Dia 6 de maio foi comemorado o Dia Nacional da Matemática. Descubra, nessa reportagem, o que pode acontecer quando os cientistas da área, sempre preocupados em encontrar padrões, se deparam com fenômenos imprevisíveis

O que há em comum entre o sistema de ônibus descentralizado de Cuernavaca e as partículas minúsculas a que chamamos átomos? A matemática explica – Foto: Wikimedia Commons
O mundo aleatório da matemática pode ser um pouco diferente do que é o mundo aleatório para os demais habitantes do planeta Terra. Quando pesquisadores ou pesquisadoras das ciências exatas se deparam com o imprevisível, eles ainda acreditam que possa existir algum padrão para explicar aquele fenômeno.
Em 1999, enquanto estava sentado em um ponto de ônibus na cidade de Cuernavaca, no México, o cientista Petr Seba, da República Tcheca, ficou intrigado: viu alguns jovens entregando tiras de papel aos motoristas de ônibus em troca de dinheiro. Descobriu que eles eram olheiros, contratados pelos motoristas para registrarem quando o ônibus à frente saía do ponto. Como trabalhavam de forma avulsa, os motoristas tentavam maximizar os lucros usando esse sistema. Assim, colocavam o pé no acelerador caso o ônibus anterior tivesse partido há muito tempo para que não fossem ultrapassados pelo próximo motorista ou, pelo contrário, reduziam a velocidade a fim de que houvesse mais passageiros esperando na próxima parada.
Para estudar matematicamente como aquele sistema aparentemente aleatório funcionava, Seba se uniu a outro pesquisador, Milan Krbálek. Eles coletaram milhares de dados de partida e chegada dos ônibus e os analisaram usando computadores. Resultado, em 2000, publicaram um artigo explicando as propriedades estatísticas daquele sistema. “O que foi observado é que, quando se media, repetidas vezes, o espaçamento entre ônibus consecutivos, se via o mesmo padrão que era observado nos níveis de energia de partículas subatômicas”, revela Guilherme Lima Ferreira da Silva, jovem pesquisador Fapesp e colaborador do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.

Imagem: Pixabay
À primeira vista, o sistema de ônibus descentralizado de Cuernavaca nada teria a ver com as partículas minúsculas a que chamamos átomos. Invisíveis a olho nu, os átomos formam tudo o que nos cerca, e nada se parecem com uma esfera sólida como muitos de nós imaginamos. Na verdade, um átomo é como um sistema planetário elétrico minúsculo, composto de diversas partes ainda menores, as partículas subatômicas. Algumas delas são capazes de transportar energia, tal como os ônibus de Cuernavaca transportam passageiros.

Guilherme Lima Ferreira da Silva – Foto: ICMC/USP
“Em torno de 1950, vários fenômenos em física relacionados com partículas subatômicas foram observados. Mas, naquele momento, não havia matemática suficiente para poder descrevê-los e explicar o que era observado em experimentos. Nós só chegamos a uma compreensão melhor desses fenômenos no final da década de 1990 e começo dos anos 2000, devido a grandes avanços matemáticos”, explica Silva. Ele diz que essas novas ferramentas matemáticas funcionam como uma espécie de óculos. Assim, quando os cientistas usam os óculos para enxergar de perto, em nível subatômico, eles conseguem ver o padrão de níveis de energia nas partículas que moram dentro dos átomos. Ao trocar os óculos, são capazes de enxergar o mesmo padrão de espaçamento nos ônibus de Cuernavaca.