Material educomunicativo foi desenvolvido por aluna de mestrado da USP; vídeos discutem recursos hídricos a partir da pedagogia visual e de interação surdo-ouvinte
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Projeto de mestrado insere comunidade surda em processo de educação ambiental – Foto: reprodução/Youtube
Mudanças climáticas, aquecimento global, sustentabilidade do planeta. As questões ambientais enfrentam muitos desafios, entre eles a falta de consciência e de informação. Durante sua Conferência Mundial Virtual, em 2021, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) fez um apelo para que a educação para o desenvolvimento sustentável se torne um componente central de todos os sistemas educacionais até 2025. Mas esta ainda não é a realidade de muitos países, em especial de determinados grupos de pessoas, como é o caso da comunidade surda do Brasil.
Uma aluna de mestrado da USP identificou que sobravam materiais para professores e intérpretes da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), mas faltavam iniciativas de acesso à educação e à tomada de decisão voltadas aos próprios surdos. Pensando na autonomia e no letramento científico deste grupo, Tabita Teixeira criou um material educomunicativo para ensinar o tema da água a pessoas surdas.
O projeto foi desenvolvido no Mestrado Profissional em Ensino das Ciências Ambientais, oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em Rede Nacional para Ensino das Ciências Ambientais (PROFCIAMB), por meio da associada da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.
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Tabita Teixeira, mestranda em Ciências pela USP de São Carlos – Foto: reprodução/Facebook
Ao todo, foram produzidos seis vídeos abordando as temáticas água, bacia hidrográfica, mata ciliar, água virtual, contaminação das águas e gestão compartilhada das águas, que estão disponíveis no canal da Associação de Surdos de Jaú e Região (Asja). “A ideia do material é que ele possa ser utilizado em todos os ensinos, sejam eles formais, não formais ou informais, e por qualquer faixa etária a partir dos 10 anos, para que as pessoas possam entender alguns conceitos mais complexos”, explica Tabita.
A aluna, que é ouvinte, teve a ideia de criar um produto educacional voltado ao ensino de surdos ao desenvolver um projeto de educação ambiental com os participantes da Asja e perceber as dificuldades que eles enfrentam para serem integrados e socializados nas escolas. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, a educação de pessoas com deficiência deve ocorrer de preferência na rede regular, com apoio especializado para atender às suas necessidades.
Além disso, a Libras deveria ser introduzida como primeira língua no caso dos surdos, mas nem sempre isso ocorre. “É cultural. Pais surdos passam para os filhos o uso da Libras; pais ouvintes não estão nessa cultura e muitas vezes tentam “consertá-los”, mas a cultura surda não entende a surdez como uma deficiência e sim como outra forma de comunicação”, esclarece Tabita, que ainda relata a ausência de profissionais capazes de lidar com esses alunos nas escolas.
Produção colaborativa
A produção dos vídeos foi possível devido à colaboração de diversas pessoas, em diferentes âmbitos. Tabita escreveu os roteiros em português; a docente Fernanda da Rocha Brando Fernandez, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do campus de Ribeirão Preto (FFCLRP), que orientou o mestrado, revisou o texto; e a professora Mariana Didone, que é surda e trabalha como intérprete na cidade de Dois Córregos, aceitou traduzir em Libras e gravar os vídeos de maneira voluntária.
No final de 2020, o material educomunicativo para ensino de surdos foi contemplado pelo Projeto Salas Verdes, do Ministério do Meio Ambiente, que visa a incentivar a implantação de espaços socioambientais para atuarem como centros de informação e formação ambiental. A iniciativa seleciona vídeos da área ambiental enviados por profissionais de todo o Brasil, que são gravados em CDs e distribuídos para Salas Verdes de todo o País.
A pesquisa de mestrado, que deu origem aos vídeos em Libras, pode ser acessada neste link. Confira os demais vídeos produzidos:
Por Jornal da USP – Com informações de Paula Penedo (assessora de comunicação do PROFCIAMB)