etc.)

A produtividade desses 138 mil foi comparada com a dos cerca de 13 milhões de profissionais graduados em outras universidades

Resultados:

crescimento

Profissionais formados na USP, Unesp e Unicamp têm produtividade 62 % maior (diferencial bruto)

→ Ao excluir variáveis como gênero, idade, qualidade do emprego, unidade de federação, etc, a produtividade é 24 % maior (diferencial líquido)

Isso significa que duas pessoas com o mesmo nível universitário, idade, gênero, ocupação, trabalhando no mesmo estado e setor de atividade terão níveis de produtividade distintos: para a formada na USP, Unesp ou Unicamp, será 24% maior

→ Esse diferencial de produtividade foi comparado com o investimento que a sociedade faz para a manutenção da USP, Unesp e Unicamp

→ Segundo a pesquisa, somente o ensino da graduação, sozinho, já é capaz de devolver à sociedade esse investimento, a longo prazo, por meio da produtividade maior dos profissionais formados nessas instituições

Fonte: Núcleo de Economia Regional e Urbana  (NEREUS) da USP

Por Valéria Dias – Jornal da USP

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