Aula Magna no IQSC traz reflexões sobre o futuro da educação superior no Brasil

Marcando o início das atividades comemorativas dos 30 anos do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, a professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Lúcia Gazzola, proferiu na última quinta-feira uma inspiradora Aula Magna que destacou a importância de repensar e inovar no ensino superior brasileiro. Renomada por sua vasta experiência e contribuições no campo da educação, a docente trouxe à tona discussões cruciais sobre os desafios e as oportunidades com os quais as universidades se deparam no cenário contemporâneo.

Diante de um auditório repleto de estudantes, docentes e pesquisadores, Gazzola enfatizou a necessidade de um ensino superior mais inclusivo, diversificado e comprometido com a transformação social. Ela ressaltou que, para cumprir essa missão, as universidades devem estar sempre atentas às mudanças sociais e tecnológicas, adaptando seus currículos e práticas pedagógicas para preparar os alunos para um futuro incerto e dinâmico.

“A primeira questão é que o Brasil é um país de desigualdades e isso se expressa também na educação superior. Nós temos um percentual muito pequeno de jovens entre 18 a 24 anos cursando faculdade, assim como o número de brasileiros com diploma universitário, sendo um impeditivo para um projeto sustentável de país. Esses são grandes desafios que precisamos enfrentar. Por outro lado, a universidade brasileira precisa se ressignificar nesse cenário do século 21. Hoje, o conhecimento muda tão rapidamente que se você não preparar os alunos em termos de habilidades, atitudes e competências ao invés de conhecimentos já consolidados, você acaba formando para o passado. Formar para o futuro é criar novos comportamentos”, explicou a professora.

Segundo a docente, as universidades precisam considerar que muitos cenários no futuro são instáveis e que é necessário transferir e ensinar ferramentas aos estudantes que lhes permitam, por exemplo, enfrentar e resolver problemas, trabalhar com circunstâncias de instabilidade, que exigem adaptações, e se preparar para atuar em uma sociedade na qual as profissões do futuro irão se modificar, sendo que muitas que existem atualmente se tornarão obsoletas enquanto outras diversas surgirão.

Em seu discurso, a professora também abordou temas como a internacionalização do ensino, com foco na regionalização da América Latina, a necessidade de fortalecer o ensino básico, a importância da pesquisa interdisciplinar com temas transversais e a integração entre ciência e sociedade. Ela argumentou que as universidades devem ser mais do que apenas centros de conhecimento, devem atuar como motores de desenvolvimento econômico e social, promovendo sustentabilidade e inovação, este último, aliás, deve ser tratado como um dos pilares da universidade aos olhos de Ana Lúcia. Na apresentação, a pesquisadora tratou ainda da importância de construir junto aos estudantes conceitos de cidadania e prepará-los como agentes e sujeitos de transformação.

“A gente tem que se lembrar que, em um país com tantas desigualdades como o Brasil, é um privilégio participar de uma formação em uma universidade pública e gratuita como a USP. No entanto, nem sempre os estudantes percebem o privilégio que estão tendo e aproveitam todas as condições que a instituição oferece. Eu gostaria que eles refletissem comigo sobre as transformações do mundo do conhecimento e do trabalho, o que eles devem esperar do futuro, quais atitudes são exigidas atualmente de um profissional do século 21 e como eles devem atuar aqui na USP para que a sua formação tenha esse foco e possam criar essas possibilidades de sucesso no futuro”, revelou.

A Aula Magna da professora Gazzola foi um momento de reflexão e inspiração para todos os presentes. Ao encerrar seu discurso, a docente teve sua fala reconhecida e recebeu uma placa de homenagem oferecida pelo diretor do IQSC, professor Hamilton Varela, e pelo vice-diretor do Instituto, professor Carlos Alberto Montanari, reafirmando a importância de sua mensagem e o impacto de suas palavras na comunidade do IQSC. A celebração dos 30 anos do Instituto não só comemora um marco histórico, mas também lança um olhar visionário para o futuro da educação superior no Brasil.

“É muito emocionante estar aqui porque eu tenho muito respeito pela USP e, em particular, pelo IQSC. Eu participei do último ciclo de avaliação da USP como consultora sênior, foi uma experiência maravilhosa, pude conhecer muito o Instituto através de seu plano acadêmico, então foi muito interessante. Vir aqui celebrar os 30 anos acolhendo os calouros é algo muito emocionante, estou muito feliz e honrada”, finalizou.

No próximo dia 27 de maio, será realizada a cerimônia solene de celebração do aniversário do Instituto seguida de uma mesa-redonda para discussão de temas relevantes relacionados à Química dentro da USP.  Este ano, as comemorações dos 30 anos do IQSC coincidem com os 90 anos da Universidade de São Paulo, uma das mais prestigiadas instituições de ensino superior do Brasil e do mundo. Neste contexto, o IQSC se orgulha de ser parte integrante desta jornada de sucesso da USP, contribuindo de maneira significativa para sua história e para o desenvolvimento acadêmico e científico do país.

Sobre Ana Lúcia Gazzola: Graduada em Letras pela UFMG, ela fez mestrado em Literaturas Luso-Brasileira e Hispano-Americana e doutorado em Literatura Comparada, ambos pela University of North Carolina, nos Estados Unidos, além de um pós-doutorado na Duke University.

Gazzola ocupou várias posições de destaque ao longo de sua trajetória profissional. Foi reitora da UFMG de 2002 a 2006 e exerceu funções administrativas importantes, como Pró-reitora de Pós-graduação e vice-reitora da mesma instituição. Em nível nacional, ela foi presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) entre 2004 e 2005. No cenário internacional, dirigiu o Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (UNESCO-IESALC) de 2006 a 2008.

Ela também atuou na administração pública como Secretária de Estado de Desenvolvimento Social (2010) e de Educação de Minas Gerais (2011-2014). Além disso, Gazzola recebeu diversos reconhecimentos por sua contribuição à educação, incluindo o título de Professora Emérita da UFMG, Doutora Honoris Causa pela Universidade de Córdoba, além de várias medalhas e prêmios, como a Medalha da Inconfidência e o Prêmio Anísio Teixeira.

Gazzola é amplamente reconhecida por seu trabalho em prol da educação superior, defendendo a importância da integração regional e da internacionalização solidária na América Latina e Caribe​.

Por Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação do IQSC/USP
Fotos: Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação do IQSC/USP

Contato para esta pauta
Assessoria de Comunicação do IQSC/USP
E-mail: jornalismo@iqsc.usp.br

VEJA TAMBÉM ...