Projeto Zenith: alunos do ensino fundamental em experimento espacial

Ao leste da Sibéria, uma região chamada pelos russos de “terra em formação” abriga centenas de vulcões ativos, que expelem lava continuamente, e é considerada uma das regiões mais inóspitas da Terra. Mas mesmo um ambiente com essa descrição pode abrigar vida, mais especificamente, micróbios conhecidos como “extremófilos” que, conforme o próprio nome sugere, são capazes de sobreviver a condições extremas de vida como, por exemplo, em ambientes com temperaturas acima de 100ºC.

O Zenith/USP, grupo formado em 2013, e que hoje conta com mais de 60 estudantes de diferentes cursos de graduação e pós-graduação da USP São Carlos e da UFSCar*, realiza trabalhos ligados à engenharia aeroespacial, entre eles trabalhos relacionados ao teste de sobrevivência de micro-organismos na região da estratosfera (50 km acima do nível do mar). “Desde 2014, temos feitos trabalhos científicos que testam a sobrevivência desses organismos extremófilos na estratosfera, e também observamos suas reações nesses ambientes hostis”, conta João Victor Prado de Almeida, aluno da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP) e integrante do Zenith.

O trabalho mais recente dos alunos está relacionado à astrobiologia, área de estudo que tem crescido significativamente nos últimos anos, e na qual o Brasil se destaca. “Há muita coisa sendo desenvolvida no Brasil, especialmente no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, com o qual mantemos parceria nesse projeto”, explica Rafael Quaresma, aluno do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e também integrante do Zenith.

Zenith e os alunos do ensino médio

Ao criar o Zenith, seus fundadores não tinham somente o objetivo de explorar a engenharia aeroespacial, mas também divulgar essa área de estudos ao público geral. Por essa razão, em dezembro do ano passado, os membros do Zenith deram início a um projeto educacional para incluir estudantes do ensino fundamental e médio, e conseguiram reunir 17 escolas de cinco estados do Brasil para participar do projeto. “Foi pedido aos alunos e professores das escolas para colocar dentro de balões meteorológicos plantas, organismos vivos, ou qualquer outro objeto que quisessem. Os balões foram soltos e, posteriormente, os alunos e professores deveriam verificar como os objetos reagiram após entrar em contato com a estratosfera”, explica João Victor.

Uma das turmas participantes foi liderada pela ex-aluna do IFSC/USP, Jaqueline P. Evangelista, docente do Colégio Planeta. Ela e seus alunos enviaram um PongSat (bola de ping-pong) contendo sementes de feijão, de milho de pipoca e um mascote da sala. “Notamos que, aparentemente, não houve mudanças em nenhum dos itens. Mas, depois disso, fizemos alguns experimentos, e vimos que a pipoca que foi para o espaço demorou mais tempo para estourar do que outra pipoca do mesmo lote. Germinamos as sementes de feijão em algodão e terra, e o que foi para o espaço não germinou”, conta Jaqueline.

Zenith

Jaqueline (à frente) com os alunos do 6º ano da Escola Planeta, participantes do experimento

Ela afirma que, tanto os alunos participantes, quanto os pais destes alunos ficaram muito entusiasmados com a ideia de seus filhos participarem do experimento, especialmente pelo fato de ser diretamente vinculado à universidade. “As aulas se tornaram muito mais dinâmicas. Sempre tentamos relacionar os experimentos do projeto às teorias passadas durante as aulas, e isso ainda continua, pois estamos finalizando as análises”, conta.

Rafael diz que a interação com os alunos do ensino médio foi extremamente positiva, e que o retorno foi imediato. “Acompanhei duas escolas de minha cidade natal que também participaram do projeto, e vi os alunos e os professores interagindo com os experimentos com bastante ânimo! Alguns nunca imaginaram que teriam a chance de se envolver com algo desse tipo, e foi muito bom poder acompanhar isso de perto”, comemora o estudante.

Diante da repercussão positiva da iniciativa, João Victor e Vinicius afirmam que pretendem expandir o projeto em 2018, incluindo uma maior quantidade de escolas na iniciativa. “Para o próximo ano, estamos querendo aumentar de 17 para 50 o número de escolas participantes”, adianta João Victor.

Ele reforça que, através dessa iniciativa, além de divulgar a engenharia aeroespacial, os membros do Zenith querem mostrar que é possível engajar muitas pessoas no assunto, sem um alto custo. “Quando se pensa na área de aeroespacial, pensa-se sempre em experimentos caros, possíveis de serem feitos somente em locais como a NASA ou outras agências de países de primeiro mundo. Queremos mostrar que é possível desenvolver projetos baratos e, ainda assim, com cargas científicas atreladas a eles”, finaliza João Victor.

*O Zenith conta com estudantes da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP), Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP)

 

VEJA TAMBÉM ...