Legado de professora do ICMC é celebrado com homenagem póstuma em premiação internacional de matemática

Durante o Mathematical Congress of the Americas, em Miami, Maria Aparecida Soares Ruas foi reconhecida por suas contribuições à ciência

 

Cidinha foi homenageada no Mathematical Congress of the Americas, em Miami, por suas contribuições para a ciência internacional (Crédito da imagem: Arquivo Pessoal)

 

Reconhecer as notáveis contribuições para o fortalecimento da colaboração e do desenvolvimento da pesquisa matemática nas Américas é o objetivo do Americas Prize, homenagem recebida este ano pela professora Maria Aparecida Soares Ruas, durante o Mathematical Congress of the Americas (MCA) 2025, evento realizado no último dia 22 de julho, em Miami. Carinhosamente conhecida como Cidinha, a docente era professora emérita do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, e faleceu no dia 30 de junho.

A entrega do prêmio foi marcada por forte emoção: sua filha, Juliana, esteve presente no evento sediado no Instituto de Ciências Matemáticas das Américas (IMSA, sigla em inglês), da Universidade de Miami, e recebeu a honraria póstuma em nome da mãe, representando seu legado e a trajetória que impactou profundamente a matemática brasileira e internacional. Antes de sua partida, a docente foi informada sobre a premiação.

O Mathematical Congress of the Americas é o principal congresso quadrienal promovido pelo Mathematical Council of the Americas (MCofA), rede que reúne sociedades e institutos de pesquisa de todo o continente americano. O Americas Prize, por si só, é uma das mais prestigiadas condecorações da matemática no continente e destaca pesquisadores cuja atuação fomenta a cooperação internacional e a excelência científica.

Cidinha ingressou no ICMC como docente em 1981, após concluir o mestrado e o doutorado na própria instituição. Ao longo das décadas, tornou-se uma referência nacional e internacional na área de Teoria de Singularidades. Com mais de 80 artigos científicos publicados em periódicos internacionais, cinco livros produzidos e dezenas de alunos orientados em todos os níveis — da iniciação científica ao pós-doutorado —, deixou um legado duradouro no ensino e na pesquisa.

 

Filha de Cidinha, Juliana recebeu o Americas Prize como parte da homenagem póstuma a sua mãe, eterna referência dentro do ICMC (Crédito da imagem: Arquivo Pessoal)

 

Pesquisadora reconhecida em todo o mundo, Cidinha inspirou uma legião de matemáticos e cientistas das Américas e de todo o globo com suas pesquisas, sua dedicação e seu compromisso com o avanço do conhecimento. Seu trabalho não apenas elevou o patamar da matemática brasileira, como também fortaleceu sua inserção no cenário internacional.

Ao longo da carreira, foi membra da Academia Brasileira de Ciências (ABC), integrou o Comitê de Assessoramento de Matemática e Estatística do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e teve papel central na Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), da qual foi sócia-fundadora e dirigente. Em janeiro deste ano, foi reconhecida com o Prêmio Latino-Americano de Liderança Matemática, concedido pelo IMSA, e, em dezembro de 2024, foi eleita membra titular da Academia Mundial de Ciências (TWAS).

No ICMC, além da sólida produção acadêmica, ocupou cargos de liderança como chefe do Departamento de Matemática, presidente da Comissão de Pós-Graduação (em duas gestões) e vice-diretora do Instituto. Sua atuação influenciou decisivamente o fortalecimento institucional da matemática na universidade e no país.

A homenagem recebida no MCA 2025 reforça a dimensão internacional da contribuição de Cidinha e eterniza seu papel como uma das mais influentes pesquisadoras das Américas.

O ICMC no evento A cerimônia contou com a presença de diversos pesquisadores do grupo de Singularidades da USP São Carlos e de outros grupos de pesquisa, que participaram ativamente da programação científica do evento. Entre os professores do ICMC presentes no evento estavam Miriam Manoel, Guilherme Silva, Daniel Fadel, Márcia Federson e Regilene Oliveira.

Para Regilene, a experiência no congresso foi enriquecedora. “O evento foi muito interessante e produtivo. Tivemos ótimos palestrantes, sessões especiais com temas diversos e muitos participantes da América, em especial da América Latina. Em relação à minha área de atuação, havia sessões de grande interesse, inclusive com sobreposição de horários, demonstrando a intensidade da programação. Também houve oportunidades de interação com pesquisadores de outras áreas e países, como México e Argentina, o que proporcionou trocas ricas de ferramentas”, afirmou a docente.

 

Cinco professores do ICMC marcaram presença em Miami no Congresso e acompanharam a homenagem à Cidinha (Crédito da imagem: Arquivo Pessoal)

 

Regilene também expressou o desejo de que, em futuras edições, mais pesquisadores de diferentes regiões das Américas e, especialmente, mais jovens e mulheres possam estar presentes no Mathematical Congress of the Americas. “Temos excelentes pesquisadores em toda a América, por isso desejo que, nas próximas edições, possamos contar com uma presença maior de jovens talentos, inclusive mulheres. É muito importante que jovens pesquisadores, em especial de nosso grupo, tenham oportunidade de vivenciar semanas como essa, intensas e inspiradoras”, encerrou.

 

Texto: Matheus Martins Fontes, da Fontes Comunicação Científica 

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