“Revista USP” discute a vida escolar no Brasil

Publicação traz dossiê com oito artigos que avaliam educação e processos de aprendizagem nas instituições de ensino

A nova edição da Revista USP – publicação trimestral da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP – acaba de ser lançada. Em seu número 137, ela traz o dossiê Vida Escolar, que analisa práticas, formas de convivência e o aprendizado no espaço das escolas. Ao longo de oito artigos, os autores propõem “reflexões ainda necessárias sobre as possíveis compreensões do que a escola faz”, escrevem as professoras Denice Barbara Catani, Vivian Batista da Silva e Renata Marcílio Cândido na apresentação do dossiê.

A vivência escolar da vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2022 é analisada por Denice Catani em Annie Ernaux e a Educação: Ficção, Autobiografia e Compreensão Sociológica. Ernaux pensa espaços sociais a partir da sua educação e relembra histórias de sua formação em suas obras. Denice parte de duas delas, O Lugar e A Vergonha, para entender o papel formador da literatura e as interfaces entre ela e a educação.

Em Fora do Lugar: Por Uma Compreensão do Sofrimento na Escola, Vivian Batista Silva reflete sobre relações de poder. A autora recupera as memórias do intelectual árabe Edward Said, que teve experiências de exclusão e desconforto no cotidiano escolar. Vivian se apoia no relato de Said para explorar as interações entre estudantes e professores e como diferenças culturais e de classe foram vividas por ele.

Renata Marcílio Cândido se aprofunda na cultura específica da vida institucional dos alunos e professores, como uniformes e festas escolares, em Entre Objetos, Práticas e Instituições: Aprendizados sobre a Vida e a Cultura Escolar. As próprias memórias de formação da autora são mobilizadas ao longo do artigo para auxiliar no exame dos elementos e características escolares.

Crianças durante o recreio na escola – Imagem: Revista USP

Depoimentos de alunos do ensino médio sobre literatura e as elaborações teórico-metodológicas do sociólogo Bernard Lahire guiam Patrícia Aparecida do Amparo em Tornar Visível o Invisível: a Aprendizagem Escolar da Leitura como Um Problema de Percepção e de Esquecimento. O artigo busca compreender como os estudantes entendem o que é a aprendizagem e qual é o valor simbólico que a escolarização atribui a si a partir das experiências deles.

Relações criativas, interações com o mundo e brincadeiras na escola são o tema de Ana Laura Godinho de Lima em Sobre o Que Versa a Vida na Escola? Considerações sobre as Experiências Culturais a Partir de Winnicott. As teorias do pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott são utilizadas pela autora para entender como experiências culturais ocorrem na sala de aula e o papel do professor como iniciador delas.

Juliana de Souza Silva segue a trajetória acadêmica do patrono da sociologia brasileira em Florestan Fernandes: Entre o Autodidatismo e o Segundo Nascimento. A autora explora “os modos de ensinar e de aprender praticados na universidade” a partir de diferentes momentos e de dificuldades enfrentadas por Florestan durante a vida escolar e acadêmica, iniciada em 1941, quando ingressou no curso de Ciências Sociais da USP.

A moralização em instituições de ensino é o objeto de Conduzir e Conformar: o Que a Escola Faz ao Instituir Práticas de Moralização? Pensar a Educação Moral no Brasil com Émile Durkheim, de Katiene Nogueira da Silva. O artigo acompanha a literatura pedagógica de diferentes momentos no País e reflete sobre os valores aos quais a moralização esteve atrelada e as diversas instituições responsáveis por ela.

No último artigo do dossiê, A Educação no Pensamento Conservador-Autoritário Brasileiro das Primeiras Décadas do Século XX: Um Exame do “Intérprete do Brasil” Alberto Torres, de Roni Menezes, é analisada a concepção educacional do jornalista e político Alberto Torres (1865-1917), bem como seus projetos de Estado e nação.

Capa da Revista USP, número 137, que acaba de ser lançada – Foto: Reprodução

Outros dois textos complementam a nova edição da Revista USPMachado de Assis e a Quimera da Originalidade, de Cleber Vinicius do Amaral Felipe e Jean Pierre Chauvin, destrincha a “mediocridade” e a “falta de autenticidade” com que, segundo os dois autores, o escritor carioca reveste seus personagens, enquanto Crônica: a Tradução do Cotidiano pelo Ponto de Vista de Cronistas, de José Alcides Ribeiro, José Ferreira Junior e Lucilinda Teixeira, apresenta o processo de criação de cronistas.

A seção Arte é dedicada às contribuições arquitetônicas da Semana de Arte Moderna, tema de artigo de Hugo Segawa. As resenhas dos livros Introdução à Filosofia da Educação, de Marcos Sidnei Pagotto-Euzebio e Rogério de Almeida, Em Busca do Paraíso perdido: as Utopias Medievais, de Hilário Franco Júnior, e O Sagrado e o Impuro no Judaísmo: Lei, Comida e Identidade, de Marta Francisca, finalizam a edição.

Texto: Rebeca Fonseca (estagiária) sob supervisão de Roberto C. G. Castro
Arte: Carolina Borin Garcia (estagiária) sob supervisão de Simone Gomes

Jornal da USP

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