É preciso revisar as normas que atestam a qualidade das lentes de óculos escuros, especialmente com relação aos limites de proteção UV aceitos. Assim indicam os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP pelo pesquisador Mauro Masili e pela professora Liliane Ventura, ambos do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (SEL). O trabalho, intitulado Equivalence between solar irradiance and solar simulators in aging tests of sunglasses, foi publicado na revista internacional Biomedical Engineering OnLine e desenvolvido no Laboratório de Instrumentação Oftálmica do SEL.
A exposição ao sol pode deteriorar os óculos com o passar do tempo, e as lentes podem se tornar mais claras, alterando a categoria em que estão classificadas. O desgaste pode também diminuir a resistência de impacto das lentes, deixando-as mais suscetíveis a estilhaçamentos. Os padrões nacionais e regionais vigentes requerem que as lentes proporcionem níveis de proteção UV relacionados à transmitância da luz visível, o que define a categoria em que elas são classificadas.
O teste de durabilidade utilizado na Europa, Brasil, Nova Zelândia e Austrália estima o decaimento da qualidade da proteção em razão da exposição solar ao longo do tempo. Esse procedimento expõe os óculos a um simulador solar por 50 horas, a uma distância de 30 cm de uma lâmpada apropriada de 450 W, o que equivale a dois dias em um ambiente natural durante o verão, ou quatro dias no inverno.
Uma pesquisa indicou que a maioria dos brasileiros usa os mesmos óculos por, no mínimo, dois anos em um período de duas horas por dia. Portanto, o padrão de qualidade necessita garantir que a proteção seja mantida por todo esse tempo. O estudo foi realizado em 27 capitais brasileiras, e dados de 110 capitais de países do hemisfério norte também foram incluídos. Essa pesquisa continua em andamento, e os interessados em responder a um breve questionário podem fazê-lo clicando aqui.
Liliane relata que “50 horas de exposição ao simulador solar correspondem a 23,5 horas de exposição à luz solar natural em São Paulo. A maioria dos brasileiros troca de óculos a cada dois anos. A fim de testar se eles são seguros para se usar nesse período, considerando que seriam utilizados durante duas horas por dia, eles deveriam ser testados por 134,6 horas a uma distância de 5 cm. Embora nossos cálculos estejam baseados principalmente em cidades brasileiras, outros países também podem se beneficiar, especialmente aqueles localizados em latitudes similares”.
A exposição irá variar entre as latitudes mundiais, com países tropicais sendo os de maior preocupação, uma vez que os índices UV são extremamente elevados no verão e permanecem altos no inverno. Portanto, óculos utilizados em países do hemisfério sul podem necessitar de substituição mais frequentemente que aqueles utilizados no hemisfério norte, uma vez que, de forma geral, países do hemisfério norte estão situados em latitudes mais elevadas que os países do hemisfério sul.
A professora acrescenta: “Necessitamos de uma adequação na potência da lâmpada, no tempo de exposição, na distância do bulbo e no controle da temperatura na câmara de teste. Para superar as atuais limitações, devemos também aumentar o tempo durante o qual as lentes são expostas à lâmpada ou diminuir a distância entre as lentes e ela. Podemos também considerar utilizar uma lâmpada de alta potência, variando entre 450 W e 1600 W”. Vale destacar que a equivalência calculada entre o simulador e a luz natural é uma estimativa, pois quando um indivíduo usa os óculos as lentes não são diretamente expostas ao sol, pois são usualmente utilizadas na posição vertical.
O controle da qualidade de bloqueio dos raios UV é de extrema importância, pois uma proteção insuficiente poderia levar a modificações patológicas na córnea e na estrutura interna do olho. Entre as complicações que poderiam ocorrer estão o edema (inchaço do olho que pode distorcer a visão), pterígio (crescimento de um tecido rosado na parte branca do olho que pode interferir na visão), catarata (embaçamento do cristalino do olho) e danificação da retina.
Mais informações:
Professora Liliane Ventura
E-mail: lilianeventura@usp.br
Pesquisador Mauro Masili
E-mail: masili@usp.br
Por Assessoria de Comunicação da EESC em parceria com a Biomedical Engineering OnLine