Caetano Ranieri explica o funcionamento da patente USP que ajuda o planejamento das autoridades nos casos de risco de inundações
Neste ano, as enchentes no Rio Grande do Sul (RS), causadas pelo grande volume de chuvas, geraram estragos imensos. De acordo com o boletim da Defesa Civil Estadual liberado em maio, foram 161 mortos e 82 desaparecidos. Além disso, RS tinha 581.633 desalojados e 71.503 pessoas em abrigos. Para tentar minimizar o dano de tragédias como essa, a patente Mecanismo de Monitoramento Remoto de Rios foi criada.
“Prevenir essas enchentes seria ter uma obra de engenharia que impedisse que a enchente ocorresse. No caso desse sistema, ele é para monitoramento, para que, em situações de risco, você possa alertar a população ou acionar alguma estratégia de contenção de danos“, explica Caetano Ranieri, pós-doutorando do Instituto de Ciências Matemáticas e Computação da USP São Carlos.
Como funciona
“A patente trata de um dispositivo mecânico, um painel, instalado na parede de um córrego e, por meio de uma câmera, a gente consegue pegar essa imagem para reconhecer a altura do rio baseado nesse painel”, detalha o pesquisador. O rio fica conectado a uma rede móvel de monitoramento remoto para que as autoridades — seja a Defesa Civil ou outra organização — possam tomar atitudes caso o nível do córrego se eleve rapidamente.
Segundo Ranieri, o baixo custo de implementação e de manutenção é um ponto importante quando comparado a outros sistemas de monitoramento. Existem alguns de pressão, que são difíceis de instalar e precisam ficar submersos — além de estarem sujeitos ao assoreamento. Outros funcionam com ultrassom, colocados na superfície para medir a altura da coluna d’água, mas também são de difícil manutenção.
“No nosso caso, uma vez que o painel esteja bem fixado à parede do córrego, a câmera dificilmente tem manutenção e você tem câmeras de vigilância com infravermelho na faixa dos R$ 400, muito mais barato do que um sensor ultrassônico e de pressão e muito mais fácil de encontrar e adquirir”, comenta o pesquisador.
Diferencial
No painel, a ideia desenvolvida por Ranieri também envolve microperfurações, já que “com elas você tem o depósito de alguns detritos, de impurezas, e esse painel acaba ficando mais sujo no lugar que tem mais água frequentemente”. Isso implica no modelamento de um melhor padrão de comportamento desse córrego.
Como já citado, é possível encontrar diversos tipos de sensores, bem como sistemas de medição. “Você encontra até comercialmente algumas soluções de visão computacional para fazer a medição do nível de água e de outros fluidos, mas essas aferições não têm a questão da modelagem natural do curso de água onde ele está instalado. Nesse sentido, nós temos esse diferencial da parte das microperfurações, que seria para aproveitar mesmo o comportamento do rio e modelar melhor o painel”, ressalta o pesquisador.
Texto: Alessandra Ueno – Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
Arte: Diego Facundini – Sob supervisão de Moisés Dorado
Por Jornal da USP