Os professores Osvaldo Novais de Oliveira Junior e Ana Paula Ullian Araújo tomaram posse no dia 04 de abril como diretor e vice-diretora do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) para um mandato de quatro anos, substituindo, nos cargos e respectivamente, os Profs. Vanderlei Salvador Bagnato e Igor Polikarpov.
Manifestando a honra de ter sido escolhido para diretor do IFSC/USP, o Prof. Osvaldo Novais de Oliveira Junior salientou, em seu discurso de posse, que irá encarar essa missão com sentimentos variados, conforme explicou. “Por um lado, a tarefa não parece ser difícil. Eu e a Ana Paula assumimos uma instituição de alto nível, com padrões de excelência no ensino, pesquisa, extensão, com administração eficiente. Isso se deve não só à dedicação e competência de meus antecessores e antecessora na direção do IFSC/USP, como também ao trabalho de muitas e muitos docentes nas mais diversas ações e com um corpo engajado de funcionários e funcionárias de alto nível. O apoio da Ana Paula, e o grande time que se formou com as comissões, chefias de departamentos, devem tornar a missão mais fácil. Tenho também o privilégio de contar com a atuação, em diferentes iniciativas, dos nossos ex-diretores que estão na ativa, sendo que a ex-diretora e ex-diretores já aposentados são nossos conselheiros. Por outro lado, a responsabilidade de garantir que o IFSC/USP continue avançando é gigantesca.
Ao recordar um discurso feito em 2010, quando assumiu o cargo de vice-diretor do Instituto, o Prof. Osvaldo Novais teve a oportunidade de, após indicar ações e atitudes numa perspectiva acadêmica, o que sempre o guiaria seriam os princípios que aprendeu com seus pais, algo que para ele continua valendo. “Lembrei-me disso porque dos dirigentes da USP devemos esperar atuação que extrapole os muros da nossa Universidade. Vivemos tempos que requerem ações incisivas de nossa comunidade. São ambíguas as interpretações sobre os tempos correntes. Se considerarmos uma janela de tempo mais dilatada, de décadas ou de um século, notamos um incrível desenvolvimento da humanidade, com melhor qualidade de vida, mais longevidade, e com marcos civilizatórios importantes. Muito evoluímos na luta contra o racismo, contra a desigualdade de gênero, na aceitação de minorias, e com mais democracia. Houve uma melhora significativa na qualidade de vida dos humanos, também com enorme aumento da expectativa de vida. Vivemos hoje muito mais e em melhores condições do que há algumas décadas e séculos. A taxa de mortalidade caiu drasticamente com o progresso da medicina e de ciências da saúde, alavancado por outros progressos igualmente impressionantes – como os da tecnologia, que permitem uma medicina de alto nível. É notável, ademais, que os seres humanos têm se tornado melhores. Essa melhora pode passar despercebida, ou até mesmo ser contestada, porque os padrões de exigência são constantemente alterados. Comportamentos corriqueiros há apenas algumas décadas são hoje inaceitáveis: como a violência contra animais e a discriminação de minorias. Entretanto, uma análise focalizada apenas nos últimos anos traz preocupações, pois há claros riscos de involução nesses marcos civilizatórios. Persistem também problemas fundamentais que ameaçam a humanidade”, sublinhou o novo diretor.
Para o novo diretor do IFSC/USP, como a grande evolução da humanidade no último século esteve (e está) inextricavelmente atrelada ao avanço do conhecimento, a Universidade – maior fonte de geração de conhecimento – precisa estar presente e se fazer ouvir. Por parte do Prof. Osvaldo Novais, a intenção é que ele possa auxiliar o IFSC e a USP em suas contribuições para a sociedade brasileira. “Conhecimento é essencial para que vençamos os desafios – de âmbito nacional e global – e para que tenhamos uma sociedade mais igualitária, justa. Somente novas tecnologias podem mitigar os efeitos do aquecimento global, produzir energia e alimentos de forma sustentável, melhorar terapias e diagnósticos, gerar riqueza que possa ser compartilhada. Pelo caráter multidisciplinar de suas pesquisas, contribuições do IFSC/USP em algumas dessas tecnologias já são realidade. Muitos desafios, porém, requerem mais do que tecnologia. Para a educação, talvez o maior de nossos desafios, é crucial a criação de políticas públicas eficazes. A USP pode e deve atuar nesse sentido”, ressaltou o diretor.
