Tese defendida na EESC levou ao desenvolvimento de centenas de produtos mais sustentáveis no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos

A integração das questões ambientais ao processo de desenvolvimento de produtos por meio do ecodesign tem se tornado cada vez mais importante para a competitividade da indústria. Cerca de 80% dos impactos ambientais (dados da União Europeia) causados ao longo do ciclo de vida de produtos – da extração da matéria-prima, ao uso do produto e disposição final – são definidos nas fases iniciais do processo de desenvolvimento de produtos.

No entanto, apesar do reconhecimento dos benefícios do ecodesign, a sua implementação ainda não é consolidada nas empresas em todo o mundo, principalmente devido às dificuldades de gestão, que incluem: falta de sistematização das práticas de ecodesign, falta de integração ao processo de desenvolvimento de produtos, gestão e estratégia empresariais; e falta de suporte para selecionar as melhores práticas de ecodesign a serem aplicadas.

Essas questões foram objeto de estudo para o desenvolvimento de uma tese de doutorado, de autoria de Daniela Cristina Antelmi Pigosso, defendida em maio de 2012, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – Área de Processos a Gestão de Operações, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da Universidade de São Paulo (USP). Daniela foi orientada pelo professor Henrique Rozenfeld, do Departamento de Engenharia de Produção. Antes do doutorado, graduou-se em Engenharia Ambiental pela mesma instituição.

O tema dessa tese é um dos inúmeros exemplos da produção acadêmica da Unidade, que trouxe valiosa contribuição para a área do meio ambiente mundial. O trabalho resultou no desenvolvimento do Modelo de Maturidade em Ecodesign (EcoM2), uma estrutura conceitual destinada a apoiar as empresas na aplicação e gestão do ecodesign.

O EcoM2 (publicado no Journal of Cleaner Production, 2013) é o 7º artigo de ecodesign mais citado no Scopus. No total, 49 artigos vinculados a ele foram publicados.

O EcoM2, explica Daniela, “possibilita o diagnóstico da maturidade das empresas com relação às melhores práticas de ecodesign, a definição de visões estratégicas para melhoria e o desenvolvimento de roadmaps customizados com a indicação das melhores práticas a serem implementadas”.

A ex-aluna da EESC destaca ainda que o trabalho possibilitou empresas a expandirem o número de produtos com melhor desempenho ambiental para todas as linhas de produto (isto é, com menor emissão de carbono, menor consumo de água, menor uso de substâncias tóxicas etc.).

“Após o doutorado, o EcoM2 foi expandido para considerar não apenas práticas ambientais, mas também práticas orientadas para os negócios e inovação social, resultando no Modelo de Maturidade em Sustentabilidade”, explicou Daniela, que hoje atua como professora associada na Universidade Técnica da Dinamarca e é co-fundadora da Essensus, empresa de consultoria criada em 2015 para aumentar a maturidade da indústria em sustentabilidade.

O Modelo de Maturidade em Sustentabilidade possibilitou, segundo Daniela, uma mudança de paradigma na abordagem para o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis, e hoje é o corpo de conhecimento mais abrangente e a estrutura acionável para o design sustentável, com mais de 800 práticas recomendadas. Ela relata que, com a ajuda dele, centenas de produtos com melhor desempenho de sustentabilidade foram desenvolvidos, por empresas não somente no Brasil (exemplos: Natura e Embraer), mas também nos Estados Unidos (Steelcase e Bose) e Europa (LEGO e Philips).

Para o professor Rozenfeld, produções acadêmicas como a de Daniela demonstram que “pesquisas na área de sustentabilidade precisam ser orientadas à aplicação prática, pois é urgente a necessidade de se desenvolver produtos que possuam um menor impacto ambiental e social em todo o seu ciclo de vida”.

O pesquisador da EESC-USP acrescenta ainda que Daniela Pigosso começou suas atividades de construção desse modelo já na iniciação cientifica, como bolsista da Fapesp, quando a ex-aluna fez um árduo levantamento bibliográfico sobre mais de 1.000 práticas existentes.

“Depois disso, ela começou o mestrado para dar continuidade e construir o modelo de maturidade. Na sua qualificação, passou para o doutorado direto, devido à excelência e ineditismo do seu trabalho. Foi quando ela criou o modelo, entrevistando os maiores especialistas sobre o assunto na época, que foi aperfeiçoado com as aplicações iniciais em empresas. Não podemos deixar de destacar o papel essencial da Fapesp no fomento dessa pesquisa. Hoje, a Daniela é uma das maiores especialistas em economia circular. Ela continua a trabalhar intensamente com pesquisadores do Brasil e, há pouco, obteve um fomento pessoal de um projeto europeu, que poucos pesquisadores obtêm, para desenvolver uma teoria inédita de design sobre o efeito rebote resultante de ações de sustentabilidade. Com o fomento desse projeto, ela envolve pesquisadores brasileiros do PPG em Engenharia de Produção da EESC para realização de um estágio na Dinamarca sob sua orientação. Em janeiro de 2023, a Daniela recebeu o prêmio Reinholdt W. Jorck and Wife’s Fund’s Research devido às pesquisas que têm desenvolvido sobre o design de soluções sem efeito rebote”, complementou o professor Rozenfeld.

Por Alexandre Milanetti (ex-Libris) – Comunicação EESC

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