Disciplina da USP estimula calouros a criarem tecnologias para ajudar abrigo de idosos e bibliotecas municipais

Atividade faz parte do processo de curricularização da extensão do curso de Engenharia de Computação, oferecido em conjunto pelo ICMC e pela EESC

 

Estudantes desenvolveram importantes projetos | Foto: Denise Casatti/ICMC-USP

 

O aluno Gabriel Yamauti Gerolamo enfrentou os dilemas comuns a muitos calouros em suas duas primeiras graduações: questionou se havia feito a escolha certa, se o curso realmente combinava com ele e o que poderia esperar para sua carreira depois da formatura. Após descobrir que o Bacharelado em Matemática e a Licenciatura em Exatas não eram sua vocação, encontrou seu caminho no curso de Engenharia de Computação, oferecido em conjunto pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) e pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), ambos da USP.

A certeza de que, desta vez, fez a escolha correta, veio depois do estudante cursar a disciplina “Introdução à Engenharia de Computação”, que além de teoria, permite aos alunos colocarem a mão na massa. “Foi uma abordagem completamente diferente de todos os cursos que já experimentei, uma proposta inovadora desde o início”, diz Gabriel.

A disciplina introdutória desafiou os calouros a criarem ideias para resolver problemas reais da sociedade. Para que isso fosse possível, foram escolhidas duas entidades com as quais os professores Simone Senger Souza, do ICMC, e Maximiliam Luppe, da EESC, responsáveis pela disciplina e atuais coordenadores do curso, já tinham alguma aproximação: o Abrigo de Idosos Helena Dornfeld e a Biblioteca Municipal de São Carlos. Representantes das entidades foram convidados a compartilhar com os estudantes o funcionamento das mesmas e os principais problemas. Os alunos, após se dividirem em grupos, puderam escolher aquela com a qual queriam trabalhar.

 

Estudantes explicam razões da escolha pelo curso. Foto: Denise Casatti/ICMC-USP

 

Uma característica única da dinâmica foi a presença de pelo menos um veterano em cada um dos dez grupos formados. Essa interação foi muito benéfica para os alunos, conforme destaca a professora Simone: “Os calouros puderam aprender ainda mais com os veteranos, enquanto estes últimos puderam refletir sobre o acúmulo de conhecimento adquirido ao longo do curso e como ensinar o que já sabiam aos calouros”, afirma.

 

“Introdução à Engenharia de Computação” é uma das primeiras disciplinas da graduação | Foto: Denise Casatti/ICMC-USP

 

Projetos desenvolvidos – Oito grupos se sensibilizam pela causa do abrigo e foram até o local para conhecer de perto a realidade dos idosos e as dificuldades de gestão que ali se apresentavam. Além disso, os representantes de cada entidade dialogaram com os grupos, compartilhando informações sobre o funcionamento e os desafios enfrentados, o que permitiu aos alunos vislumbrarem oportunidades de melhoria através da criação de soluções computacionais.

Um dos problemas que mais chamou a atenção dos estudantes que escolheram trabalhar com o abrigo foi a gestão de medicamentos dos idosos, já que as enfermeiras anotam manualmente a entrada, a quantidade e o uso diário dos remédios.

Os que optaram pelas bibliotecas identificaram uma baixa adesão da comunidade, o que poderia ser melhorada através de um site visualmente atrativo e interativo. Dessa forma, nas aulas semanais, os professores orientavam os grupos e discutiam com eles a maneira mais adequada de pôr em prática as ideias que os alunos traziam.

“Estimulávamos os alunos a explorarem a realidade de entidades de outras cidades com causas similares para que eles observassem soluções já implementadas nesses contextos”, diz Simone.

Para o desenvolvimento dos projetos, os grupos aplicaram a metodologia Scrum, que incluiu a validação das ideias com os clientes e a prototipação das soluções. Ferramentas como Discord e Trello foram usadas para comunicação e gerenciamento de tarefas.

Alguma das ferramentas utilizadas pelos grupos | Foto: Denise Casatti/ICMC-USP

 

Após dois meses de intenso trabalho, os grupos puderam validar suas criações junto a seus “clientes” apresentando-se para eles e para os professores no último dia 24 de junho. As ideias de soluções para o abrigo incluíram a proposta de criação de um prontuário digital, um gerenciador de estoque de remédios, um site para controle das doações recebidas, um protótipo de uma página no site da instituição intitulado “Acolha um Idoso”, entre outros (veja abaixo). Para as bibliotecas, os alunos idealizaram um portal de divulgação de eventos e um Sistema Integrado entre as bibliotecas de São Carlos.

