
Mineral descoberto em 1839 em rochas ígneas e metamórficas na Rússia, a perovskita tem propriedades de supercondutividade, mas seu uso como célula fotovoltaica ainda precisa vencer desafios de estabilidade estrutural – Foto: Cetene/MCTI/gov.br / CC BY-ND 3.0
Porém, com o aumento das camadas, o confinamento quântico diminui — o que é uma desvantagem. Em sistemas confinados, a atração entre cargas negativas e positivas é mais forte. Além disso, o bandgap (energia necessária para excitar um elétron) é maior nestes sistemas, em comparação com materiais de escala macroscópica.
Os cientistas concluíram que apenas uma camada de filme tornaria o sistema mais instável e a suplementação de mais de três camadas seria menos eficiente. Porém, o estudo não afirma categoricamente qual seria a camada e espessura ideal de perovskita para as células solares. Isso porque existem muitas variáveis envolvidas na escolha de uma célula solar específica.
“Filmes de perovskita são muito finos: seriam necessárias 10 mil camadas para chegar à espessura de um fio de cabelo. A simulação mostrou que, quando há poucas camadas, a absorção de luz e a movimentação dos elétrons varia muito com o número de camadas”, diz o professor do IFSC Luiz Nunes de Oliveira, também entre os autores deste trabalho.
“O que o artigo faz é compreender as propriedades conforme o número de camadas aumenta ou diminui, para assim dar um norte do que pode ser o ideal em cada caso”, esclarece Israel Ribeiro.
O estudo realizou um screening – processo de análise comparativa que testa diferentes combinações de espessura e propriedades físico-químicas – em sistemas de uma até quatro camadas. A partir da triagem, eles observaram quais propriedades seriam otimizadas em função do número de camadas. A caracterização foi feita por avaliações computacionais e não houve testes experimentais.

De maneira geral, existem seis principais camadas em uma célula solar: Antirreflexiva, Frontal, Absorvedora, de Transporte de Carga, de Junção e Posterior – Imagem: Mvismara/Wikimedia / CC BY-SA 3.0
O artigo se baseia nas teorias da química quântica – uma área de estudo que investiga o comportamento de sistemas físico-químicos microscópicos. Este é um campo desafiador tanto para cientistas quanto para a computação, devido ao alto número de variáveis envolvidas em processos tão pequenos.
“Nós utilizamos a Teoria do Funcional da Densidade – uma metodologia alternativa para resolver a Equação de Schrödinger, utilizada em sistemas muito complexos, em que há muitos elétrons, nêutrons, núcleos e partículas”, explica o professor Juarez L. F. Da Silva, orientador da pesquisa. Do ponto de vista computacional, essa adaptação é necessária porque diminui o grau de especificidade, reduzindo o número de variáveis envolvidas nos cálculos.
Para os pesquisadores, esses insights não apenas aprofundam nossa compreensão do papel da espessura em filmes de perovskita 2D, mas também destacam a importância de considerar efeitos de tamanho quântico e fenômenos de superfície ao projetar esses materiais para aplicações optoeletrônicas, buscando estratégias para melhorar seu desempenho.
O artigo Impact of Thin Film Thickness on the Structural, Energetic and Optoelectronic Properties of Two-Dimensional FPEA2(MAn–1)PbnI3n+1 Perovskites está disponível on-line e pode ser lido aqui.
Este estudo faz parte de uma série de publicações que compõem a tese de doutorado de Israel C. Ribeiro, orientado pelo professor Juarez L. F. Da Silva.
Mais informações: e-mail israelribeiro@usp.br
Texto: Beatriz La Corte – Estagiária sob orientação de Tabita Said e informações da Assessoria de Comunicação
Jornal da USP