Luz contra a resistência – Uma nova esperança no combate às bactérias mais perigosas

Imagine enfrentar uma infecção que não melhora, mesmo após o uso dos antibióticos mais potentes

(Créditos – International Photodynamic Association)

Essa é a realidade de muitos pacientes ao redor do mundo, vítimas de bactérias resistentes que desafiam os tratamentos tradicionais. Uma delas, bastante conhecida pelos profissionais de saúde, é o Staphylococcus aureus resistente à meticilina, ou simplesmente MRSA, sendo muito comum em hospitais, podendo causar desde infecções na pele até quadros graves de pneumonia e infecções na corrente sanguínea.

Uma alteração desse cenário está sendo estudada por pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), em parceria com a A&M Texas University (EUA), ao propor uma solução criativa e promissora – o uso de luz e curcumina (substância natural do açafrão-da-terra) para destruir essas bactérias sem recorrer a antibióticos.

Como a luz pode matar bactérias?

A técnica utilizada é a denominada terapia fotodinâmica antimicrobiana (TFDa), tratando-se de uma solução de curcumina que é preparada e adicionada in vitro onde estão as bactérias, sendo que, em seguida, essa região é iluminada com uma luz azul. A combinação da luz com a curcumina ativa uma reação química que produz partículas altamente reativas — uma espécie de “bomba de oxigênio” — capazes de destruir as bactérias de forma precisa.

Esse processo não afeta as células saudáveis e tem a grande vantagem de as bactérias não conseguirem desenvolver resistência, como acontece nos tratamentos com antibióticos.

O diferencial deste estudo é que os pesquisadores decidiram levar em consideração algo muitas vezes ignorado, que é a presença das chamadas bactérias boas. No nosso corpo, especialmente na pele, existe uma imensa comunidade de microrganismos que convivem conosco de forma harmoniosa. Uma dessas bactérias é a Staphylococcus epidermidis, que faz parte do nosso microbioma natural. Ao invés de eliminar tudo — como fazem os antibióticos —, os cientistas decidiram incluir essa bactéria no experimento. O objetivo era ver se sua presença poderia ajudar no combate às bactérias perigosas. E o resultado foi surpreendente, já que a presença do S. epidermidis aumentou a eficácia do tratamento com luz e curcumina, dificultando a multiplicação do MRSA e contribuindo para a restauração do equilíbrio natural da pele.

Resultados animadores

Pesquisadora Rebeca Vieira de Lima (Foto divulgação)

Os testes foram feitos em laboratório, com diferentes combinações das três bactérias: S. aureus (comum), S. aureus resistente (MRSA) e S. epidermidis (a benéfica). A terapia foi aplicada com diferentes intensidades de luz e concentrações da curcumina, sendo que os dados mostraram que, sozinha, a curcumina não teve efeito contra as bactérias e que apenas a aplicação de luz azul não foi eficaz. Contudo, a combinação da luz com a curcumina reduziu drasticamente as bactérias perigosas, principalmente quando elas estavam em culturas mistas, ou seja, convivendo com as bactérias boas, sendo que foi possível controlar as bactérias ruins sem eliminar completamente as boas, algo que os antibióticos não conseguem fazer. Ou seja, em vez de atacar todas as bactérias, o foco do estudo foi eliminar apenas as ruins e preservar as boas. Isso é especialmente importante em tempos de uso excessivo de antibióticos, que vêm causando a proliferação de super bactérias.

A terapia fotodinâmica, além de ser eficaz, é segura, barata e pode ser adaptada para o uso em feridas, úlceras, queimaduras, ou até em infecções bucais e em outras partes do corpo e, como se baseia em luz e em uma substância natural, não provoca os mesmos efeitos colaterais de medicamentos agressivos.

Ao unir tecnologia, natureza e conhecimento sobre o funcionamento do corpo humano, os pesquisadores abrem caminho para um futuro mais saudável e equilibrado, onde a luz — literalmente — pode ser a arma mais poderosa contra as infecções mais difíceis.

Esta pesquisa teve como primeira autora a pesquisadora do IFSC/USP Rebeca Vieira de Lima, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (UFSCar), e ainda os pesquisadores Profª Kate Cristina Blanco e Prof. Vanderlei Salvador Bagnato (IFSC/USP- Texas A&M University/EUA).

Confira AQUI o artigo científico relativo a esta pesquisa.

Por Rui Sintra – Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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