Levantamento utilizou dados da Agência USP de Inovação para analisar a participação feminina, a distribuição e a área de atuação de empresas fundadas por uspianos
Uma maneira de avaliar o impacto da formação de estudantes do ensino superior é identificando sua inserção profissional no mercado de trabalho. Um estudo realizado por alunos do curso de Ciência da Computação da USP fez o caminho inverso: utilizando dados da Agência USP de Inovação (Auspin), o levantamento analisou o perfil de empresas com DNA USP. São entidades jurídicas idealizadas, fundadas ou mantidas por pessoas que fazem ou fizeram parte da Universidade ou, ainda, que tenham recebido algum tipo de incentivo da USP.
Após estruturar dados de empresas com origem na Universidade, o trabalho as classificou por área de atuação e constatou o nível de participação feminina, além de sua localização no território nacional. Os institutos com mais empresas originadas na USP foram Escola Politécnica (EP), Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Faculdade de Medicina (FM) e Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA). A maioria das empresas analisadas atuava em atividades profissionais, científicas e técnicas, representando 548 empreendimentos.
“Os alunos do bacharelado em Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP precisam fazer um trabalho de conclusão para obter os créditos necessários para a formatura. Recentemente, tenho procurado propor aos alunos temas ligados a necessidades reais de outras áreas, fomentando trabalhos interdisciplinares”, conta o orientador da pesquisa, Alfredo Goldman. Ele explica que fez uma colaboração com a professora da FEA de Ribeirão Preto, Geciane Porto, para estruturar os dados que não estavam em um formato regular para análise.
Os dados são da Auspin, que criou o selo DNA USP e disponibilizou uma interface de cadastro com o intuito de coletar informações gerais sobre essas companhias, o Hub USP Inovação. No entanto, técnicas computacionais possibilitaram ir além dos dados iniciais, resolvendo desafios de desambiguação de nomes. “Por exemplo, inferindo o gênero biológico e buscando de forma automatizada informações complementares em outras bases de dados, como da receita federal”, afirma o professor.
A partir das análises, os estudantes Daniel Silva Nunes e Lucas Toshio Loschner Fujiwara criaram gráficos para representar indicadores sobre as empresas com DNA USP, como a distribuição das áreas de atuação, tanto no geral quanto por instituto; a participação feminina entre os empreendedores; localização no território nacional; empresas spin-offs, que possuem ao menos um sócio pós-graduando, pós-graduado, docente pela USP ou que estejam associadas a alguma patente registrada.
“Esses processos foram realizados inicialmente de forma manual, utilizando como ferramentas Python, Pandas e Matplotlib”, detalha Fujiwara. As informações foram dispostas em uma ferramenta on-line, “para que o processo seja reproduzido sob demanda e gere novos gráficos com os dados atualizados”, complementa. A ferramenta tem código aberto para distribuição e modificações, e outras pessoas ou instituições podem adaptá-la para uso próprio. O código fonte está disponível em: GitHub – lfujiwara/dnausp-web e GitHub – lfujiwara/dnausp-webapi.
Destaques da pesquisa
Todas as regiões brasileiras possuem ao menos uma empresa DNA USP cadastrada, mas o Sudeste concentra o maior número, com cerca de 74% do total
A maioria das empresas DNA USP tem pelo menos um sócio cadastrado que possui vínculos com programas de pós-graduação da USP: 64,2%
As companhias cujas áreas de atuação são voltadas para as mais técnicas ou administrativas tendem a apresentar mais atividades associadas ao empreendedorismo. Para os autores, uma das razões é a distribuição desigual de acesso a disciplinas e atividades sobre o assunto
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) mostrou-se com um número de empresas equiparável ao da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), mesmo focando seu ensino e pesquisa em áreas mais afastadas da engenharia e de atividades tecnológicas. Na FFLCH, a maioria das empresas tem como foco a área de comércio e serviços
Apenas 26,8% das pessoas fundadoras/sócias de empresas com DNA USP, de acordo com o levantamento, são mulheres (708 contra 1.934 homens). A unidade com o maior porcentual de mulheres sócias/fundadoras é a FFLCH, com 57,14%. A unidade se destaca com empresas que atuam no setor de comércio e serviços e também no setor de educação, artes e esportes
O Instituto de Astronomia e Geofísica (IAG) e o Centro de Biologia Marinha (Cebimar) possuem somente pessoas do sexo masculino dentre os membros do corpo de sócios de suas empresas vinculadas na base de dados. O Museu de Zoologia (MZ) e o Instituto de Medicina Tropical (IMT), por outro lado, apresentam mulheres como sócias em todas as suas empresas vinculadas
Para saber mais sobre o estudo Empresas DNA USP: Análise e monitoramento de dados sobre o empreendedorismo na Universidade de São Paulo, entre em contato com os autores pelos e-mails dsnunes@usp.br e lucastfujiwara@usp.br
Por Jornal da USP