Inspirado nas pesquisas de percepção e experiências em ambientes acadêmicos, o Questionário de Inclusão e Pertencimento da USP terá os primeiros resultados divulgados em exposição interativa e simultânea, nesta quarta-feira
O grupo com maior representação de diversidade é o de estudantes da graduação, com 32% de alunos negros e 39% LGBTQIAP+ – Fonte: PRIP – Infográfico: Jornal da USP
Seguindo a estrutura de divisão de diretorias da própria Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), a pesquisa se dividiu em seis grandes temas: experiências acadêmicas e profissionais, experiências pessoais, perfil sociodemográfico, saúde mental e neurodiversidades, inserção institucional, inclusão e pertencimento.
De acordo com Cibele Russo, diretora da área de Formação e Vida Profissional da PRIP, o questionário deverá ser aplicado a cada dois anos e terá análises divulgadas periodicamente. “Todo o questionário é sobre como a comunidade se sente, se as pessoas se consideram pertencentes. Inclusive ele dá conta de atividades extracurriculares e de integração”, lembra a doutora em estatística pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP e que atua como professora e pesquisadora em Estatística e Ciência de Dados no Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC) da USP em São Carlos. Cibele é uma das pesquisadoras responsáveis pelo questionário “complexo, com várias dimensões e vários grupos de resposta”, descreve ela. Atualmente, a professora e sua equipe estão trabalhando no cruzamento de dados para entender “quem respondeu o quê”, qualificando os dados e buscando associações entre as diversas avaliações no questionário.
As análises divulgadas na exposição contêm cálculos de plano amostral por unidade e por categoria, para que os resultados representem a comunidade como um todo. Vale ressaltar que, de acordo com os dados oficiais do Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico (Egida), no ano passado a comunidade USP contava com cerca de 108.605 pessoas, entre servidores docentes, servidores técnico-administrativos, alunos matriculados na graduação e pós-graduação.
Cibele lembra que nos dados oficiais da USP a quantidade de negros está subestimada, já que, para se declarar como preto, pardo ou mesmo amarelo, é necessário expressar o quesito raça/cor à parte. Atualmente, o padrão atribuído quando não há a autodeclaração é branco. No questionário da PRIP, a autodeclaração não tem um “default”, ou seja, não há um padrão predeterminado. “Este tipo de abordagem pode estimular também uma reformulação na coleta de dados na Universidade”, destaca.
O grupo mais insatisfeito com a experiência profissional e acadêmica são os servidores técnico-administrativos (51%), seguidos dos estudantes de graduação (26%), docentes (25%), estudantes de pós-graduação (15%) e pós-doutorandos (10%).
O grupo mais confortável com o ambiente foi o de pós-docs. Os pesquisadores foram os que responderam mais positivamente à pesquisa. “Há uma valorização natural da pesquisa na Universidade, isso se reflete nos ambientes de pesquisa”, destaca Cibele. No questionário, docentes demonstraram que a atividade de pesquisa é a mais valorizada; em segundo lugar a gestão e só em terceiro a docência, sendo as ações de extensão universitária a atividade menos reconhecida.
Entre os dados obtidos pelo Jornal da USP, apenas 8,4% dos docentes se declaram negros. Os números corroboram o debate sobre a implantação da reserva de vagas nos concursos para docente na Universidade. Em seminário promovido pela Faculdade de Direito da USP em Ribeirão Preto, participantes apresentaram propostas concretas em favor da superação do racismo que caracteriza a composição do corpo docente da Universidade. A própria faculdade que sediou o encontro não conta com nenhum professor autodeclarado preto, pardo ou indígena.
“Estudantes reconhecem a potência de seus processos de formação, servidores indicam a centralidade de construção de carreiras compatíveis com suas atribuições e docentes qualificam de forma plural suas diferentes atividades. Essa diversidade de perspectivas é parte dos desafios que integram a elaboração de projetos que tenham como resultado comum o pertencimento e envolvimento com a Universidade”, reconhece a pró-reitora.
Para a responsável pelo questionário, quando os ambientes são mais amigáveis, a performance dos estudantes é favorecida. “Como a USP pode investir para melhorar os ambientes e potencializar o desempenho de funcionários e estudantes? A partir dos resultados de pesquisas como essa, a Universidade poderá propor políticas para melhorar a experiência acadêmica, profissional e interpessoal na USP”, completa.
Exposição Inclusão e Pertencimento na USP
Abertura: 26/4, 14 horas
Transmissão ao vivo no Canal da PRIP no Youtube
Presencialmente na Cidade Universitária (FAU) e nos campi Santos, Pirassununga, Lorena, Ribeirão Preto, Bauru, São Carlos e Quadrilátero da Saúde-Direito
Texto: Tabita Said
Arte: Carolina Borin e Joyce Tenório
Por Jornal da USP