Tecnologia e empreendedorismo são duas palavras cada vez mais presentes no cotidiano dos jovens. Mesmo assim, nem todos têm acesso ou condições de colocar em prática esses conceitos. Com isso em mente, alunos da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP iniciaram em 2014 o projeto Semente, em parceria pedagógica com outro projeto da Universidade, o Pequeno Cidadão.
O Pequeno Cidadão, que atualmente atende 220 crianças, existe desde 1996 e é uma iniciativa da USP em São Carlos com patrocínio da empresa de prestação de serviços profissionais KPMG. O objetivo é complementar a formação e a educação de alunos da rede pública da cidade com idades entre 10 e 14 anos por meio de atividades esportivas e culturais, além de dar reforço em áreas como matemática e português.
Leonardo Ruli, estudante de Engenharia de Produção na EESC, é um dos fundadores do projeto Semente, que desde o princípio atuou em conjunto com o Pequeno Cidadão. “Eles trabalham exatamente com a faixa etária pela qual nos interessávamos, e nosso projeto traria para as crianças do Pequeno Cidadão uma nova área de conhecimento: a tecnologia. Então conversamos e eles gostaram da ideia e abriram esse espaço para nós. É uma parceria muito proveitosa”, afirma.
O jovem explica que o Pequeno Cidadão faz uma seleção entre os inscritos no projeto, analisando caso a caso e buscando aqueles que mais necessitem de amparo, seja por questões financeiras, familiares ou educacionais. Ao firmar a parceria, o Semente traçou um planejamento para chegar a 2017 com condições de atender todas as crianças do Pequeno Cidadão.
“Começamos em 2014 com turmas do sexto ano, fomos evoluindo e ano que vem já trabalharemos com turmas do nono ano, e pela primeira vez vamos atender todos os inscritos no Pequeno Cidadão”, explica Leonardo. Em 2016, o Semente atendeu 120 crianças entre o sexto e o oitavo anos do ensino fundamental, em turmas matutinas e vespertinas, com 40 voluntários que se dividem em equipes para planejar e executar as aulas e atividades de cada turma.
Os voluntários são alunos de graduação e pós-graduação, além de dois professores da USP que trabalham como orientadores. Leonardo afirma, porém, que o projeto não se restringe à USP, e que há planos para expandi-lo de forma a receber voluntários interessados de outras universidades, como a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). As crianças atendidas são todas vinculadas ao projeto Pequeno Cidadão.
Inspirados por estudos na área de educação e pelo trabalho de escolas com métodos inovadores mundo afora, os membros do projeto Semente têm a filosofia do aprendizado na prática, ou “mão na massa”, como diz Leonardo.
“Nenhuma das nossas aulas é no modelo expositivo tradicional, em que o professor só chega e explica a matéria para os alunos. A cada atividade, propomos um desafio diferente para os alunos entenderem por eles próprios como funciona a ferramenta que estão estudando e como ela pode ser útil em suas vidas e no seu aprendizado, e esses desafios vão ficando mais complexos à medida que as crianças avançam”.
Brincar e aprender
Um dos primeiros desafios, para as turmas de sexto ano, é uma caça ao tesouro cujas respostas para as pistas espalhadas pelo campus da USP em São Carlos devem ser buscadas no Google e apontam coordenadas num mapa para chegar ao objetivo. Com isso, as crianças aprendem a usar melhor o Google e também o conceito de coordenadas.
Outra atividade envolve robôs de Lego que devem ser programados para percorrer um determinado trajeto sobre um mapa do Brasil entre uma capital e outra. “Isso apresenta aos alunos noções de geografia e programação, que são muito interessantes para desenvolver o raciocínio lógico”, diz Leonardo.
Mais adiante, no sétimo ano, os alunos têm um projeto para desenvolver em várias etapas ao longo do semestre, no que é chamado de “ciclo de desenvolvimento de produtos”. “Divididos em grupos, os estudantes pensam num projeto de uma casa, um carro ou algo do interesse deles e fazem uma pesquisa de mercado, perguntando para as pessoas o que elas gostariam de ter num produto como o que eles pretendem desenvolver. Depois eles fazem um esboço, um desenho computadorizado e criam um protótipo que será apresentado como numa venda no final do semestre. É bem interessante pois, além de eles assimilarem vários conceitos de diferentes tecnologias, aprendem a trabalhar em grupo”.
As atividades são planejadas pelos voluntários do projeto em módulos de aula no início de cada ano, sendo rediscutidas e aperfeiçoadas ao longo do semestre. Os alunos também dão suas opiniões: “Após cada atividade, perguntamos às crianças o que elas acharam, e no final do semestre pedimos um feedback também, para saber o que elas aprenderam e o que gostariam de aprender no próximo módulo”, explica Leonardo.
O estudante se orgulha do trabalho desenvolvido pelo projeto que idealizou, não apenas pelo retorno social que ele proporciona, mas pela resposta das crianças atendidas. “É muito legal vê-las aprendendo a trabalhar em grupo, a respeitar as outras opiniões, e também percebendo o potencial que elas têm, fazendo coisas que elas não imaginavam que eram possíveis, adquirindo independência e vendo que elas têm capacidade para mudar as coisas e explorar novas ideias”.
Fotos: Projeto Semente
Texto: Por Diego C. Smirne do Jornal da USP