Única representante de universidades em oficina da região Sudeste, docente do ICMC compartilhou experiências e reflexões sobre a inserção digital de pessoas 60+
O projeto de Kamila Rios foi o único representante de universidades em meio a 20 iniciativas no evento em São Paulo (Crédito da imagem: Arquivo pessoal)
Levar informação e instrumentalizar idosos para o uso das tecnologias digitais é um compromisso que acompanha a professora Kamila Rios, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, desde o início de sua carreira. Essa dedicação fez com que ela fosse convidada a participar de uma oficina dentro do contexto do projeto Práticas que Conectam: Compartilhando soluções para a inserção digital de pessoas 60+, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A atividade foi realizada no último dia 25 de setembro, na sede da Anatel, em São Paulo.
O evento reuniu representantes de entidades públicas, privadas e do terceiro setor de todo o Brasil, com o objetivo de mapear e compartilhar iniciativas voltadas à inclusão digital de pessoas idosas. As oficinas, promovidas pela Superintendência de Relações com Consumidores (SRC) da Anatel, foram realizadas nas cinco regiões do Brasil — em Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo e Fortaleza, onde o ciclo foi encerrado.
Em meio a um seleto grupo de 20 iniciativas apresentadas no evento, o projeto demonstrado pela professora Kamila foi o único de uma universidade a representar a região Sudeste, um reconhecimento que evidencia a relevância e o alcance do trabalho desenvolvido no ICMC. “Sinto-me muito honrada de ter sido escolhida para estar lá e por representar a universidade pública brasileira. Fiquei feliz, principalmente por ter a iniciativa da qual faço parte desde 2016 lembrada por uma das organizadoras, a gerontóloga Tássia Chiarelli. Ela foi monitora do curso de smartphones para idosos, quando nossa iniciativa estava em parceria com a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP”, conta a docente, em referência a um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e liderado pelas professoras Meire Cachioni, da EACH, e Maria da Graça Pimentel, essa também do ICMC.
O convite para participar do evento na capital paulista surgiu a partir do reconhecimento das ações de extensão que o Instituto desenvolve desde 2015. “Há dez anos, o ICMC oferece cursos de letramento digital para idosos. Fui monitora entre 2016 e 2019 e, desde 2019, sou coordenadora de diversos cursos, como Práticas com smartphones para idosos, Noções Básicas de Fakenews para idosos e Noções Básicas de IA para Idosos”, relata a docente.
Desde 2019, Kamila é coordenadora de várias iniciativas no ICMC voltadas à inserção digital para pessoas 60+ (Crédito da imagem: Arquivo pessoal)
Essas atividades ganharam projeção nacional especialmente durante a pandemia, quando passaram a ser oferecidas de forma remota. O curso de smartphones para idosos, por exemplo, não é conhecido somente na região de São Carlos, mas em todo o Brasil. Outras instituições, de diferentes regiões do país, replicaram o projeto, e há diversas publicações científicas sobre a metodologia construída em parceria com a EACH.
Kamila também destacou a importância das parcerias entre a academia e o setor produtivo para ampliar o alcance social da ciência. Na sua visão, as universidades produzem conhecimento que poderia ser potencializado se houvesse maior integração com o setor produtivo. “Seria rico e importante se essas instituições pudessem agregar mais, por meio de uma troca simbiótica em que nosso segmento estude e produza conhecimento, e a indústria ajude patrocinando tais estudos com bolsas de iniciação científica, por exemplo. Ganharíamos todos”, defende ela, que é presidente da Comissão de Cultura e Extensão (CCEx) do Instituto.
Cidadania digital e extensão universitária – Além de representar o ICMC, a participação de Kamila reforça o compromisso da USP com a promoção da cidadania digital e do envelhecimento ativo. Para ela, esse tipo de envolvimento fortalece o papel social da Universidade em duas dimensões complementares. “Em primeiro lugar, informando e compartilhando com a sociedade o conteúdo e o conhecimento que produzimos na USP e no ICMC — sobretudo em tempos de curricularização da extensão, quando as atividades extensionistas ganham protagonismo. E, finalmente, alertando e reverberando que podemos fazer muito mais, se tivermos a indústria como aliada”, opina a professora.
Ao longo dos anos de atuação nos cursos de letramento digital, Kamila observa que trabalhar com pessoas idosas é uma experiência de aprendizado mútuo. “É um público com muitas demandas e que tem um retorno imediato. São gentis e gratos. É uma troca geracional e, quando aliamos essa troca com a formação de nossos alunos, formamos profissionais mais empáticos e socialmente responsáveis. É uma formação mais cidadã.”
Oficinas promovidas pela Anatel foram realizadas nas cinco regiões do Brasil — em Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo e Fortaleza (Crédito da imagem: Arquivo pessoal)
Com o encerramento do ciclo de eventos, a Anatel e a UNESCO devem elaborar um relatório nacional com diagnósticos e propostas para fortalecer políticas públicas e programas de inclusão digital voltados ao público 60+. A experiência, segundo Kamila, renova o compromisso da USP em contribuir com uma sociedade mais justa e conectada.
Texto: Matheus Martins Fontes, da Fontes Comunicação Científica
Mais informações:
Confira algumas matérias que já saíram sobre os projetos do ICMC desenvolvidos junto aos idosos: https://encurtador.com.br/bN3gb; https://encurtador.com.br/TCsda; https://encurtador.com.br/36AN4
Acesse o site da Comissão de Cultura e Extensão (CCEx) do ICMC: https://icmc.usp.br/cultura-e-extensao/informacoes-gerais-e-servicos
