Duas pacientes com fibromialgia relatam ausência de dores ao longo de vários anos, após realizarem tratamentos com ação combinada de laser e ultrassom na Unidade de Terapia Fotodinâmica (UTF) do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), uma infraestrutura sediada na Santa Casa de Misericórdia de São Carlos (SCMSC), ao abrigo de uma parceria que completou recentemente dez anos.
Esses tratamentos foram essenciais para a diminuição das dores causadas pela fibromialgia nestas duas pacientes? Sim, foram, mas existem outros fatores que também se apresentaram determinantes para o bem estar e a recuperação da qualidade de vida de Joana D’Arc e de Thiacy Sant’Anna.
Joana D’Arc Ribeiro de Lima Ventura (São Paulo) – sete anos sem dores
Joana D’Arc Ribeiro de Lima Ventura (62) mora na cidade de São Paulo, no Bairro Santana e sofre de fibromialgia desde os 28 anos de idade. Sua história de saúde conta com a realização de largas centenas de exames, passagens por UTI e medicação “pesada” – incluindo morfina -, tendo chegado a se locomover com o auxílio de cadeira de rodas. Uma luz brilhou no final do túnel quando, em 2018, seu filho assistiu a uma reportagem publicada na USP de São Carlos que convocava pacientes voluntários para uma pesquisa e um tratamento inovador com a finalidade de atenuar os efeitos da fibromialgia. Joana D’Arc se inscreveu na pesquisa e foi selecionada para esse programa.

Joana D’Arc Ribeiro de Lima Ventura
“Essa pesquisa compreendia a realização de dez sessões do novo tratamento. Meu Deus… Ao final da segunda sessão cheguei no hotel por volta das quinze horas e dormi…. dormi… dormi… Capotei até às cinco horas da manhã! Fazia uns quinze ou vinte anos que eu não dormia bem, não só por causa das dores, mas também devido à dificuldade no sono, algo que também é característico da fibromialgia. Sinceramente, não estava acreditando na transformação pela qual passei quando concluí as dez sessões do tratamento, cada dia melhorando mais em todos os sentidos. Minha vida mudou completamente. As dores desapareceram, a qualidade do sono ficou fantástica, o foco, a cognição e a concentração despontaram – eu padecia muito – e, repare, comecei a ter vontade de estudar – algo que enquanto doente não tinha passado por minha cabeça”, relata Joana, de alguma forma emocionada.
Na verdade, Joana D’Arc decidiu, em 2020, fazer uma faculdade de fisioterapia e seguir a área de tratamentos de fibromialgia. “Eu trabalhava com o meu esposo numa corretora de seguros, mas exercia o meu trabalho em “home office” porque não tinha condições de caminhar nem de dirigir, ou seja, nada que envolvesse movimentos. Algum tempo após o tratamento decidi fazer a faculdade, tendo prometido a mim mesma que tudo aquilo que eu fosse estudar – graduação, mestrado, especialização -, tudo, mesmo, seria sobre fibromialgia para gritar ao mundo que essa doença existe, que judia e humilha, mas que existe algo que pode aliviar os sintomas e auxiliar na recuperação da qualidade de vida. E foi assim que me formei, abrindo, na sequência, um consultório no bairro onde resido aqui em São Paulo – Bairro Santana”, comemora Joana D’Arc.

