A Pró-Reitoria de Pós-Graduação abriu um edital para selecionar os primeiros 45 programas de pós-graduação que poderão adotar o novo modelo. A expectativa é que os processos seletivos comecem já no segundo semestre

Fotomontagem Jornal da USP feita com imagens de Freepik e de Marcos Santos/USP Imagens
Os programas de pós-graduação da USP interessados em adotar um novo formato para seus cursos de mestrado e doutorado têm até o dia 5 de maio para se inscreverem no Programa de Aperfeiçoamento da Pós-Graduação (PAPG) da USP.
O edital selecionará 45 programas de pós-graduação para serem os primeiros a adotar o novo modelo. A expectativa é que, com as alterações propostas, os cursos de pós-graduação ofereçam uma formação mais eficiente, interdisciplinar e estruturada, capaz de acolher as perspectivas e os interesses dos estudantes, com distinção de objetivos entre o mestrado e o doutorado.
“O modelo vigente de pós-graduação foi muito importante para formar docentes e expandir o ensino superior no Brasil, mas o mundo mudou e, nos últimos anos, ficou evidente a urgência de implantar mudanças para tornar a pós-graduação mais dinâmica, eficiente e adaptada às demandas dos jovens profissionais. Com esse edital, a USP abre o caminho para uma modernização da pós-graduação brasileira e esperamos que os programas estejam abertos a essas mudanças”, explica o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior.

Carlos Carlotti Junior – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Para o pró-reitor de Pós-Graduação, Rodrigo Calado, “o PAPG procura compreender os interesses dos estudantes ao ingressar na pós-graduação, aumentando as possibilidades de formação e ampliando sua inserção no trabalho intelectual e científico após a titulação. Esses caminhos podem intensificar a interação da Universidade com a sociedade e propiciar de maneira mais intensa a pesquisa, desenvolvimento e inovação em outros ambientes que deles necessitam”.
Podem se inscrever no PAPG os programas de excelência da Universidade, com notas 6 ou 7 na avaliação da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e que tenham cursos de mestrado e doutorado. As propostas devem conter informações sobre as formas de recrutamento, modelo formativo do primeiro ano, matriz curricular, mecanismos de identificação do orientador, atividades extramuros, critérios do Exame de Qualificação e indicadores para a avaliação do impacto das mudanças no perfil do egresso.

Rodrigo do Tocantins Calado de Soloma Rodrigues – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A Capes disponibilizará 90 bolsas de doutorado para os programas selecionados pelo edital, respeitando o mínimo de uma bolsa por programa. As bolsas serão implementadas após a aprovação do estudante no Exame de Qualificação.
Além das bolsas oferecidas pela Capes, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) também se comprometeu em fazer a complementação do valor da Bolsa de Doutorado Capes para a Bolsa de Doutorado Fapesp DD-1.
Para mais informações, consulte o edital disponível na página da Pró-Reitoria de Pós-Graduação.
Novo modelo de pós-graduação
A principal mudança no formato dos cursos de pós-graduação é a possibilidade de o estudante optar por mudar do mestrado para o doutorado após um ano do curso.
De acordo com o novo modelo, o ingresso dos estudantes será exclusivamente pelo mestrado. Nos primeiros 12 meses da pós-graduação, o aluno frequenta disciplinas da matriz curricular do curso, formativas e interdisciplinares, além de construir um projeto de pesquisa e identificar um orientador.
Ao final desta primeira etapa do mestrado, os estudantes submetem-se ao exame de qualificação para verificar a aquisição de conhecimentos e a avaliação do projeto de pesquisa. Se aprovado no exame, o aluno terá duas possibilidades: prosseguir no mestrado para concluí-lo em mais um ano, ou converter o mestrado em doutorado, que deverá ser concluído em até quatro anos.
“O PAPG valoriza o mestrado como grau acadêmico finalístico e com objetivos próprios, além de dinamizar o doutorado, que é a formação pela pesquisa, de maneira mais eficiente e conciliada aos interesses dos pós-graduandos”, explica o pró-reitor.
A implementação do PAPG será acompanhada por uma comissão da Pró-Reitoria de Pós-Graduação, responsável por monitorar os impactos da iniciativa e propor eventuais ajustes para sua melhoria.
Redefinindo a pós-graduação
A discussão sobre a modernização do formato de pós-graduação não é recente. As bases da estrutura do atual Sistema Nacional de Pós-Graduação foram estabelecidas em 1965, inspirado no modelo norte-americano da época, que tinha como diretriz uma pós-graduação escalonada e hierarquizada com dois níveis de formação: mestrado e doutorado.
Passadas seis décadas, esse modelo tem se mostrado defasado e não condiz mais com a expectativa dos estudantes. A hierarquização dos cursos de mestrado e doutorado levou a um processo longo e pouco eficiente. No Brasil, a idade média em que um pós-graduando defende sua tese é de 38 anos. Além disso, as universidades e instituições de pesquisa não conseguem absorver a quantidade de pós-graduados formados anualmente, o que leva à necessidade de adaptar a formação de maneira ampliar as possibilidades profissionais dos mestres e doutores, tornando os cursos mais atraentes.
Diante desse cenário, há alguns anos a USP e outras universidades públicas têm discutido alternativas para a pós-graduação brasileira. Em novembro do ano passado, foi assinado um protocolo de intenções entre a USP, a Capes e a Fapesp para incentivar os cursos de mestrado e de doutorado a adotarem mudanças que possibilitarão uma pós-graduação mais atrativa, diversificada e compatível com as demandas da sociedade.
O documento também inclui as outras universidades públicas de São Paulo além da USP: a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Universidade Federal do ABC (UFABC) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Os programas selecionados pelo Programa de Aperfeiçoamento da Pós-Graduação serão os primeiros a adotar esse novo formato, já a partir do segundo semestre de 2025.
Texto: Erika Yamamoto
Arte: Beatriz Haddad – Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
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