Trabalho desenvolvido junto a disciplina da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP mostra visão interdisciplinar e crítica sobre a governança ambiental
Foto: Divulgação/Editora Blucher Open Acess
A estreita relação entre as crises climáticas, de biodiversidade e sanitária vividas atualmente, bem como a necessidade de elaborar políticas públicas com esse foco, são temas de análise do livro Sociedade, Meio Ambiente e Cidadania em Tempos de Pandemia, publicação escrita pelo cientista social e planejador urbano Pedro Henrique Campello Torres, fruto da pesquisa de pós-doutorado desenvolvida no Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. O e-book está disponível gratuitamente neste link.
O trabalho foi supervisionado pelo professor Pedro Jacobi, do IEE, e teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com lançamento pela editora Blucher Open Acess. “A importância da biodiversidade, as mudanças climáticas, a energia, os resíduos, o saneamento e a urbanização são temas apresentados para estimular o debate, sempre com a pandemia de covid-19 no eixo central da discussão”, diz Torres. O pesquisador destaca que tem pesquisado sobre novas formas e agendas de governança e planejamento face aos impactos das mudanças climáticas.
Torres ressalta também que as lentes de análises teórico-metodológicas aproximam o livro de sua pesquisa de pós-doutorado. “A governança da emergência sanitária, ou melhor, sua má governança, também é verificada na área ambiental, foco principal de minhas pesquisas. Também os impactos desiguais de agravos ambientais ou sanitários, como no caso da covid-19, que atingem primeiramente as populações mais vulneráveis. Com a pandemia, foi possível identificar a exacerbação dessas igualdades, sobretudo nesses territórios”, explica.
Iniciativa interdisciplinar
A obra tem 226 páginas e é composta de nove capítulos, mais a introdução, em uma colaboração entre professores e pesquisadores de pós-doutorado que ministraram a disciplina Sociedade, Meio Ambiente e Cidadania na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. “A experiência desse trabalho coletivo permitiu reunir professores e alunos de cursos distintos da EACH, resultando em uma iniciativa interdisciplinar, crítica e que valoriza os múltiplos saberes científicos frente ao obscurantismo e ao negacionismo”, enfatiza o autor.
O primeiro capítulo, por exemplo, trata da relação entre pandemias e mudanças ambientais globais. Os autores retomam o surgimento da covid-19 e de outras pandemias ao longo da história para mostrar como elas estão associadas a mudanças sociais importantes. Eles explicam as razões que explicam o o aumento na frequência de epidemias e analsiam se a Amazônia pode se torne um novo epicentro do surgimento de pandemias.
“Mudanças sociais podem alterar as dinâmicas populacionais humanas, afetando também a demanda por recursos naturais. Intervenções antropogênicas como essas impactam a qualidade dos ecossistemas e, em consequência, a saúde humana e animal, podendo levar ao aumento da emergência de doenças, principalmente zoonoses”, explica o texto.
Fonte: Elaborado por I. T. Ribeiro a partir de Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission: A scientific assessment with key messages for policy-makers (UNEP, 2020)
Em Justiça planetária e equidade frente à covid-19, Torres apresenta como tema a produção e reprodução das injustiças e das desigualdades – bem como da luta por justiça – em diálogo com as lentes da justiça ambiental e da justiça planetária. No texto ele aborda a governança disruptiva do governo federal frente à covid-19, os movimentos antivacina e o negacionismo em escala planetária e as “injustiças no território”. Ele traz dados sobre as taxas de mortalidade por covid-19 e a proporção de pessoas negras na cidade de São Paulo e aponta como esses dados são exemplos que poderiam ter sido levados em consideração para as políticas e a gestão da priorização de vacinação.
O livro Sociedade, Meio Ambiente e Cidadania em Tempos de Pandemia pode ser lido gratuitamente no site da editora.
Por Jornal da USP – Com informações da Agência Fapesp