Das grandes mazelas brasileiras, o Prof. Osvaldo Novais destacou em, seu discurso de posse a desigualdade, uma batalha que exige esforços múltiplos, que incluem a concepção de políticas embasadas em conhecimento. Uma desigualdade que pode vir de áreas diversas: além das óbvias, como sociologia, economia, psicologia, administração, ele destacou áreas relacionadas à física e matemática; como a física estatística, pois muito se pode aprender sobre desigualdade – e maneiras de mitigar seus efeitos – em modelos de sistemas complexos. “Tenho a expectativa de que o IFSC possa continuar contribuindo para a USP e sociedade de muitas e diferentes maneiras. Vale, então, ressaltar como chegamos até aqui. A gênese do IFSC pode ser considerada a vinda da Profa. Yvonne Mascarenhas e do Prof. Sérgio Mascarenhas, para a EESC, em 1956. Eles foram responsáveis por implementar um paradigma de pesquisa que ainda é atual – 66 anos depois. Foram visionários em perceber que a pesquisa tinha que ser multidisciplinar, internacional. E que era mister investigar a matéria, inclusive a matéria viva – numa época em que a maioria dos físicos no Brasil se dedicava a outras áreas, como física de partículas, física nuclear e física teórica – não de materiais. Que para atingir avanços nessa pesquisa também era necessária a computação. Os trabalhos da Profa. Yvonne e do Prof. Sérgio, que inspiraram muitos outros e muitas outras, culminaram em nossas linhas de pesquisa na pós-graduação, e em nossos cursos de graduação. É por isso que hoje temos o Bacharelado em Física, em Física Computacional, em Ciências Físicas e Biomoleculares, além da Licenciatura em Ciências Exatas – essa também de caráter multidisciplinar”, explanou o novo diretor.
Já na condição de diretor do IFSC/USP, o Prof. Osvaldo Novais falou sobre o futuro, tendo realçado que seu sonho é poder se alinhar a colegas da USP em empreitadas que possam melhorar a vida das pessoas. Com isso, ele espera atuar em propostas para combater desigualdade de gênero e o racismo. “Tenho ainda um sonho específico, que compartilho há anos com o Magnífico Reitor Marcelo Turine: o de contribuir para preservação de línguas e culturas indígenas, um patrimônio do qual o Brasil não pode abrir mão”, poderou.
No final de seu discurso, o destaque foi para palavras de gratidão. “Sou de Barretos e dos 16 aos 20 anos trabalhei em Guaíra, que se tornou minha segunda cidade. Se, por ventura, um órgão de imprensa estivesse cobrindo esta cerimônia, uma possível manchete seria: “Juninho da Leiteria é o novo diretor do Instituto de Física de São Carlos, da USP”. Pensei nessa manchete por 3 razões. A primeira tem a ver com o poder de transformação de uma Universidade, como a USP. A segunda razão é que essa transformação não acontece por um esforço individual. É necessariamente uma conquista coletiva. Aqui vem os agradecimentos. Como em tudo que acontece de bom para mim, agradeço e dedico aos meus pais, Osvaldo e Zilda, e aos meus irmãos Auxiliadora, Luiz Antonio, Tiago, Silvana e Paulinho. Tenho que agradecer a toda família, Novais de Oliveira, e Paula Franco. Agradeço à minha mulher, Cristina, e aos filhos Caio, Lígia e Tiago. À família da Cristina. Aos amigos e amigas que são muitos para nomear, que talvez possam ser representados pelos irmãos de república e pelos Bangorianos. Às minhas professoras e professores em Barretos, em São Carlos e em Bangor – nas pessoas dos meus três orientadores: José Alberto Giacometti, Guilherme Leal Ferreira e Martin Taylor. À comunidade do IFQSC e IFSC, nas minhas duas casas de pesquisa: Grupo de Polímeros e NILC (Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional). Às minhas alunas, alunos, pós-doutorandas, pós-doutorandos, colaboradoras e colaboradores científicos. A terceira razão para a manchete “Juninho da Leiteria é o novo diretor do IFSC” é que: o Juninho da Leiteria, também chamado de Chu, Osvaldo, Novais, Prof. Oliveira, sempre teve e ainda tem alma de leiteiro. E é esse espírito de leiteiro que espero possa me ajudar a, juntamente com a Ana Paula, liderar o IFSC nos próximos 4 anos. Muito Obrigado!”, concluindo.
