Coleção de livros expõe as riquezas do Museu do Ipiranga

Em sete volumes, publicação da Editora da USP (Edusp) reproduz exposições de longa duração do museu

A Editora da USP (Edusp) acaba de lançar a Coleção Museu do Ipiranga 2022, que terá sete volumes. Quatro já estão publicados. Os outros três volumes serão lançados até março. Os livros são uma realização da equipe do Museu Paulista da USP – popularmente conhecido como Museu do Ipiranga – e abordam os temas apresentados em exposições de longa duração do museu. “O desejo do Museu Paulista é que estas publicações alcancem os seus públicos e cumpram efetivamente a missão desta instituição, divulgando o conhecimento histórico produzido em várias das pesquisas desenvolvidas com o seu acervo desde a década de 1990”, afirmam, na apresentação da coleção, a professora Rosaria Ono e o professor Amâncio Jorge Silva Nunes de Oliveira, diretora e vice-diretor do Museu Paulista.

Edifício-monumento do Museu Paulista. Guilherme Gaesnly. Década de 1890 – Foto: Reprodução/Helio Nobre; José Rosael

O volume 1 da Coleção Museu do Ipiranga 2022, intitulado Para Entender o Museu, oferece uma ampla visão sobre o Museu Paulista, incluindo informações sobre a história da instituição, surgida em 1895, o edifício-monumento que é a sua sede e os jardins ao seu redor.

Concebido inicialmente como um centro de pesquisas no campo das ciências naturais, além de servir como um arquivo de documentos referentes ao período da Independência do Brasil, o museu teve sua organização mudada em 1917, quando o engenheiro Affonso d’Escragnolle Taunay foi nomeado diretor, cargo que ocupou durante 29 anos. Taunay se preocupou em formar “um museu histórico dedicado a conservar, colecionar e expor documentos e objetos históricos de interesse para a reconstituição da história nacional do ponto de vista de São Paulo”, como escreve Ana Claudia Fonseca Brefe, que assina um dos capítulos do livro.

Os jardins do Museu do Ipiranga são tema de outro capítulo do volume 1 da coleção, assinado por Paulo César Garcez Marins. “A abertura do Museu do Ipiranga ao público, em 1905, foi possivelmente um fator que tornou a ausência de paisagismo nas suas imediações um constrangimento para o poder público”, escreve Marins. “Até então, o Monumento à Independência estivera semiabandonado, sem uma razão que estimulasse uma frequência mais contínua dos paulistanos e visitantes à colina do Ipiranga, ainda muito rural e de difícil acesso a partir da área central da cidade.”

Sala de visitas representando ambiente do final do século 19 e constituída com objetos que pertenceram à família Souza Queiroz – Foto: Reprodução/Helio Nobre; José Rosael

De acordo com Marins, em 1907 o governo estadual contratou o paisagista belga Arsènes Puttemans para projetar e executar um jardim em frente ao edifício, que foi terminado dois anos depois. “Puttemans projetou um jardim de linhas retas, de inspiração francesa, com grandes gramados e sem uso de arbustos ou árvores de copas frondosas. Nada ali impedia a visão plena do museu, o que tornava o jardim uma espécie de moldura do edifício palaciano.”

Outros artigos publicados no volume 1 da Coleção Museu do Ipiranga 2022 são “A construção do edifício-monumento: materiais e técnicas construtivas”, “Pássaros, macacos e besouros: os primeiros anos do Museu Paulista” e “Museu Paulista: acervo e representatividade”. O volume traz ainda, por exemplo, capítulos sobre as maquetes utilizadas no museu, sobre o espartilho e sobre a importação de produtos para o Brasil com a vinda da Corte de Portugal, em 1808.

Mulheres e crianças trabalhadoras na construção da linha férrea Mayrink-Santos. José Thomaz de Camargo. Décadas de 1920 e 1930, fotografia, 16×22,5cm – Foto: Reprodução/Helio Nobre; José Rosael

 

Trabalho e greves em São Paulo

Em Mundos do Trabalho – volume 4 da coleção -, a questão do ofício, do esforço físico e mental despendido pela classe trabalhadora e das greves operárias em São Paulo protagonizam a história. As ferramentas manuais utilizadas e as circunstâncias de trabalho a que foram submetidos os homens e mulheres durante a formação histórica do Brasil são exploradas de modo a dar voz àqueles que contribuíram na construção do País.

