

Isabella e o filho Joaquim. Foto: Arquivo pessoal
Os números reforçam a ideia de que a construção de uma carreira acadêmica de sucesso é incompatível com a formação de uma família. “Duas semanas depois que Joaquim nasceu, eu já estava na frente do computador com ele amarrado, escrevendo meu pedido de prorrogação de bolsa. Então, embora você tenha direito aos quatro meses adicionais (no caso da Fapesp), os prazos correm igualmente para todos”, conta a bióloga Isabella Bordon, pós-doutoranda do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e uma das embaixadoras do Parent In Science na Universidade – atualmente, 73 cientistas são embaixadores do programa em centros de pesquisa de todo o Brasil.
Ela lembra que a luta das mulheres na ciência abrange a paternidade ativa, sendo indispensável que pais cientistas também tenham direito a um afastamento temporário para dividir as tarefas de cuidado dos filhos.

Carla e o filho Urko. Foto: Arquivo pessoa
Carla Batissoco, farmacêutica-bioquímica e pós-doutoranda da Faculdade de Medicina da USP, conta que não apenas a extensão da bolsa é importante, mas a manutenção do apoio financeiro às mães, uma vez que o pesquisador bolsista não é assistido por direitos trabalhistas. “Quando tive meu filho, 12 anos atrás, eu consegui seis meses de licença pela pós-graduação, dos quais fiquei três meses sem receber porque não tinha bolsa. O financeiro pesa muito, você começa a ficar desiludida e ponderar se vale a pena prosseguir”. Carla também é embaixadora do Parent In Science na USP e admite que já deixou de participar de congressos por ter filhos.
A pesquisadora explica que é comum pais cientistas permanecerem ativos na carreira nos dois primeiros anos dos filhos, apesar de toda a dificuldade para acompanhar experimentos, por exemplo, por ainda terem resultados de colaborações feitas até a gravidez. No entanto, a ausência de formas mais adequadas de avaliação aprofundam as desigualdades no meio acadêmico e científico.