A pesquisa apoiada pela FAPESP concentrou-se em explorar maneiras sustentáveis de aproveitar resíduos agroindustriais, como cascas de romã, cascas de amêndoas e bagaço de sabugueiro, para recuperar compostos fenólicos bioativos. Esses compostos, conhecidos por seus benefícios à saúde, são extraídos utilizando solventes eutéticos naturais profundos (NADES), uma alternativa verde aos solventes convencionais.
“O estudo envolveu o uso de novos solventes, verdes e ambientalmente amigáveis, para a recuperação de moléculas de valor agregado presentes em resíduos agroindustriais de elevada importância econômica. Os solventes desenvolvidos, chamados de NADES (do inglês natural deep eutectic solvents), foram preparados à base de uma das vitaminas do complexo B, o cloreto de colina, e diferentes ácidos orgânicos. Esses solventes então foram aplicados para melhorar e otimizar a extração das moléculas de interesse (fenólicos e antocianinas) da casca da romã, casca da amêndoa, e bagaço de sabugueiro. De forma geral, os solventes desenvolvidos apresentaram resultados melhores de rendimento de extração do que uma solução a base de etanol, um solvente convencional de extração que pode ser tóxico, inflamável e nocivo ao meio ambiente”, detalhou Mirella Romanelli Vicente Bertolo, aluna de doutorado direto no IQSC e orientada do professor Stanislau.
Utilizando metodologias avançadas de superfície de resposta, a equipe de pesquisa, em parceria com pesquisadores da University of California (UC-Davis), otimizou as condições de extração para cada resíduo agroindustrial. Os resultados revelaram que as concentrações de compostos fenólicos bioativos extraídos usando NADES eram significativamente mais altas do que as obtidas com solventes tradicionais. Por exemplo, o estudo descobriu que o teor de punicalagina, um composto fenólico presente na casca de romã, era 87% maior na extração com NADES em comparação com a extração etanólica.
Importância Econômica e Ambiental
Além de oferecer uma nova abordagem para a recuperação de compostos bioativos, o estudo destaca a importância econômica e ambiental de aproveitar resíduos agroindustriais. Ao transformar esses subprodutos em fontes valiosas de compostos benéficos, a pesquisa contribui para a redução do desperdício e para a promoção da sustentabilidade na indústria alimentícia.
Os compostos extraídos podem ser aproveitados em diversos cenários, como para fins terapêuticos, atuando como antioxidantes naturais, antimicrobianos e na substituição de antioxidantes sintéticos da indústria de alimentos – que possuem efeitos toxicológicos. Além disso, essas substâncias também podem ser incorporadas em embalagens de alimentos visando ações contra bactérias e também possuem capacidade antifúngica. O professor Stanislau celebrou o feito da pesquisa estar na capa da ACS Food Science and Technology.
“Ter o artigo como capa de revista, ainda mais de uma revista de uma editora renomada como a ACS, abre um novo horizonte para a divulgação do nosso trabalho, e nos torna mais conhecidos a nível mundial na área em que trabalhamos, a qual, de certa forma, ainda é emergente e tem muito a ser explorado. Nos sentimos muito felizes com a possibilidade de sermos capa e por termos tido nossa arte escolhida como a capa da revista! Isso nos motiva a continuar publicando cada vez mais trabalhos de qualidade que despertem a atenção das editoras e dos leitores, e do mundo científico no geral”, comemorou o docente.
O Futuro da Pesquisa
Os resultados deste estudo abrem caminho para futuras pesquisas na área de aproveitamento de resíduos agroindustriais e desenvolvimento de métodos de extração sustentáveis. Além disso, é importante também lembrar da relação desta pesquisa com os dezessete objetivos de desenvolvimento sustentável da agenda 2030 da ONU que no seu objetivo de número doze contempla o consumo e a produção responsáveis destacando a importância de considerar alternativas ambientalmente amigáveis no processo de produção de compostos bioativos.
“Os próximos passos são continuar investigando esses solventes verdes como meios amigáveis de extração dos compostos de interesse de subprodutos da indústria alimentícia, de forma a atender aos preceitos do consumo e a produção responsáveis, da economia circular e do reaproveitamento de resíduos, respeitando os princípios da Química Verde”, explicou o professor.
Em resumo, o estudo liderado por ele oferece uma visão promissora sobre o potencial de recuperação de compostos bioativos de resíduos agroindustriais. Essa abordagem inovadora não apenas promove a sustentabilidade na indústria alimentícia, mas também abre novas possibilidades para a utilização de subprodutos anteriormente considerados como resíduos.
A pesquisa financiada pela FAPESP refere-se aos projetos 2022/03229-8, 2022/04977-8 e 2019/18748-8.
Por Fabrício Santos e Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação do IQSC/USP
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