Evento destaca relevância arquitetônica e estrutural do icônico Bloco E-1

Vista do Bloco E-1 e do Portal Décadas – Foto – Edmilson Luchesi

No último dia 12 de novembro, a Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) promoveu o evento Memória EESC-USP: E-1 e seus projetistas, relevância arquitetônica e estrutural. Os objetivos da iniciativa foram enaltecer a importância arquitetônica e estrutural do Bloco E-1, um ícone não apenas para a EESC, mas também para a arquitetura moderna paulista e brasileira, e divulgar o nome dos seus projetistas. Palestras, registro em placa e inauguração de obra de arte integraram esse dia especial.

O Bloco E-1 foi construído na década de 1950, a partir do projeto do arquiteto e urbanista Hélio de Queiroz Duarte e do engenheiro Ernest Robert de Carvalho Mange, durante a gestão do então primeiro diretor da EESC, Theodoreto de Arruda Souto.

Coordenador do evento, o professor José Marcos Alves, docente do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação da EESC, enalteceu a relevância desse dia para a memória da USP.

“Considero esse um dia histórico na minha vida acadêmica, pela importância que tem o prédio E-1. Trata-se de um evento de homenagem a este prédio e seus projetistas, bem como um momento importante para dar à memória o merecido destaque.”

Professor Fernando Martini Catalano, diretor da EESC

Professor José Marcos Alves


A parceria Duarte e Mange

Uma das apresentações que marcaram o evento foi a do arquiteto e urbanista Alexandre Emílio Lipai, que trouxe o tema “Hélio Duarte, Moderno, Peregrino, Educador”, em que compartilhou com o público o histórico do arquiteto, um dos autores do projeto do edifício, reforçando a importância que Duarte dava para trabalhos em parceria e, especialmente, a excepcionalidade da construção do E-1.

Arquiteto e urbanista Alexandre Emílio Lipai

“Duarte dizia que o trabalho de um arquiteto é sempre obra educacional, ainda que ele não seja um professor. E quando mestre e arquiteto se juntam, então sua obra poderá ser duplamente exaltada. No caso da construção do E-1, podemos dizer que dois mestres e arquitetos se encontraram, Duarte e Mange, por uma convergência de circunstâncias e de afinidades, tornando-se sócios e responsáveis por um conjunto de obras importantes, representativas do movimento modernista nas décadas de 1950 e 1960”, exaltou Lipai.

Apresentando a biografia de ambos os projetistas do E-1, Lipai detalhou como a arquitetura de Le Corbusier, de quem Duarte e Mange eram admiradores, influenciou no projeto do edifício da EESC.

“Eles buscaram inspiração nos cinco pontos da arquitetura de Le Corbusier:  pilotis; laje plana livre; fachada livre; janela em fita; e o teto-jardim, além de outro, incluído por Lipai, o uso do concreto armado como material de excelência, pela alta resistência e plasticidade. que garantia a exequibilidade destes cinco pontos. Todos esses elementos se encontram no E-1, que projetado com o pensamento de máxima flexibilidade, o tornou uma obra icônica.”

Ao enfatizar a flexibilidade, Lipai ressaltou o peculiar método, sempre utilizado por Duarte e Mange,  ao conceberem os espaços para seus edifícios,  e especialmente para o projeto do E-1:  utilizavam não somente  três, mas  sete dimensões: “Eles não tratavam apenas das três que compõem a  geometria do espaço:  comprimento, largura e altura, mas também com os demais componentes interdisciplinares que devem fazer parte da concepção de um projeto de arquitetura,  como a quarta dimensão: o “tempo”, a dimensão antropológica (envolvendo a ergonomia); a dimensão sociocultural  e, por último,  a dimensão psicológica (individual e coletiva) envolvendo a relação humana com o lugar e atuando  em dois níveis de percepção e do uso dos espaços – o objetivo e o subjetivo.”

Ao finalizar sua apresentação de obras, apresenta o Edifício do Biênio da Escola Politécnica da USP, em parceria com o engenheiro Carlos Augusto Vasconcellos, obra que gerou o uso pioneiro de concreto protendido e de concreto especial de pega-rápida. Lipai reforçou o forte laço de parceria existente entre engenheiros e arquitetos ao longo da história e que  produziram obras icônicas importantes como o Masp de Lina Bo Bardi e José Carlos de Figueiredo Ferraz, Brasília de Oscar Niemeyer e Joaquim Cardozo, entre outros, mostrando-nos  que essas fortes parcerias traduziram-se  por estreitas conexões entre teoria e prática, entre profissionais que também eram professores, criando estratégias que resultaram em grandes e inovadores avanços tecnológicos,  de modo que profissão e ensino, atuando juntos, quase sempre produziram conhecimento novo”.