O volume destaca a atividade laboral paulista que ocorreu durante o período de 1850 a 1950 ao tratar, por exemplo, da construção da ferrovia Mayrink-Santos e das greves operárias ocorridas em São Paulo nas primeiras décadas do século 20. Além disso, expõe mais de 1.400 itens da Coleção Santos Dumont do museu, dentre outros objetos e fotografias que retratam a participação ativa dos trabalhadores na sociedade.

“O desejo do Museu Paulista é que estas publicações alcancem os seus públicos e cumpram efetivamente a missão desta instituição.”

Rosaria Ono, diretora do Museu Paulista, e Amâncio Jorge Silva Nunes de Oliveira, vice-diretor do Museu Paulista, sobre a Coleção Museu do Ipiranga 2022, publicada pela Editora da USP (Edusp).

A vida cotidiana através dos objetos

Artefatos do vasto acervo do Museu Paulista são analisados no volume 5 da Coleção Museu do Ipiranga 2022, que tem como título Casas e Coisas. De objetos pertencentes à elite brasileira do século 19 e 20 a roupas, quadros antigos e até um álbum de fotografias encontrado no lixo, as coleções retratam diferentes contextos sociais ao longo de diferentes décadas da história brasileira.

“As ‘coisas materiais’, consideradas imprescindíveis para as ações humanas e para a produção de sentidos, permitiram que o foco do museu passasse a ser os fenômenos da vida cotidiana e da vida simbólica de amplos setores sociais”, explica Vânia Carneiro de Carvalho, autora de um dos capítulos do volume. Nesse sentido, acrescenta, Casas e Coisas incita um debate sobre como objetos cotidianos puderam representar uma divisão binária de gêneros na sociedade brasileira.

Equipamentos mecânicos vendidos a partir dos anos 1920 em São Paulo: Anúncio Mappin Stores, 2 de maio de 1937 – Fotos: Reprodução/Helio Nobre; José Rosael

O livro – que reproduz a exposição Casas e Coisas – mostra como, durante os anos de 1870 a 1920, atividades, produtos e propagandas relacionados a culinária, decoração, moda, etiqueta e limpeza eram destinados às mulheres. Por outro lado, artefatos tidos como de caráter intelectual, tais como óculos, canetas luxuosas, objetos de escritórios e esculturas de bustos, eram atrelados a homens (geralmente doados pelos próprios, com o intuito de exaltar a figura masculina). Mais do que isso, Casas e Coisas expõe como os objetos continuaram a ilustrar o imaginário conservador sobre o papel social de homens e mulheres que se estendeu ao longo do século 20.

Disputa pelo Brasil

O conhecimento acerca do território brasileiro é tema de Territórios em Disputa, volume 7 da Coleção Museu do Ipiranga 2022. Com um extenso conjunto de mapas, documentos textuais e ilustrações de objetos, o livro conta o processo de formação e de delimitação dos territórios nacionais. Os contrapontos entre os povos indígenas, colonos portugueses, missionários e outros imigrantes, como os holandeses e ingleses, também são apresentados a partir de uma visão crítica.

“Os diversos ensaios desenvolvem e problematizam algumas questões, procurando fugir dos chavões e etiquetas, em busca de olhares diferentes, e colocando muitas vezes opiniões contraditórias e dando voz a opiniões minoritárias”, como se lê no primeiro capítulo do volume, assinado por Jorge Pimentel Cintra. A cultura e a diversidade dos povos originários, a cartografia, a presença da Igreja Católica, a escravização e destruição de sociedades indígenas e as guerras por territórios são assuntos destacados no livro.

Registro da presença de embarcações francesas no tráfico do pau-brasil na costa da América portuguesa. Giacomo Gastaldi. Delle navigationni e Viaggi. 1556. Fac-símile – Foto: Reprodução/Helio Nobre; José Rosael

Os livros da Coleção Museu do Ipiranga 2022 já publicados, intitulados Para Entender o Museu (volume 1), Mundos do Trabalho (volume 4), Casas e Coisas (volume 5) e Territórios em Disputa (volume 7), podem ser ser adquiridos na loja virtual da Editora da USP (Edusp). Os outros três livros da coleção, Uma História do Brasil (volume 2), Passados Imaginados (volume 3) e Ciclo Curatorial (volume 6), estarão disponíveis para venda até março.

Texto: Adrielly Kilryann
Arte: Carolina Borin Garcia

Por Jornal da USP

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