Livro reflete importância da participação popular na preservação do patrimônio cultural

Disponível no Portal de Livros Abertos da USP, e-book “Patrimônios e Imaginários” reflete sobre a importância do patrimônio cultural para o planejamento urbano. Obra foi organizada por pesquisadores do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP

Moradia de famílias de pescadores e marisqueiras em palafita no Bode, em Recife, pensadas como patrimônio cultural – Foto: Ingrid Veloso/Livro Patrimônios e Imaginários, IAU USP

Você já se perguntou o que define um patrimônio cultural? Mais do que objetos e construções tombadas, o conceito abrange manifestações materiais e imateriais que refletem a identidade de diferentes grupos. Essa é a perspectiva central do livro Patrimônios e Imaginários, organizado pelo professor Paulo César Castral do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP. Disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP neste link, a obra revisita o conceito tradicional de patrimônio, incorporando dimensões sociais, culturais e políticas.

De acordo com Castral, o conceito de patrimônio cultural passou por uma transformação a partir do século 20. “O patrimônio deixa de ser apenas um bem material e passa a ser entendido como representatividade de um grupo ou coletivo. Ele passa a envolver a visão das pessoas que utilizam esse bem,” explica. A nova abordagem amplia o debate, incluindo a forma como as comunidades valorizam seus espaços e tradições, fator que pode ser fundamental para o planejamento urbano.

Ciência cidadã em Bocaina

Paulo César Castral, professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP - Foto: Divulgação/IAU USP

Paulo César Castral, professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP – Foto: Divulgação/IAU USP

O livro, que conta com a participação de especialistas de diferentes instituições, é resultado do projeto A Cidade para Todos, que investigou o patrimônio cultural em Bocaina, no interior paulista. Conhecida por preservar espontaneamente casarões e bens históricos, a cidade com pouco mais de 11 mil habitantes despertou o interesse dos pesquisadores pela relação de seus moradores com esses espaços. “A ideia principal do projeto é trazer para o campo da arquitetura uma discussão sobre patrimônio cultural que já é amplamente debatida na geografia, mas que avança de forma mais lenta na arquitetura,” comenta o professor.

Sem políticas públicas específicas, a preservação em Bocaina depende do envolvimento da população. Com isso em mente, os pesquisadores observaram como a comunidade atribui valor a bens e tradições sem estímulos legais.

“Quando a população se apropria do bem ou do espaço, garante-se uma maior longevidade para esse patrimônio,” afirma Castral. A iniciativa incluiu estudantes de pós-graduação em um processo colaborativo que analisou diferentes aspectos do patrimônio local.

Livro aborda como envolvimento da comunidade pode ajudar na preservação do patrimônio cultural – Foto: Divulgação/IAU USP

Uma obra coletiva

Organizado em três eixos temáticos, o trabalho reúne reflexões sobre memória, identidade e participação social. Os textos abordam desde práticas de preservação, como o uso de redes sociais para inventariar patrimônios, até políticas públicas que promovam a descolonização da educação patrimonial. Além disso, o material inclui estudos sobre práticas culturais em diferentes regiões do Brasil como, por exemplo, uma análise do Bumba Meu Boi na Baixada Maranhense e um artigo que aponta as palafitas como expressão de identidade cultural em comunidades ribeirinhas.

“O livro foi organizado por todos os participantes do projeto de maneira horizontal, com decisões partilhadas,” esclarece Castral. A metodologia colaborativa reflete o objetivo de integrar diferentes perspectivas e tornar o debate acessível a um público amplo, que vai de estudantes a gestores culturais e comunidades locais.

“[A obra] também conta com colaborações internacionais, incluindo a participação do Observatório Patrimonial da Espanha,” lembra o docente. “Essas parcerias são importantes para ampliar as perspectivas e trazer exemplos de outros contextos culturais que podem enriquecer o debate sobre gestão patrimonial,” acrescenta.

Livro mostra como redes sociais são usadas para inventariar patrimônios como no caso de Bocaina – Foto: Divulgação/IAU USP

Disponibilizado no Portal de Livros Abertos da USP, o e-book reforça o compromisso da Universidade com a ciência aberta. “A produção em uma instituição pública deve ser um conhecimento público,” defende. Na opinião do professor, a democratização do acesso é fundamental para fomentar novas abordagens no campo do patrimônio cultural e incentivar a participação social.

Por fim, o especialista argumenta que o trabalho pode servir como convite para que, no futuro imediato, comunidades, pesquisadores e gestores reflitam sobre o papel do patrimônio na construção de identidades coletivas e no fortalecimento da memória social.

O e-book Patrimônios e Imaginários está disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP neste link.

Texto: Denis Pacheco – Jornal da USP

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