Artigo: Uma nova USP, inclusiva e diversa

Edmund Chada Baracat, pró-reitor de Graduação, e Gerson Yukio Tomanari, superintendente de Assistência Social

Edmund Chada Baracat, pró-reitor de Graduação da USP – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Concluídas as matrículas dos ingressantes do ano letivo de 2021 na Universidade de São Paulo, chegou-se também ao final do processo de implantação da política de representatividade étnica e social em todos os seus cursos de graduação, atendendo ao estabelecido, em 2017, pelo Conselho Universitário. Foram matriculados 51,7% dos estudantes (5.678) oriundos do ensino médio de escolas públicas e, desses, 37,5% autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPI). É um momento de inflexão na história da maior universidade de pesquisa do País.

Uma mudança deste porte foi possível por estar fundamentada em um planejamento estratégico preciso, que avançou de maneira gradual e determinada, superando os desafios e as divergências com o diálogo permanente. Hoje, pode-se afirmar que a diversidade tornou a USP academicamente mais forte, mais respeitada e mais próxima da sociedade.

O processo superou desafios. Um deles consistia na suposição de que as ações afirmativas levariam ao ingresso de estudantes com baixo desempenho acadêmico. Levantamento realizado pela Pró-Reitoria de Graduação desconstruiu esse pressuposto ao revelar que, logo após o primeiro semestre na Universidade, ocorre equilíbrio entre as notas médias dos ingressantes. O cotidiano da sala de aula comprovou este fato e foi mais longe. Os benefícios da inclusão e da diversidade promoveram, em parte do alunado, a reflexão necessária frente às questões até então distantes da realidade social em que vivem.

Também pesquisadores têm se dedicado a acompanhar o desempenho acadêmico dos estudantes oriundos das escolas públicas do Estado de São Paulo. Em uma dessas análises, faz-se a comparação das médias dos alunos que participaram da Competição USP de Conhecimentos (CUCo), dedicada exclusivamente a esse público, com os demais estudantes da mesma turma.

Os resultados, por um lado, têm comprovado que os alunos, de modo geral, e os da CUCo, em particular, apresentam, de fato, maior dificuldade para as áreas das Ciências Exatas. Considerados os ingressantes de 2018, no primeiro semestre letivo, as notas médias nesta área dos estudantes da CUCo foram 5,0 contra os 5,7 dos demais estudantes. Por outro lado, os resultados desmontam velhas crenças, pois as notas dos estudantes da CUCo foram mais elevadas tanto nas áreas das Ciências Humanas (7,4 vs. 7,0) quanto nas das Ciências Biológicas (7,4 vs. 7,1). E, ainda, na medida em que o curso avança, ao final do segundo semestre, as diferenças desaparecem.

Esses dados revelam que é preciso compreender de uma vez por todas que oferecer a oportunidade de acesso ao ensino superior em uma universidade de pesquisa é enriquecer socialmente o ambiente universitário. A reputação acadêmica da USP cresceu progressivamente ao longo do processo de inclusão, sem perder a qualidade na formação de seus estudantes de graduação.

Gerson Yukio Tomanari -Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Outro importante desafio à implantação das ações afirmativas invocava a capacidade de a USP não apenas promover o acesso, mas, sobretudo, possibilitar a permanência dos estudantes na Universidade. A esse respeito, o Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE) atende especificamente aos estudantes com dificuldades socioeconômicas, concedendo auxílios moradia, transporte/manutenção, alimentação e livros. Além disso, a USP oferece a toda a comunidade estudantil bolsas acadêmicas de estudo, serviços de atenção à saúde física e psicológica, apoio às atividades físicas, orientação para a carreira, ensino de línguas estrangeiras, entre outras modalidades de acolhimento.

Ao longo dos últimos quatro anos, a USP aumentou, acentuada e progressivamente, o número de estudantes beneficiados pelo PAPFE, atendendo, assim, às demandas resultantes da política de inclusão social. Em 2017, por exemplo, 4.872 estudantes receberam auxílio-moradia. Em 2021, esse número dobrou e, hoje, são mais de 10.000 estudantes apoiados. Em termos financeiros, os recursos destinados a esse benefício passaram de R$ 24 milhões, no ano de 2017, para R$ 60 milhões, em 2021. Assim, com planejamento e investimento, não se observou aumento na evasão da USP.

Preservando o mérito como requisito ao acesso aos mais de 180 cursos de graduação, as ações afirmativas implantadas pela USP proporcionaram condições para que os estudantes oriundos de contextos étnicos e sociais desiguais disputassem as vagas entre si. Os efeitos foram o aumento da diversidade, que constrói e fortalece uma nova USP, engrandecendo-se e preparando-se para o futuro com maior responsabilidade social. Beneficia-se a sociedade como um todo, que vê reduzir o ciclo vicioso da inadmissível desigualdade socioeconômica que acomete o País.

Por Jornal da USP

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