Mais de 55% dos alunos que ingressaram na USP em 2024 são de escolas públicas

Foram quase 6 mil alunos de escolas públicas e cerca de 2,9 mil estudantes pretos, pardos e indígenas

Pintura de rosto de calouro do Instituto de Geociências durante a Calourada 2024 – Foto: Julio Cesar Bazanini/USP Imagens

A USP alcançou o índice de mais de 55% de ingressantes vindos de escolas públicas e de pretos, pardos e indígenas (PPI). Em 2024, do total de 10.753 vagas preenchidas, 5.954 (55,4%) são de estudantes que cumpriram o ensino médio exclusivamente em escolas públicas (EP), incluindo 2.965 (27,6%) autodeclarados PPI. No ano passado, esses índices foram de 54,1% e 27,2%, respectivamente.

Esses dados se referem às três formas de ingresso adotadas pela USP neste ano: a Fuvest, o Enem USP e o Provão Paulista, exame promovido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para garantir o acesso de estudantes de escolas públicas a vagas nas universidades paulistas.

Na USP, nesta primeira edição do Provão Paulista, foram oferecidas 1.500 vagas; quase 400 mil inscritos e 260 mil estudantes fizeram as provas. Do total de vagas oferecidas pela USP nesta modalidade, 1.365 foram preenchidas.

Carlos Gilberto Carlotti – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

“Nossa universidade se aproximou do ensino público com o Provão Paulista, passou a ser conhecida por esses estudantes e se tornou uma possibilidade real para que eles possam prosseguir seus estudos”, destaca o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior.

O pró-reitor de Graduação, Aluísio Augusto Cotrim Segurado, explica que um dos fatores que contribuíram para esse número de ingressantes de escolas públicas e PPI é que, em 2023, foi implementada uma alteração na forma de convocação dos estudantes inscritos para as políticas afirmativas.

Todos os candidatos concorreram, primeiramente, às vagas destinadas à Ampla Concorrência (AC), independentemente da categoria em que se inscreveram. Dessa forma, foram preenchidas antes as vagas de Ampla Concorrência, depois as vagas para Escola Pública, seguindo os critérios para essas vagas, e só depois as vagas para PPI.

Com essa mudança, 118 candidatos autodeclarados PPI foram aprovados pela AC e 726 em vagas reservadas para EP. Quanto aos estudantes egressos de escola pública, mas não PPI, 392 ingressaram pela AC.

“Neste processo seletivo, identificamos um fenômeno importante: muitos candidatos, embora egressos das escolas públicas e também PPI, se inscreveram somente em vagas de ampla concorrência, isto é, optaram por não disputar as vagas reservadas para as políticas afirmativas”, acrescenta o pró-reitor adjunto de Graduação, Marcos Garcia Neira.

A reserva de vagas para estudantes de escolas públicas e para PPI foi adotada pela USP em 2016, para ampliar a inclusão social e a diversidade entre a comunidade acadêmica.

Em 2024, maior número de vagas foi preenchido em comparação ao ano passado: neste ano, das 11.147 vagas totais oferecidas, nas três modalidades, 96,5% foram preenchidas. Em 2023, essa porcentagem foi de 95,6%.  As vagas remanescentes são disponibilizadas para transferência interna e externa.

“Como muitos PPI, sou a primeira pessoa da família a entrar em uma universidade pública”

Arthur Silva Santos – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

O aluno Arthur Silva Santos ingressou no curso superior de Audiovisual da USP na categoria PPI. Para ele, os principais desafios para entrar na Universidade foram superar o aprendizado defasado na escola e conciliar estudo e trabalho.

“Esperava encontrar um ambiente que fosse fértil para as ideias novas e um senso de comunidade. Encontrei justamente isso, o senso de comunidade no departamento [de Cinema, Rádio e Televisão] me surpreendeu muito. Como muitos PPI, sou a primeira pessoa da família a entrar em uma universidade pública e o sentimento é de uma conquista coletiva”, conta.

“Na primeira vez que visitei o campus, ainda na escola, pela diferença na quantidade de pessoas não brancas, eu não conseguia me imaginar fazendo parte dele. Houve conquistas que, sem as quais, eu não estaria aqui, mas ainda existe um caminho longo até que esta universidade fique com a cara do povo”, reflete.

“Estudar na USP é, de fato, melhor que sonhar”

Letycia Barbosa de Lima – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A estudante Letycia Barbosa de Lima é ingressante no curso de Física da USP. Natural de Maceió, em Alagoas, estudou em escola pública. Ela conta que, por não ter condições financeiras para vir até São Paulo prestar o vestibular da Fuvest, sua opção foi prestar o Enem. “Por vir de uma escola pública, eu me sentia insegura. Eu sentia, frequentemente, que precisava estudar muito mais do que o resto das pessoas para superar os déficits.”

Dentre os maiores desafios no processo de ingresso na Universidade, Letycia conta que controlar a ansiedade e a insegurança foi um dos maiores. “Antes de entrar, eu tinha muitas expectativas: boas oportunidades de emprego, contato com pesquisa de ponta, aulas de excelência com profissionais renomados. Todas elas se realizaram e algumas eu nem sequer imaginava. Estudar na USP é, de fato, melhor que sonhar”, comenta ela.

Texto: Adriana Cruz, Júlia Queiroz e Maria Clara Portela

Por Jornal da USP

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