Integração de dados ajuda a conter desmatamento ilegal na Amazônia

Cientista investigam origem dos produtos comercializados e atestam confiabilidade da cadeia de suprimentos

Muitas toras de madeira cortadas e empilhadas uma em cima da outra, com o ângulo da fotografia mostrando a região do corte do tronco

Tanto as taxas de desmatamento quanto os dados do comércio madeireiro brasileiro são analisados no estudo – Foto: Pexels / Pixabay

O desmatamento na Amazônia já foi considerado uma situação fora de controle. Índices recentes, porém, indicam tendência de redução, devido principalmente aos mecanismos de controle implementados e às pesquisas científicas que viabilizaram um monitoramento eficaz das florestas. São várias vertentes de soluções nascendo dentro das universidades e uma delas, a que auxilia a conter a extração ilegal de madeira no Brasil, foi destacada na revista Nature Sustainability.

Um dos autores do artigo e coordenador do projeto é o professor Luis Gustavo Nonato, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP e pesquisador do Cepid-CeMEAI.

Segundo ele, a base do estudo está na análise da rede de comércio madeireiro no Brasil. “Ao implementar mecanismos de controle e regulamentações, o governo brasileiro conseguiu impactos positivos nas taxas de desmatamento”, disse. “Ao mesmo tempo, produziu dados importantes sobre o comércio madeireiro, uma vez que todo produto resultante da extração de madeira, desde toras brutas até madeira processada, que devem ser registrados nos sistemas de controle a fim de serem transportados e comercializados, permitindo a modelagem e análise da rede madeireira ao longo do tempo.”

Nonato observa que o grande desafio foi a integração de dados oriundos dos três principais sistemas de controle operando no Brasil. “Este estudo integra dados desses sistemas para criar redes de comércio de madeira, que ajudam a identificar empresas ou grupos que operam fora dos padrões esperados. Também propomos um método para rastrear prováveis cadeias de suprimentos de empresas madeireiras, abordando preocupações governamentais de longa data sobre a rastreabilidade da madeira”, explicou o autor.

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O pesquisador Luis Gustavo Nonato- Foto: Divulgação/CeMEAI

Entre os resultados, o estudo demonstra que certos componentes da rede de comércio de madeira operam sem conexões com florestas licenciadas, sugerindo que madeira não registrada é inserida nesses componentes, o que é ilegal. “Mostramos ainda como a análise da cadeia de suprimentos pode aumentar consideravelmente a confiança de consumidores na legalidade dos produtos de madeira adquiridos.”

O trabalho publicado na Nature Sustainability foi desenvolvido em parceria com Victor Russo, Bernardo Costa, Felipe Moreno Vera, Guilherme Toledo, Osni Brito de Jesus, Robson Vieira, Marco Lentini e Jorge Poco.

O pesquisador explica que a abordagem faz uso de dados já existentes nos sistemas de controle, evitando o emprego de tecnologias economicamente custosas e de difícil implementação, considerando que sistemas de rastreamento mais eficientes tendem a reduzir fraudes.

Para ele, além da redução do desmatamento ilegal em si e da preservação da biodiversidade, a confiabilidade sobre a origem dos produtos adquiridos aumenta a competitividade da madeira amazônica no mercado global, atraindo investimentos sustentáveis que fortalecem o setor.

“Estamos contribuindo ainda com a melhoria nas condições de trabalho e beneficiando as comunidades locais, uma vez que a extração e o comércio ilegal fomentam conflitos sociais que impactam principalmente as populações mais vulneráveis.”

Outro fator importante a ser destacado, segundo o pesquisador, é o fato de o modelo proposto ser adaptável a outros contexto, viabilizando soluções para problemas semelhantes que envolvam a modelagem e análise de redes comerciais e cadeias de suprimentos, abrindo caminho para projetos novos.

O artigo Assessing timber trade networks and supply chains in Brazil pode ser lido aqui.

Mais informações: e-mail contatocemeai@icmc.usp.br, Assessoria de Comunicação do CeMEAI

*Da Comunicação do CeMEAI, adaptado para o Jornal da USP

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