Impacto – De acordo com os alunos, a disciplina proporcionou uma experiência prática e realista de como a Engenharia de Computação pode ser aplicada para resolver problemas concretos da sociedade.

Foi justamente para viabilizar essa vivência logo no início da graduação que os docentes responsáveis pela disciplina implementaram o desenvolvimento de projetos. “Começamos com algumas palestras introdutórias para que os alunos pudessem entender melhor as diferentes áreas do curso e suas possibilidades. Em seguida, introduzimos tecnologias e metodologias de desenvolvimento que os alunos iriam usar mais adiante. Essa combinação de teoria e prática ajudou a contextualizar os conhecimentos e a relacioná-los diretamente com os problemas que eles iriam abordar no projeto”, conta o professor Maximiliam.

Para a aluna Luísa Domingues Santello, a experiência foi gratificante não só pelos aprendizados, mas por ter confirmado sua escolha no vestibular. Além disso, ela se diz impactada por, já no primeiro semestre, ter conseguido construir um projeto, mesmo sabendo pouco ainda de programação. “Eu não sabia responder o que um engenheiro de computação faz e, agora, depois que pude desenvolver um prontuário digital, ficou muito mais claro e me permitiu vislumbrar que essa pode ser uma possibilidade de trabalho quando eu me formar,” revela.

 

O prontuário produzido para o Abrigo de Idosos Helena Dornfeld | Foto: Denise Casatti/ICMC-USP

 

Já o estudante Caio Cesar Trentin de Assis destacou que a disciplina abriu sua mente e o fez perceber a importância de continuar estudando e aprendendo para desenvolver projetos aplicáveis no futuro. Os alunos Julia Valentim de Oliveira Pinheiro e Pedro Rodrigues Luiz Ferreira expressaram gratidão por terem ajudado o abrigo, unindo suas habilidades técnicas com os lados humano e social.

Para a estudante Lívia Santos Benassi, sair da rotina universitária, repleta de números, programação, conceitos de elétrica e eletrônica e visitar o abrigo foi uma experiência crucial para o grupo, proporcionando um contato humano que é muito diferente do que normalmente vivenciam no dia a dia.

Viviane Derencio, psicóloga do abrigo, ficou impressionada com a competência e dedicação dos jovens em seus trabalhos, assim como o interesse genuíno pela causa. “O projeto permite ao jovem se desenvolver como ser humano ao colocá-lo em contato com os problemas da sociedade. Eu acredito que esse aspecto é muito importante”, afirmou.

De acordo com Viviane, a instituição tem interesse em todos os protótipos e, inicialmente, será implementada no site a aba do projeto “Acolha um idoso”. A ideia, no entanto, é que as outras ideias também possam ser executadas no futuro.

“Eles trouxeram várias ideias inovadoras e bem estruturadas para nós. Um dos projetos, por exemplo, sugeriu um sistema simples e viável para criar prontuários através de formulários simples, algo que poderia ser implementado facilmente no abrigo. Isso não apenas simplificaria o processo, mas também seria de fácil manutenção para nós,” concluiu Viviane.

 

Conheça todos os projetos desenvolvidos pelos alunos: 

  • Gerenciamento de medicamentos através de um aplicativo;
  • Leitor de código de barras para controle preciso dos medicamentos;
  • Prontuário online via Google Forms para registro de saúde dos idosos;
  • Banco de dados detalhado sobre horários, quantidades e tipos de medicações prescritas;
  • Aplicativo para gestão de estoque, melhorando a visibilidade do fluxo de produtos;
  • Criação de uma aba no site do abrigo cujo nome será “Acolha um Idoso”, que servirá  para divulgar as necessidades dos idosos e para realizar agendamento de visitas aos mesmos;
  • Controle de Doações: seção no site para registro de produtos doados, otimizando a gestão e evitando desperdícios;
  • Prontuário integrado no site com sistema de autenticação e controle das enfermeiras;
  • Sistema Integrado de Bibliotecas de São Carlos (SIBiSC): dois grupos trabalharam a favor das bibliotecas, um pensou desenvolveu um aplicativo de empréstimos com recomendações personalizadas e gamificação e o outro em um portal de eventos com newsletter integrada.

Texto: Gabriele Maciel, da Assessoria de Comunicação do ICMC-USP

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