Identificado no rio Paraguai, o naiavírus surpreende por seu genoma inédito e cauda flexível; descoberta pode ampliar conhecimentos sobre a evolução celular na Terra

Tomografia eletrônica de partículas de naiavírus, destacando o envelope externo (magenta) e o capsídeo (azul claro). Os experimentos foram repetidos independentemente três vezes, com resultados semelhantes – Imagem: Retirada do artigo

De A a C, partículas purificadas do naiavírus; em D, naiavírus no citoplasma da ameba de vida livre Acanthamoeba castellanii – Imagem: Retirada do artigo
Vírus canônicos (como o da dengue ou HIV) são parasitas obrigatórios, ou seja, necessitam de um hospedeiro para sobreviver pois não conseguem se reproduzir ou se alimentar de forma independente. Por esse motivo, eles carregam pouco material genético e dependem inteiramente do metabolismo da célula hospedeira para garantir a transcrição e tradução de suas enzimas.
O naiavírus, por outro lado, possui uma série de genes associados à tradução proteica. “Vários dos genes, que a gente imaginaria que o vírus usaria da célula hospedeira, ele traz com ele”, diz Thiemann. Foram identificadas 17 proteínas envolvidas na transcrição e processamento de RNA, além de 15 relacionadas à replicação, recombinação e reparo do DNA — o que pode indicar que a transcrição de genes virais ocorra inteiramente no citoplasma da célula infectada.
A cauda de aparência membranosa chamou atenção por sua flexibilidade e variação de tamanho. Os pesquisadores observaram que ela é capaz de se dobrar, esticar e encolher em resposta ao ambiente — uma característica rara entre os vírus conhecidos. “Fora a biodiversidade de fauna e flora, percebemos que Brasil, e o Pantanal especialmente, são um verdadeiro hotspot de diversidade viral”, afirma ao Jornal da USP.

A cidade de Porto Murtinho, de 12 mil habitantes, é considerada a última guardiã do rio Paraguai, sendo também portal-sul do Pantanal – Foto: Pedro Spoladore/Wikimédia
Por Jornal da USP