DNA USP: Startup criada em laboratório da EESC desenvolve neuronavegador que auxilia em cirurgias veterinárias

Equipamentos tecnológicos desenvolvidos pela engenharia em benefício da saúde humana já são amplamente conhecidos e reconhecidos. Agora, uma startup nascida no Laboratório Aeronáutico de Tecnologias da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP também está contribuindo para a medicina veterinária. Os pesquisadores, formados na instituição, desenvolveram um neuronavegador de última geração que vem sendo utilizado para auxiliar em cirurgias de animais com maior precisão e segurança.

Trata-se de um sistema que utiliza tecnologias avançadas, como inteligência artificial e visão computacional, para auxiliar o cirurgião veterinário a identificar com precisão, e em tempo real, a área exata em que está operando dentro do corpo do animal.

O funcionamento ocorre por meio da detecção da posição dos instrumentos cirúrgicos, integrando essas informações com exames de imagem do paciente, como tomografias e ressonâncias magnéticas. Dessa forma, o sistema é capaz de “compreender” a localização do animal na sala e apontar com exatidão os pontos internos que precisam ser tratados.

Neuronavegador em uso durante procedimento cirúrgico craniano em animal – Foto: Divulgação SVCOM/EESC

“Esta é uma tecnologia de ponta para neurocirurgias veterinárias. O Orion One, como chamamos, funciona como um dispositivo GPS dentro da cabeça do animal, permitindo a localização precisa do cirurgião em tempo real, o que garante mais segurança e eficácia durante os procedimentos. O neuronavegador, então, possibilita procedimentos menos invasivos e com menores riscos de complicações, o que se traduz em melhores chances de recuperação para os animais e maior tranquilidade para os profissionais da área”, descreve um de seus desenvolvedores, Pedro Augusto Saletti Pinotti. Engenheiro formado, Pinotti juntou-se a outros três colegas do curso de Engenharia Mecatrônica (EESC-USP) para criar a startup BMT (Brazilian Medical Technologies), detentora da inovação no segmento médico veterinário.

A startup, que tem a marca DNA USP, nasceu de uma pesquisa no laboratório Aerotech da EESC-USP, voltada ao desenvolvimento de um robô para neurocirurgia. “O objetivo inicial da pesquisa era criar um sistema capaz de introduzir eletrodos para o tratamento de crianças com epilepsia. Com o apoio do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, conseguimos validar essa tecnologia em um ambiente clínico, utilizando modelos sintéticos”, destaca Pinotti.

A empresa surgiu a partir dessa pesquisa, “com a missão de transformar inovação em produtos acessíveis para quem realmente precisa. No entanto, a regulamentação para uso humano é um processo demorado. Aí, buscando uma aplicação mais imediata, exploramos outras áreas onde nossa tecnologia poderia fazer a diferença e foi então que encontramos a medicina veterinária, um cenário que se mostrou com grande necessidade, onde procedimentos complexos eram realizados sem o suporte tecnológico adequado”, lembra o engenheiro.

Além da alta tecnologia, a inovação desenvolvida pelos pesquisadores e empreendedores da engenharia traz como diferencial o custo até oito vezes menor do que o do mercado atual, tornando a neuronavegação para uso veterinário mais acessível.

Da esquerda para direita, Pedro Saletti, Calvin Suzuki, Pedro Malagutti e Guilherme Soares, engenheiros formados pela EESC e fundadores da startup.

Engenharia que transforma vidas

O grupo considera que a maior motivação para o desenvolvimento de soluções seja a vontade de usar engenharia para ajudar as pessoas. “Enxergamos a engenharia como uma ponte para transformar vidas. O conhecimento, a técnica e a determinação que adquirimos na universidade são impulsionados por uma paixão inabalável por inovação e impacto positivo, trazendo como possível resultado soluções como o Orion, algo que realmente faça a diferença”, diz Pinotti.

Nesse sentido, o engenheiro destaca a importância da universidade não somente como centro de formação, mas também de ponto central para viabilizar e transformar conhecimento em produtos e soluções para a sociedade. “A EESC foi nossa porta de entrada para o conhecimento e as ferramentas que hoje moldam o trabalho em nossa startup. Cada desafio que enfrentamos ao empreender exige habilidades e conceitos que aprendemos na universidade, seja nas aulas, em atividades extracurriculares ou nos laboratórios de pesquisa. Essa base sólida foi essencial para nossa trajetória, hoje com a possibilidade de impactar a vida de muitas pessoas e seus pets.”

A ideia do grupo é aprimorar o Orion, tornando-o mais intuitivo e acessível para os profissionais. “Como um sistema modular, ele começou pelas cirurgias cranianas, mas em breve expandirá sua aplicação para outros procedimentos, incluindo cirurgias de coluna e próteses de quadril. A partir deste mês, essas novas funcionalidades começarão a ser implementadas, ampliando o impacto da tecnologia na medicina veterinária” conclui Pinotti.



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