Thiacy Sant’Anna
Em seu consultório, Joana D’Arc já atendeu – e continua a atender – centenas de pacientes fibromiálgicos utilizando os protocolos e equipamentos desenvolvidos no IFSC/USP. “Os especialistas costumam dizer que cerca de 4% da população mundial é acometida por fibromialgia, mas eu tenho certeza que essa porcentagem é muito maior. Quando os médicos chegam ao diagnóstico de fibromialgia é porque já descartaram todos as restantes hipóteses. Então, foram tantas coisas horríveis por que passei que agora consigo ver que ter ido para São Carlos e trazer para São Paulo essas novas tecnologias para ajudar mais pessoas, talvez tenha sido a missão de minha vida. Eu sei que a fibromialgia permanece comigo; às vezes, sabe, sinto algum desconforto, mas o certo é que desde junho de 2018, está completando agora sete anos, que não tenho qualquer crise, não tenho aquelas dores horrorosas e não tomo mais nenhuma medicação”, sublinha Joana D’Arc.
Joana acredita que o surgimento da fibromialgia pode ter sido causado pela perda de seu pai, há muitos anos atrás, um trauma psicológico que poderá ter sido o gatilho para toda a situação. Para manter a sua atual qualidade de vida, Joana D’Arc pratica exercícios físicos diários, como hidroginástica e natação, evitando, por outro lado, exercícios de impacto. Quanto ao futuro, Joana pretende ajudar o maior número de pacientes fibromiálgicos em seu consultório. “Se Deus quiser irei ajudar ainda muitas pessoas. Tudo isso graças à equipe do cientista do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Prof. Dr. Vanderlei Bagnato, por ter tido essa visão inovadora, e ao Dr. Antônio Aquino Junior, da UTF, que tão bem coordena o setor de tratamentos”, conclui Joana D’Arc.
Thiacy Sant’Anna (Saquarema – RJ) – três anos sem dores
Thiacy Sant’Anna (79) mora na cidade de Saquarema (RJ) e sofre de fibromialgia desde criança, tendo a sua vida sido pautada por centenas de internamentos, muito deles no Hospital das Clínicas, em São Paulo, ao que se agravou o fato de ter tido quadros com problemas cardiológicos – quatro infartos -, embora considere que em relação a isso fez os devidos tratamentos, encontrando-se perfeitamente bem.
Foi em 2018 que um amigo de Thiacy deu a informação que estaria em execução na USP de São Carlos um novo tratamento para as consequências de fibromialgia. “Não perdi um minuto sequer, fiz minha inscrição e fui aceita. Foi tão impressionante que ainda hoje custa a acreditar. Já na segunda aplicação da série de dez sessões eu já me senti bem. Na minha quarta semana de tratamento eu já não tinha dores e regressei a casa. Contudo, em 2019 e 2022, as dores regressaram e novos tratamentos foram realizados, sendo que desde o último tratamento feito em 2022 não tenho qualquer dor, já passaram três anos”, sublinha Thiacy. Segundo ela, sua vida mudou radicalmente, e para manter a forma física e evitar que as dores regressem começou a praticar Pilates e hidroginástica, algo que virou uma rotina em sua vida, ao mesmo tempo que, independentemente de sua idade, fundou e começou a desempenhar funções em uma cooperativa de habitação.

Dr. Antonio Aquino (IFSC/USP)
Em simultâneo, Thiacy está pensando em sugerir a instalação de um equipamento dedicado ao tratamento da fibromialgia em um consultório médico em sua cidade – Saquarema (RJ). “Quero trazer esse equipamento para cá. Como minha sobrinha é enfermeira, ela pode receber o devido treinamento e utilizar esse equipamento para beneficiar muitas outras pessoas que padecem dessa doença”, finaliza Thiacy Sant’Anna.
Devolver a qualidade de vida aos pacientes
“Nosso aprendizado junto à fibromialgia não para em momento algum”, destaca o pesquisador do IFSC/USP e coordenador dos tratamentos realizados na UTF, Dr Antonio Aquino. “Desde 2017, tivemos muitos colaboradores, onde alguns ficaram pelo caminho, mas neste ano de 2025 reunimos uma equipe afinada, que quer, em cada dia que passa, fazer a diferença e não apenas na fibromialgia. Nossa felicidade em devolver a qualidade de vida, o sorriso aos pacientes é o que nos impulsiona a fazer melhor. Hoje, já estamos numa sexta versão do modelo de tratamento, monitoramos de forma diferente a evolução da intervenção com Laser e Ultrassom e estamos a poucos passos de continuar essas mudanças positivas, tudo isso sob a coordenação do Prof. Vanderlei Bagnato, sublinha Antonio Aquino.
Com efeito, além de todo esse desenvolvimento, o grupo tem ainda a missão de ensinar aos profissionais de saúde a forma correta de aplicar o tratamento, tornando-os ainda mais capacitados. “Cada vez que pensamos em fazer a diferença, lembramos da frase popular de Albert Einstein “Insanidade é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes”. Por isso, seguimos inovando”, completa o pesquisador.
Por Rui Sintra – Assessoria de Comunicação – IFSC/USP