O que o “Questionário de Inclusão e Pertencimento da USP” descobriu sobre sua comunidade

Inspirado nas pesquisas de percepção e experiências em ambientes acadêmicos, o Questionário de Inclusão e Pertencimento da USP terá os primeiros resultados divulgados em exposição interativa e simultânea, nesta quarta-feira

  • 13.795 pessoas responderam ao questionário criado pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da USP, entre os meses de agosto e setembro de 2022
  • Entre estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, docentes e servidores técnico-administrativos, o perfil racial predominante é branco
  • A orientação sexual predominante é heterossexual e a identidade de gênero com mais respostas foi de mulheres cisgênero 
  • 52% dos primeiros responsáveis por estudantes de graduação não concluíram o ensino superior

Pesquisa inédita na USP procurou traçar um perfil da comunidade, baseando-se não apenas em números e dados, mas no sentimento e nas experiências de estudantes, pesquisadores, professores e funcionários. O Questionário PRIP: Inclusão e Pertencimento na USP recebeu respostas da comunidade universitária entre agosto e setembro do ano passado.

Ana Lucia Duarte Lanna – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Os dados da pesquisa serão apresentados na Exposição Inclusão e Pertencimento na USP, cuja inauguração acontece na quarta-feira, 26, às 14 horas, no Salão Caramelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. O evento será transmitido pelo canal do Youtube da PRIP, mas também acontece simultaneamente em outros sete campi da USP: Santos, Pirassununga, Lorena, Ribeirão Preto, Bauru, São Carlos e Quadrilátero da Saúde-Direito.

“O envolvimento da comunidade uspiana com o questionário foi impressionante, milhares de respostas, com comentários e reflexões sobre a vida na Universidade. Os resultados nos possibilitam compreender, por exemplo, as expectativas sobre as diversas carreiras na USP”, comenta a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lanna. Ela explica que a exposição coincide com o aniversário de um ano da Pró-Reitoria. “Saber mais sobre como a comunidade uspiana compreende sua presença na instituição é essencial para que possamos ampliar e qualificar as condições de permanência e pertencimento”, afirma.

A exposição terá áreas de interatividade, em que o público poderá escrever suas impressões e descrever sua experiência no ambiente acadêmico, semelhantemente ao que foi perguntado no questionário. As pessoas terão a oportunidade de deixar registradas, durante a visita à mostra, as palavras que melhor traduzem sua vivência na Universidade, utilizando materiais como canetas e adesivos coloridos.

“Elitista” e “Excelência” estão entre as palavras que melhor definem a Universidade, segundo a comunidade da USP para o questionário da PRIP. A maioria definiu o ambiente como “Respeitoso” (70%) – Imagem: Jornal da USP

Quem somos?

  • 5,2% de servidores, 5,9% de docentes e 3% de estudantes de graduação relataram ter deficiência visual total ou parcial
  • 3,5% de servidores, 3,2% de docentes e 0,9% de estudantes de graduação relataram ter deficiência auditiva total ou parcial
  • 0,4% de servidores, 1,2% de docentes e 2,6% de estudantes de graduação relataram estar no espectro autista

O grupo com maior representação de diversidade é o de estudantes da graduação, com 32% de alunos negros e 39% LGBTQIAP+ – Fonte: PRIP – Infográfico: Jornal da USP

Seguindo a estrutura de divisão de diretorias da própria Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), a pesquisa se dividiu em seis grandes temas: experiências acadêmicas e profissionais, experiências pessoais, perfil sociodemográfico, saúde mental e neurodiversidades, inserção institucional, inclusão e pertencimento.

Cibele Russo – Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Cibele Russo, diretora da área de Formação e Vida Profissional da PRIP, o questionário deverá ser aplicado a cada dois anos e terá análises divulgadas periodicamente. “Todo o questionário é sobre como a comunidade se sente, se as pessoas se consideram pertencentes. Inclusive ele dá conta de atividades extracurriculares e de integração”, lembra a doutora em estatística pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP e que atua como professora e pesquisadora em Estatística e Ciência de Dados no Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC) da USP em São Carlos. Cibele é uma das pesquisadoras responsáveis pelo questionário “complexo, com várias dimensões e vários grupos de resposta”, descreve ela. Atualmente, a professora e sua equipe estão trabalhando no cruzamento de dados para entender “quem respondeu o quê”, qualificando os dados e buscando associações entre as diversas avaliações no questionário.

As análises divulgadas na exposição contêm cálculos de plano amostral por unidade e por categoria, para que os resultados representem a comunidade como um todo. Vale ressaltar que, de acordo com os dados oficiais do Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico (Egida), no ano passado a comunidade USP contava com cerca de 108.605 pessoas, entre servidores docentes, servidores técnico-administrativos, alunos matriculados na graduação e pós-graduação.

Cibele lembra que nos dados oficiais da USP a quantidade de negros está subestimada, já que, para se declarar como preto, pardo ou mesmo amarelo, é necessário expressar o quesito raça/cor à parte. Atualmente, o padrão atribuído quando não há a autodeclaração é branco. No questionário da PRIP, a autodeclaração não tem um “default”, ou seja, não há um padrão predeterminado. “Este tipo de abordagem pode estimular também uma reformulação na coleta de dados na Universidade”, destaca.

O grupo mais insatisfeito com a experiência profissional e acadêmica são os servidores técnico-administrativos (51%), seguidos dos estudantes de graduação (26%), docentes (25%), estudantes de pós-graduação (15%) e pós-doutorandos (10%).

O grupo mais confortável com o ambiente foi o de pós-docs. Os pesquisadores foram os que responderam mais positivamente à pesquisa. “Há uma valorização natural da pesquisa na Universidade, isso se reflete nos ambientes de pesquisa”, destaca Cibele. No questionário, docentes demonstraram que a atividade de pesquisa é a mais valorizada; em segundo lugar a gestão e só em terceiro a docência, sendo as ações de extensão universitária a atividade menos reconhecida.

Entre os dados obtidos pelo Jornal da USP, apenas 8,4% dos docentes se declaram negros. Os números corroboram o debate sobre a implantação da reserva de vagas nos concursos para docente na Universidade. Em seminário promovido pela Faculdade de Direito da USP em Ribeirão Preto, participantes apresentaram propostas concretas em favor da superação do racismo que caracteriza a composição do corpo docente da Universidade. A própria faculdade que sediou o encontro não conta com nenhum professor autodeclarado preto, pardo ou indígena.

“Estudantes reconhecem a potência de seus processos de formação, servidores indicam a centralidade de construção de carreiras compatíveis com suas atribuições e docentes qualificam de forma plural suas diferentes atividades. Essa diversidade de perspectivas é parte dos desafios que integram a elaboração de projetos que tenham como resultado comum o pertencimento e envolvimento com a Universidade”, reconhece a pró-reitora.

Para a responsável pelo questionário, quando os ambientes são mais amigáveis, a performance dos estudantes é favorecida. “Como a USP pode investir para melhorar os ambientes e potencializar o desempenho de funcionários e estudantes? A partir dos resultados de pesquisas como essa, a Universidade poderá propor políticas para melhorar a experiência acadêmica, profissional e interpessoal na USP”, completa.

Exposição Inclusão e Pertencimento na USP

Abertura: 26/4, 14 horas
Transmissão ao vivo no Canal da PRIP no Youtube

Presencialmente na Cidade Universitária (FAU) e nos campi Santos, Pirassununga, Lorena, Ribeirão Preto, Bauru, São Carlos e Quadrilátero da Saúde-Direito

 

Texto: Tabita Said
Arte: Carolina Borin e Joyce Tenório

Por Jornal da USP

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