Estudantes do Bacharelado em Ciências da Computação criam projeto que ensina os principais conceitos da área de forma criativa e acessível em vídeos curtos

O projeto Bits por Minuto reúne perfis em diversas redes: Instagram, TikTok, X e Youtube Shorts (créditos da imagem: Bits por Minuto).
Imagine que você acabou de entrar em um curso de graduação na área de computação, ou que seja uma pessoa curiosa e interessada pelo tema. De repente, se vê cercado por termos técnicos, fórmulas matemáticas e conceitos complexos, por vezes difíceis de acompanhar. Com a intenção de tornar esse processo de aprendizagem mais leve, acessível e até divertido, estudantes do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, criaram o Bits por Minuto, um projeto que transforma conteúdos sobre computação em vídeos curtos e didáticos para as redes sociais.
O Bits por Minuto foi criado e desenvolvido pela dupla de estudantes do Bacharelado em Ciências da Computação (BCC), Eduarda Tuboy e Gustavo Ferreira, sob orientação do professor João Batista. Com a premissa de “ensinar computação em 1 minuto”, o projeto busca apresentar nos vídeos os conteúdos presentes nas grades curriculares dos anos iniciais do curso de Ciências da Computação. Por meio de uma abordagem narrativa, personagens animados e linguagem lúdica, os vídeos traduzem conceitos da computação de forma acessível. Atualmente, o Bits por Minuto está presente no Instagram, no TikTok, no X e no Youtube Shorts.
De um slide interativo ao universo das redes sociais – O Bits por Minuto é, na verdade, a evolução de um projeto pré-existente: o Guia do BCC. Criado pelos próprios estudantes que desenvolvem atualmente a iniciativa, o Guia era apenas um slide interativo feito para ajudar os calouros do curso nos primeiros passos na graduação. A intenção dos veteranos, ao criarem o material, era apresentar aos ingressantes o contexto e a interconexão entre as diversas disciplinas do curso, além de revisar alguns conceitos aprendidos até ali. “A gente fez o Guia do BCC também para memorizar o conteúdo. Computação é uma área de estudo muito extensa, e a gente tinha medo de esquecer o que tínhamos estudado”, explica o estudante Gustavo.
Ao observarem o potencial de expansão do material, os alunos apresentaram a ideia dos vídeos ao professor João Batista, que logo sugeriu a inscrição do projeto no Programa Unificado de Bolsas (PUB) da USP. “Quando eles mostraram a ideia, eu pensei que era uma proposta bem característica para o Programa, que possibilita apresentar projetos voltados à extensão – algo que pode atingir a comunidade externa da USP. E assim nós escrevemos o projeto e foi aceito”, relembra o professor. Por ser uma iniciativa integrada das pró-reitorias da USP, o PUB visa o engajamento de estudantes de graduação em atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Traduzindo a computação – Com a aprovação do projeto, teve início a produção dos vídeos. O primeiro passo foi a seleção dos conteúdos, feita com base nas disciplinas do curso, especialmente aquelas dos dois primeiros anos.

Os vídeos estão organizados em três séries temáticas: eletrônica, lógica digital e computação básica (crédito da imagem: Bits por Minuto).
Segundo Gustavo, essa seleção se baseia também nas dificuldades enfrentadas pelos estudantes quando estavam cursando as disciplinas práticas no início do curso, quando, muitas vezes, não tinham a quem recorrer de forma rápida e facilitada para esclarecer dúvidas. “Nesse começo, os alunos acabam muito dependentes uns dos outros: às vezes, um deles já conhece o conteúdo porque fez algum curso técnico antes ou recorrem aos amigos mais velhos. Começar o curso totalmente em branco, fora de contexto, torna muito difícil fazer algumas coisas. Daí surgiram o Guia do BCC e, posteriormente, o Bits por Minuto para suprir essa falta”, explica.
A estudante Eduarda relata que, quando foi ler a grade curricular do BCC pela primeira vez, encontrou dificuldade logo de início: “Eu não entendia nada das matérias, das disciplinas… A descrição da ementa era muito técnica. Você lê: ‘lógica digital’, ‘portas lógicas’, mas o que são portas lógicas? É aí que entra o Bits – para dar uma ideia sobre esses conteúdos. Para traduzir, para tornar mais acessível o que parece impossível de entender no começo”.
Roteiros, vozes e animações – A estrutura narrativa do Bits por Minuto se destaca pela autenticidade, já que os conteúdos são apresentados por dois personagens originais: os computadores Bip e Bop. Por meio de diálogos bem-humorados e didáticos entre os dois, os vídeos explicam conceitos fundamentais da computação, como o funcionamento interno dos computadores e os princípios da lógica digital.

Por meio do diálogo entre os personagens Bip (à esquerda) e Bop (à direita), os vídeos explicam conceitos fundamentais da computação (crédito da imagem: Bits por Minuto)
Segundo Eduarda, as etapas da produção são bem divididas entre a dupla: “Nós dois escrevemos os roteiros. Depois, a gente parte pra gravação do áudio, em que o Gustavo faz as duas vozes (Bip e Bop) e eu fico com a parte da arte. Depois a gente edita, eu posto, faço as legendas, e tento manter uma atividade lá no perfil”. Desde então, o projeto já lançou três séries temáticas de postagens: eletrônica, lógica digital e computação básica, que está em andamento.
Divulgação científica – Ao acessibilizar conteúdos que muitas vezes permanecem restritos às salas de aula, ou presos à complexidade das fórmulas matemáticas, o Bits por Minuto exerce um papel relevante na divulgação e popularização da ciência.
De acordo com o professor João Batista, isso se deve à combinação entre o foco em disciplinas fundamentais para a formação em Ciências da Computação e uma abordagem alinhada à linguagem dos jovens e ao universo da internet. “Os vídeos são sempre feitos de um jeito diferente, são usadas analogias com situações concretas e práticas da vivência dos jovens. Esse é um aspecto muito interessante: você acaba ensinando de forma lúdica, sem necessariamente recorrer ao formalismo matemático. Isso fica por conta do professor depois”, complementa.
Para a graduanda Eduarda, o projeto também tem a intenção de estimular o ingresso e a permanência dos estudantes na Universidade. “Eu acho que a função é, principalmente, incentivar mais alunos a entrarem no curso, sobretudo meninas, que ainda são poucas na computação. Além de ajudar quem já está no curso a permanecer nele”, finaliza.
Texto: Raquel Sampaio, da Fontes Comunicação Científica
Mais informações
Acesse o Bits por Minuto nas mídias sociais: