USP lança curso de Licenciatura interdisciplinar em Ciências

Projeto propõe a criação de uma nova modalidade de formação docente, com chamada pública aberta a professores da USP

Dirigido a estudantes em formação inicial e docentes da rede de educação, principalmente da rede pública de ensino, o projeto promovido pela Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, com apoio da Pró-Reitoria de Graduação da USP, propõe um curso experimental para criação e implantação da Licenciatura Interdisciplinar em Ciências (LIC). “O objetivo é reunir a energia de quem está começando com a experiência de quem já atua nas redes de ensino”, afirma o titular da cátedra Naomar de Almeida Filho.

Dessa maneira, o projeto abre uma chamada pública para acolher professores da USP que tenham interesse em participar como cocriadores dessa nova modalidade de formação docente inicial e continuada. A interdisciplinaridade já é algo que se busca há muito tempo, desde as diretrizes de base da educação, através da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Essa perspectiva vem ao encontro da missão da Cátedra Alfredo Bosi, que é a de pensar e contribuir para a criação de novos modelos de licenciaturas no Brasil.

O currículo atual forma professores que dão conta de tarefas restritas a uma área de especialização, e até de superespecialização, uma contradição e até um descompasso entre as normas vigentes e as pretendidas licenciaturas interdisciplinares, como aponta Almeida Filho. “Há uma visão disciplinar, ou seja, a ideia de formação por áreas de conhecimento”, concorda o professor Luis Carlos de Menezes, coordenador acadêmico da Cátedra Alfredo Bosi. “Há uma divisão das ciências como se a solução fosse a fragmentação e não a integração de conhecimento”, diz Almeida Filho.

Porém, há muitas iniciativas bem-sucedidas, na própria USP, caso do Curso de Ciências Moleculares, que existe há 30 anos, sem um vestibular – ou seja, os alunos migram de outras áreas e podem seguir nesse curso ou voltar ao curso original –  ou currículo específico, onde o aluno, com orientação da equipe docente, escolhe cursar determinadas disciplinas entre as várias áreas do conhecimento pertinentes ao seu projeto de estudo.

É nesses moldes que o projeto da LIC quer trabalhar: um roteiro aberto para experimentação, em que tanto alunos quanto docentes são cocriadores dessa nova modalidade de licenciatura, como define Menezes. “Queremos articular esforços, criar espaços de inovação e buscar alternativas”, garante. “A interdisciplinaridade transcende campos de atuação. Estamos propondo um curso experimental, em que há uma integração de saberes e conhecimentos científicos”, diz Almeida Filho, e reitera: “Os participantes vão construir seu próprio projeto de ensino-aprendizagem; vão criar, de modo coletivo, um projeto pedagógico de licenciatura interdisciplinar”.

Um curso experimental

A ideia de se propor a criação da LIC surgiu através de um edital publicado pelo Ministério da Educação (MEC), em meados do ano passado, que já sinalizava a busca por projetos inovadores com perspectiva interdisciplinar. Como lembra a professora Roseli Lopes, coordenadora geral da Cátedra Alfredo Bosi, alguns grupos de trabalho já estavam criando propostas para futuras licenciaturas, e o edital surgiu como uma possibilidade de implementar esses projetos. Além disso, a USP se uniu à Universidade Federal do ABC (UFABC), que já trabalha com essa modalidade de licenciatura interdisciplinar, e também à Unisantos, uma universidade sem fins lucrativos, para redação do projeto, sendo então contempladas com o financiamento público.

A professora Roseli ainda informa que com os recursos já garantidos pelo edital o projeto também prevê, ao final dos quatro anos de implementação, 160 bolsas de residência pedagógica por um período de seis meses. “A proposta é criar um curso experimental porque esse formato, que é permitido por lei, tem muito mais agilidade e flexibilidade, permitindo que docentes de várias unidades que tenham expertise no assunto possam trabalhar juntos, onde a sinergia entre pesquisa, ensino e extensão sejam ainda mais fortes”, explica Roseli. “É claro que na Universidade de São Paulo, em todos os cursos, isso já é presente, especialmente nas licenciaturas, mas nesse formato de curso experimental há uma intensidade maior nessa colaboração entre docentes”, completa. “É um ponto de convergência para trazer essas experiências diferenciadas de pesquisadores que estejam em suas respectivas unidades para compartilhá-las e colocá-las em prática”, destaca.

Serão oferecidas 80 vagas para iniciantes, com opções de habilitação nas seguintes áreas de conhecimento: Ciências da Natureza; Matemática; Ciências da Aprendizagem; Letras/Português; e outras 80 vagas para professores da rede básica como segunda licenciatura. “Dessa forma haverá uma forte interação, entre os que estão iniciando na carreira docente e os que já estão atuando e querem uma formação nessa perspectiva interdisciplinar para que estejam mais preparados para os desafios atuais”, afirma a professora.

O projeto prevê a criação de dois ambientes. O primeiro deles, metapresencial, ou seja, de coaprendizagem, com o compartilhamento dos espaços pedagógicos através da tecnologia, em que os participantes interagem em tempo real. “Agregando experimentos, produções e trocas mais intensas de projetos entre os grupos”, como explica Roseli. E o segundo, Laboratórios de Ciências, em que os professores terão mais autonomia para construir novos experimentos, para se trabalhar um determinado tema que seja relevante para seus alunos, “numa perspectiva mais maker”, como define Roseli.

Inicialmente, estão programadas várias reuniões, em formato de oficinas, em que serão discutidas as novas propostas – a primeira delas está prevista para o dia 11 de fevereiro. Posteriormente, será realizado o processo de seleção de estudantes, interessados ou com vocação para docência, que vai incluir oficinas de trabalho colaborativo sobre temas e/ou problemas da educação – os aprovados serão matriculados por transferência da unidade de origem. Ao final do projeto, a ideia é de que o curso seja aprovado e implementado. O formulário da chamada pública para inscrição de docentes da USP no Projeto de Licenciatura Interdisciplinar em Ciências (LIC) pode ser acessado neste link. Mais informações e detalhes do projeto através do e-mail academicoiea@usp.br indicando como assunto “Chamada Cocriadores LIC”.

Por Claudia Costa – Jornal da USP

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