Proposta entra em vigor para ingressantes de 2027, com possibilidade de migração para alunos que ingressaram em 2025

Revisar, atualizar, inovar: o IQSC prepara uma nova estrutura curricular conectada às demandas da sociedade e ao bem-estar dos alunos | Imagem: Envato
Proposta entra em vigor para ingressantes de 2027, com possibilidade de migração para alunos que ingressaram em 2025
Com a proposta de oferecer aos estudantes um percurso mais flexível, integrado e conectado às demandas atuais de formação, o curso de Química do Instituto de Química de São Carlos (IQSC-USP) passará por uma reformulação curricular. A proposta, enviada à Pró-Reitoria de Graduação da USP no início de setembro, está em análise e deve entrar em vigor em 2027. Estudantes que ingressaram em 2025 terão a opção de migrar para a nova estrutura no momento da escolha de ênfase.“Nosso objetivo foi tornar o curso total flex, garantindo ao aluno autonomia para transitar entre habilitações e ênfases, com máximo aproveitamento das disciplinas”, explica o professor Júlio César Borges, presidente da Comissão de Graduação do IQSC. Segundo ele, a última grande mudança estrutural ocorreu em 2004 e, desde então, cresceu a necessidade de dinamizar o currículo, reduzir redundâncias, integrar teoria e prática e ampliar as possibilidades de escolha.
O que muda na prática
A atualização mantém as duas habilitações, Fundamental e Tecnológica, e as quatro ênfases tradicionais: Alimentos, Ambiental, Materiais e Gestão de Qualidade. A diferença está no equilíbrio entre as cargas horárias e na maior liberdade para a organização dos percursos formativos.
Entre as novidades, está a possibilidade do estudante da habilitação Fundamental cursar as ênfases de forma sistematizada, e não como optativas livres, como acontece atualmente. Haverá ainda a possibilidade de concluir a habilitação Tecnológica sem ênfase, destinada principalmente ao estudante que deseja o núcleo tecnológico completo para registro no Conselho Regional de Química (CRQ), sem necessidade de aprofundamento temático. Os estudantes poderão também migrar de uma ênfase para outra conforme desejarem, ou mesmo de uma habilitação para outra, sem as restrições que existiam na estrutura original de 2004.
Ao longo dos últimos anos, houve o redimensionamento global da carga horária, a qual reduziu o total de cerca de 4 mil para 3 mil e 300 horas na habilitação Fundamental. Reduções similares também ocorreram nas ênfases da habilitação tecnológica. A diminuição ocorreu principalmente pela revisão dos créditos de trabalho, que foram ajustados para incorporar a carga horária extensionista. Com isso, o curso passa a reservar 10% da carga horária para atividades de extensão, em conformidade com as diretrizes do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Estadual de Educação. No caso da ênfase em Materiais, por exemplo, houve condensação de disciplinas sobrepostas para abrir espaço a uma nova disciplina experimental, que tem 4 créditos-aula. Já em Alimentos, o bloco específico foi reorganizado: a carga horária caiu de 215 para 199 créditos-aula, combinando obrigatórias e eletivas e permitindo maior personalização da formação.
“Não haverá perda de conteúdo porque fizemos uma revisão minuciosa e eliminamos redundâncias para concentrar esforços nos pontos essenciais da formação”, destaca o professor Borges.
Outra mudança relevante é a redução do prazo mínimo para conclusão da habilitação Fundamental, de oito para sete semestres. Isso permite que alunos com bom desempenho acelerem sua trajetória. Ao mesmo tempo, aqueles que desejarem aprofundar sua experiência em pesquisa e extensão poderão seguir um percurso mais longo, já que a média de tempo que os estudantes levam para concluir o curso na habilitação Fundamental é de dez semestres.
De acordo com o professor Júlio, a reformulação não para por aqui: já está sendo elaborada uma proposta para a criação de certificados de estudos especiais para os estudantes que concluírem uma segunda ênfase. A iniciativa, planejada para 2026, dará aos estudantes um certificado emitido pelo IQSC, além da identificação das disciplinas cursadas no histórico escolar, incentivando os alunos a cursarem, se assim desejarem, mais percursos formativos.

“Por conta do calendário da USP e dos editais de ingresso, a nova matriz curricular só poderá constar no catálogo a partir de 2027”, explica o professor Júlio C. Borges, presidente da Comissão de Graduação do IQSC | Foto: Divulgação/IQSC
Como a atualização foi construída
A necessidade de revisar a estrutura surgiu em 2019, quando a diretoria do IQSC identificou a queda na procura pelo curso, influenciada, entre outros fatores, pelo aumento da oferta de cursos de graduação em outras instituições. A taxa de evasão do curso de Química também era uma preocupação. Embora considerada baixa em comparação a outros cursos de exatas, essa taxa era elevada quando contrastada com áreas como biológicas ou médicas. Na ocasião, a diretoria conduziu um estudo com os alunos em que ficou constatado que as habilitações e ênfases eram valorizadas e deveriam ser preservadas, mas que deveria haver ajustes que trouxessem mais flexibilidade.
“O estudo foi concluído no início da pandemia, em 2020, e aí tudo mudou. Só conseguimos retomar as discussões em 2022”, lembra o professor Julio.
As discussões se intensificaram em 2023, em reuniões conduzidas pela Comissão de Graduação com docentes, estudantes e representantes do Programa de Educação Tutorial (PET) e do Centro Acadêmico (CA).
Segundo Borges, além de responder a demandas pedagógicas, a revisão também buscou equilibrar a carga horária das ênfases, já que algumas eram mais extensas e acabavam influenciando a escolha dos alunos.
“A carga total era de aproximadamente 4 mil horas, muito acima das 2.400 exigidas pela Diretriz Curricular Nacional para cursos de Bacharelado em Química. Isso fazia com que a média de tempo de conclusão fosse de 10 semestres para a habilitação Fundamental e 11 para a Tecnológica, em parte porque muitos estudantes optam por prolongar sua trajetória para aprofundar iniciação científica, estágio curricular ou distribuir as disciplinas em um ritmo mais equilibrado”, explica.
Expectativas e impactos
A expectativa é que a mudança resulte em maior engajamento estudantil, melhor desempenho acadêmico e maior integração entre as disciplinas de graduação, pesquisa por meio da Iniciação Científica e atividades extensionistas.
“O que muda é a forma de organizar o que se ensina e a liberdade do aluno para desenhar seu caminho, sem perder de vista a solidez da formação que caracteriza o IQSC”, afirma Borges.
Ele reforça que a revisão reafirma o compromisso institucional com uma formação de excelência, atenta às demandas da sociedade e às diretrizes da USP. “Temos uma tradição forte em pesquisa, produção científica de alto impacto e infraestrutura de ponta. Queremos que o aluno veja no IQSC um lugar de desafios positivos, em que pode crescer e se desenvolver plenamente”, finaliza.
Reportagem: Gabriele Maciel, da Fontes Comunicação Científica