Em suas colocações finais, Lipai concluiu que o Humanista, Arquiteto, Educador, Poeta, Artista Plástico, Admirador e Pesquisador da Cultura Japonesa desde a adolescência, Hélio Duarte, transitou por dois ramos antagônicos da cultura humana: o ocidental e o oriental e, por esta postura, não era apenas interdisciplinar, mas transdisciplinar. 

Outras apresentações

A programação do evento teve início em 10 de novembro com a exposição “HÉLIO DUARTE – Moderno, Peregrino, Educador”, no Salão Primavera da EESC, com curadoria do Arq. Alexandre Emílio Lipai, autor do livro “HÉLIO DUARTE – Utopias Realistas”. A exposição compreendeu 11 pôsteres representando uma síntese de vida e obra de Hélio Duarte (humanista, arquiteto modernista, urbanista, educador, poeta, artista plástico, pesquisador da cultura japonesa) e um vídeo com imagens em drone do Edifício E-1-EESC captadas por Umberto Carlos Patracon (Cetepe-EESC).

A programação contou com participação do diretor da EESC, professor Fernando Martini Catalano, e incluiu outras apresentações.

O professor Francisco Antônio Rocco Lahr do Departamento de Estruturas da EESC enalteceu a relevância dos pilotis do E-1 que se abrem como o ramo de uma árvore suportando todo o peso da estrutura. O projeto da sua fundação permanece desconhecido porque um incêndio nos anos 70 atingiu o seu projeto descritivo.

Professor Francisco Antônio Rocco Lahr

Professor Miguel Antonio Buzzar

O arquiteto e urbanista, professor Miguel Antonio Buzzar, falou sobre “Relevância arquitetônica”, contextualizando a construção do edifício da EESC com o momento então vivido na arquitetura.

“É muito importante a gente poder discutir esses marcos históricos que compõem a memória da nossa atividade acadêmica, e o Bloco E-1 é, certamente, um desses marcos. Inclusive, ele merece um reconhecimento maior em termos de proteção patrimonial, o que deve incluir o tombamento estadual, por meio do Condephaat, órgão responsável por isso. Tem um valor histórico do ponto de vista de arquitetura moderna, um valor afetivo muito grande e um marco que, de fato merece proteção”, destacou Buzzar.

A arquiteta Sônia Lúcia Medeiros da Silva Costardi apresentou o tema “Portal Décadas – Uma visão própria de conceber uma escultura”. Sônia trouxe detalhes da obra, desde o que a motivou até as características do projeto. Elaborado em setembro de 2001, com cinco pórticos, para marcar os 50 Anos da EESC, em 2053, toda implantação deverá estar concluída, com 10 pórticos, celebrando o Centenário da Escola de Engenharia de São Carlos.

“O Portal Décadas está estruturado numa hierarquia de centros e sua geometria reforça o grande centro existente, o E-1. O Portal foi projetado pretendendo ser um marco para a Escola de Engenharia. E pelos atributos da arte, conceito e significado que a obra encerra, ultrapassa o território da academia. Projeta-se para um universo mais amplo, suscitando, em nossa memória, a trajetória, a vida de cada um de nós”, destaca Sônia.

Após as apresentações, o dia foi concluído com mais dois momentos, cujas ações foram financiadas pela turma de ingressantes na EESC em 1977, como forma de homenagem e gratidão à instituição.

O primeiro momento foi o descerramento da nova versão da placa de denominação do Bloco E-1, na qual passaram a constar os nomes do arquiteto Hélio de Queiroz Duarte e do engenheiro Ernest Robert de Carvalho Mange.

Placa de denominação do Bloco E-1

Na sequência, houve a apresentação pública da obra intitulada Edifício E-1 | EESC-USP, executada em 2024, in loco, pela artista potiguar Maria Nascimento. A obra retrata a facha do primeiro edifício do campus juntamente com Portal Décadas.

Quadro Edifício E-1 | EESC-USP, de Maria Nascimento

Sônia Lúcia Medeiros da Silva Costardi, professor José Marcos Alves e Maria Nascimento

“Por onde eu passo, tenho o hábito de fazer desenhos como forma de registro de agradecimento pelo acolhimento. Eu não sou da USP, mas amo a USP e a cidade de São Carlos. Para mim, é um sonho realizado ter uma obra de arte em uma instituição tão renomada”, destacou a artista.

O quadro, pintado in loco com carvão sobre tela e tinta a óleo, está instalado na antessala do Salão Nobre da Congregação da EESC.

As apresentações do evento podem ser assistidas no canal da EESC-USP no YouTube e no videocast sobre o evento no canal do INFORME USP no YouTube.

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