Recordando o IFSC
Em seu discurso, o reitor da USP, Prof. Carlos Gilberto Carlotti Junior, recordou os principais momentos vividos no Instituto de Física de São Carlos, já que seu reduto acadêmico era – e é – a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Sua primeira recordação foi para o saudoso Prof. Sérgio Mascarenhas – dirigindo-se à Profª Yvonne Primerano Mascarenhas – através de longas conversas que teve a oportunidade de manter com o acadêmico não só em relação à ciência, como um todo, mas também sobre a sua pesquisa relativa ao monitoramento da pressão intercraniana não invasiva. Para o reitor, o IFSC sempre teve um significado muito particular ao longo dos anos, principalmente quando desempenhou o cargo de pró-reitor de Pós-Graduação da USP, no mandato 2016/2021, onde teve a oportunidade de trabalhar diretamente com o então vice-reitor, Prof. Antonio Carlos Hernandes, docente do IFSC, um período que, para ele, foi muito importante, de aprendizado constante.
Outro nome evocado pelo reitor foi o do Prof. Vanderlei Salvador Bagnato, que nesta data cessou suas funções como diretor da Unidade. “O Prof. Vanderlei Bagnato é o mais importante cientista do Brasil e eu só tenho que agradecer o que ele tem feito pelo IFSC e pela USP, em termos de inovação, e a forma como, enquanto diretor deste Instituto, se preocupou com os alunos, sempre procurando mais verbas para a pós-graduação, concretizando sempre e da melhor forma os objetivos delineados. Pela importância que o Prof. Bagnato tem para a USP, nossa expectativa é que continue esse caminho como até aqui. A USP agradece”, enfatizou o orador. Já no final de seu discurso, o reitor da USP deixou bem claro que as atividades da USP irão melhorar substancialmente, quer em termos de novos projetos de inclusão, quer no pertencimento de toda a comunidade uspiana, quer, ainda, na colaboração intensa com a sociedade, pelo que será proposta já no próximo Conselho Universitário a criação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento. “Temos que interagir ainda mais com a sociedade, auxiliando a população a mudar este país pautado pelas desigualdades sociais e de gênero”, observou o reitor, sublinhando que este é o momento da USP fazer isso, de ajudar o país em muitos outros parâmetros, sendo que a Universidade pode ser, também, um modelo nestes pressupostos.
No sentido de aumentar a interação com a sociedade, Carlos Gilberto Carlotti Junior apontou dois vetores que deverão ser explorados em seu mandato – a Inovação ao serviço da população, em todas as áreas do conhecimento, e o Desenvolvimento Sustentável, com uma importante mudança dos paradigmas nas áreas de energia, alimentação, água e economia circular, entre outras, de forma a se poder transformar as ideias em ações concretas.
Além do reitor e dos diretores empossados, participaram desta cerimônia, na mesa de honra: a vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda; a secretária-geral Marina Gallottini; o ex-diretor Vanderlei Salvador Bagnato e o ex-vice-diretor Igor Polikarpov.
(Imagens – Ricardo Rehder)
Por Rui Sintra – Assessoria de Comunicação – IFSC/USP