O Brasil de braços abertos para a Matemática

Encontro internacional no Rio de Janeiro reúne pesquisadores de todo o mundo e entrega Medalha Fields a quatro matemáticos notáveis

Os quatro matemáticos vencedores da Medalha Fields, da esquerda para direita: Akshay Venkatesh, Peter Scholze, Alessi Fegalli, Caucher Birkar – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O mais importante encontro mundial de matemáticos começou nesta quarta-feira, 1º de agosto, no Rio de Janeiro. Serão nove dias com 1.200 palestras, 574 sessões temáticas, 483 exibições de pôsteres e seis premiações. Os números impressionam até os pesquisadores da área.
Professores, estudantes de graduação, pós-graduação, pós-doutorandos e ex-alunos da USP estão entre os 2.500 pesquisadores dos cinco continentes que participarão do evento. O encontro integra oBiênio da Matemática do Brasil e faz parte das ações destinadas, entre outros objetivos, a incentivar o estudo da disciplina, popularizá-la e promover atividades que contribuam para aproximá-la do público.
“No nosso dia a dia, na nossa cultura, na nossa comunicação de massa, a Matemática não aparece. Só a escola ensina Matemática e, muitas vezes, fracassa nisso porque as ideias são um pouco abstrata e podem parecer sem sentido para a criança. Mas quando ela começa a ter o contato em casa, na comunicação, essa familiaridade vai surgindo. Não ter a Matemática nas nossas vidas afeta o aprendizado escolar e até no gosto (ou falta de) pela Matemática”, disse Marcelo Viana, presidente do comitê organizador do encontro e diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).
Viana destaca que a iniciativa de realizar o evento no Brasil é uma oportunidade de mostrar que a Matemática não se restringe a fazer contas, mas é uma ciência que permeia a vida de todos nós e nos ajuda a entender coisas que não entenderíamos de outro modo, além de ser uma forma de diversão e entretenimento.
“Se nós não fizermos essa popularização ninguém mais vai fazer. Ou pior ainda: outras pessoas não habilitadas vão fazer. Para termos um efeito de grande escala, também precisamos aprender a comunicar. Uma das dificuldades para nós, cientistas, é que somos treinados para falar uma linguagem técnica e não com o público”, destaca o diretor-geral.
Medalha Fields

A medalha Fields traz na frente (esq.) a efígie de Arquimedes e seu nome em grego. No verso (dir.), há a frase em latim “Matemáticos de todo o mundo reunidos prestam homenagem por obras notáveis” – Fotos: Stefan Zachow / IMU / Domínio público via Wikimedia Commons
No encontro mundial, são reconhecidos os matemáticos mais notáveis e promissores do planeta por meio de diversos prêmios, entre eles está a honraria máxima da área, a Medalha Fields – informalmente chamada de o “Nobel da Matemática”.
Os vencedores foram anunciados na quarta-feira: Caucher Birkar (Irã), Alessi Fegalli (Itália), Peter Scholze (Alemanha) e Akshay Venkatesh (Índia). Entregue pela primeira vez em 1936, a láurea é um reconhecimento a trabalhos de excelência e um estímulo a novas realizações.
Idealizada pelo matemático canadense John Charles Fields para celebrar os grandes feitos na área, a medalha já foi conquistada por 56 estudiosos das mais diversas nacionalidades, entre os quais Artur Avila, pesquisador do Impa, agraciado em 2014, na Coreia do Sul.
Os vencedores da Medalha Fields são selecionados por um comitê de especialistas, nomeados pela União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês), a organização supranacional patrocinadora dos Congressos Internacionais de Matematemáticos (ICMs, sigla em inglês). A cada quatro anos, são escolhidos até quatro pesquisadores com, no máximo, 40 anos de idade. Além da medalha, há um prêmio em dinheiro no valor de 15 mil dólares canadenses.
Nunca antes realizado no Hemisfério Sul, o encontro surgiu em 1897, em Zurique, na Suíça. A cada quatro anos, o evento é organizado pelo país-sede em parceria com a União Matemática Internacional e só foi suspenso no período dos conflitos mundiais.
No Brasil, o encontro também agregará a cerimônia de premiação dos 576 medalhistas de ouro da maior competição científica do País, a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Organizada desde 2005 pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada, com apoio da Sociedade Brasileira de Matemática, a competição reúne 18,2 milhões de estudantes das redes públicas e privada.
Muitos desses medalhistas se tornam, posteriormente, alunos dos cursos de matemática da USP que, hoje, são oferecidos em três campi da Universidade: em São Paulo, São Carlos e Ribeirão Preto.
Denise Casatti, especial para o Jornal da USP
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