Por que o desafio de ensinar e aprender matemática é um problema de comunicação?

A professora Yuriko Yamamoto Baldin explica as diferenças entre a linguagem matemática e a linguagem que usamos no dia em dia em um bate-papo descontraído no terceiro episódio do programa “A matemática no divã”

 

Tal como a língua é patrimônio cultural de um país, para Yuriko, a matemática também é um patrimônio cultural, mas que é compartilhado por toda a humanidade.

 

Ela nasceu no Japão e, quando chegou ao Brasil, aos 7 anos, só sabia, em português, dizer “obrigado”, “bom dia” e contar até 10. “Mergulhei em um mundo em que eu precisava me comunicar desesperadamente”, lembra-se a professora Yuriko Yamamoto Baldin. Então, foi um alívio quando a garota descobriu, em uma aula de matemática, que a soma de dois mais dois era igual a quatro, exatamente como ela havia aprendido no primeiro ano da educação básica lá no Japão. Não era preciso saber português para entender aquele conjunto de símbolos: 2 + 2 = 4.

Começava a se construir ali uma percepção única sobre a matemática, que foi se consolidando ao longo da extensa carreira dessa pesquisadora, que é hoje professora sênior na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Tal como a língua é patrimônio cultural de um país, para Yuriko, a matemática também é um patrimônio cultural, mas que é compartilhado por toda a humanidade.

Para ela, as dificuldades enfrentadas na educação matemática estão intimamente relacionadas à maneira como quem ensina se comunica com quem precisa aprender. “Para você apresentar uma coisa desconhecida para uma pessoa que não sabe, e está com vontade de conhecer, você tem que falar de forma que essa pessoa sinta-se satisfeita com a resposta que recebe. Ou seja, você tem que usar uma linguagem que, de fato, comunique as ideias essenciais.”

A professora diz que, intuitivamente, as crianças vão aprendendo matemática no dia a dia, enquanto brincam, jogam, e convivem em sociedade. Mas que, de repente, algumas têm um choque quando estão na aula de matemática e começam a se perguntar: “O que será que esse professor está falando? Por que tem que ser desse jeito? O que é para fazer?” Segundo Yuriko, dessa maneira, a matemática acaba se transformando apenas em um procedimento, e os porquês deixam de ser explicados. “É como se você aprendesse a marchar assim: olhe e marche. Você não sabe nem para onde está marchando nem por quê.”

Quando não há compreensão dos motivos pelos quais estão tentando nos ensinar algo, o aprendizado perde o sentido. A matemática vai se tornando, então, uma desconhecida que nos assusta. Para a professora, não podemos perder a oportunidade de ensinar à futura geração a linguagem matemática e as outras tantas linguagens que permeiam o mundo, como a linguagem computacional. “Se a gente falar que, na verdade, parece que tudo se resolve com as ideias matemáticas, vocês vão entender a paixão que eu tenho. Foi a matemática que me acompanhou em toda minha vida pessoal e profissional, e ainda me ajuda a viver o presente, com a alegria de ensinar e aprender sempre”, conclui Yuriko.

Formada no Bacharelado e na Licenciatura em Matemática pela Unicamp, onde também fez mestrado e doutorado, ela foi pioneira na implementação da Olimpíada Brasileira de Matemática para as Escolas Públicas (OBMEP) na região de São Carlos. Aposentada, continua atuando como professora sênior, orientando alunos e professores, e se dedicando a pesquisas em  ensino da matemática.

No terceiro episódio do programa A matemática no divã, veiculado na Rádio UFSCar no último domingo, 2 de julho, às 10 horas, a professora dá vários exemplos do quanto a linguagem matemática é diferente da linguagem que usamos no dia a dia. Para ouvir o bate-papo na íntegra, basta acessar o site da Rádio UFSCar ou o canal do podcast no Spotify.

A matemática no divã é um projeto do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, e foi um dos 47 selecionados na última chamada pública da Rádio UFSCar, que pode ser sintonizada em 95,3 FM (disponível para São Carlos e região), acessada por aplicativo ou pelo site www.radio.ufscar.br em qualquer lugar do mundo. Além disso, todos os episódios A matemática no divã podem ser replicados livremente, pois possuem uma Licença Creative Commons – Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.

 

Programa mensal de entrevistas busca mudar a percepção pública sobre um campo do conhecimento que ainda é considerado de difícil compreensão e acessível apenas a uma minoria capaz de decifrar sua linguagem

 

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP
Foto: Ana Luísa Carreira de Santiago

 

 

Para escutar “A matemática no divã”
Spotify: https://icmc.usp.br/e/32d09
Rádio UFSCar: http://www.radio.ufscar.br/vPodcast/a-matematica-no-diva
Site do ICMC: www.icmc.usp.br/noticias/podcast

Mais informações
Assista à palestra mencionada na entrevista, ministrada recentemente pela professora:
https://www.youtube.com/live/9f6PAkWjMT4?feature=share

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