Uma Homenagem especial no “Dia dos Professores”

Sou professor e adoro minha profissão.

Como nossa existência é finita, viveremos para sempre através dos ensinamentos que deixamos, seja aos nossos filhos ou aqueles que estiveram ao nosso redor, como nossos estudantes. O professor, principalmente, tem a chance de deixar um legado eterno através de seus alunos. Os ensinamentos que recebemos, incorporamos e passamos a outros. O conhecimento propaga-se muito além de nossa existência. Ser um professor é ser eterno, e sem dúvida é a figura chave na evolução de uma sociedade. Devemos reverência aos professores.

Neste dia especial dos professores, gostaria de deixar uma mensagem aos meus professores, muitos que desde cedo se preocuparam em me ensinar, em me preparar, em mostrar caminhos e, principalmente, em me orientar, assinalando que dominar o fracasso é um caminho seguro ao sucesso. Não posso deixar de homenagear diversos professores que tive ao longo de minha vida. Muitos de meus professores estão vivos e quero dizer a todos que agradeço seus ensinamentos. Sem eles, nem o pouco que sou teria conseguido. Mas há alguns que já se foram e seus ensinamentos continuam aqui.

Há dois professores que foram verdadeiros mentores para mim e para muitos outros.

A eles darei certo destaque, sem desmerecer aos vários outros. Em primeiro lugar, quero falar do professor Milton Ferreira de Souza – conhecido como Prof. Miltão. Ele era químico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1953) e trabalhou em diversos locais do Brasil, tendo tido em São Carlos seu principal ponto de parada.  Atuou em diversas aéreas e preparou várias pessoas para formarem o Grupo de Ótica. Foi, basicamente, orientador de toda uma geração que montou diversos grupos de pesquisas e que foram de grande relevância para dar ao Instituto de Física de São Carlos as características que possui: diversidade com excelência. Prof. Miltão era um visionário e com sua determinação e motivação nos jovens, de fato transformou a cidade de São Carlos, conectando ciências com inovação. Fundou as primeiras empresas genuinamente formadas a partir da Universidade e tornou a inovação de São Carlos em um exemplo a ser seguido pelo Brasil.

Juntamente com outro gigante, Prof. Sérgio Mascarenhas, ambos tornaram São Carlos um polo científico e tecnológico. Prof. Milton, com seu jeito duro e ariscado, fez coisas que outros não fariam. A nós transmitiu a mensagem clara que se não houver risco não se faz o novo. Seguir o Prof. Milton foi um grande prazer, bem como trabalhar com seus alunos, hoje professores já aposentados e renomados. Miltão me disse claramente “Só vale a pena fazer a ciência que melhora a vida das pessoas “.

Também quero deixar minha homenagem ao Prof. Daniel Kleppner do MIT, que juntamente com David Pritchard foram meus mentores nos Estados Unidos. Kleppner formou-se no Williams College, com bacharelado em 1953, em Williamstown, e na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, com bacharelado em 1955, e com um Ph.D. em 1959 em Harvard.  Trabalhou com o Prêmio Nobel N. Ramsey e com diversos expoentes da física mundial. Semeou os fatos mais importante da física moderna como átomos em cavidade e os condensados de Bose-Einstein. Foi um “fazedor” de premiados com o Nobel, sem ter ganho ele mesmo.  Ao terminar meu doutorado, em 1987, e comunicar aos meus mentores meu retorno ao Brasil, o Prof. Kleppner me levou ao local onde se guardava equipamentos já usados e me disse “Tudo que você precisar daqui pode levar e ter início no seu laboratório no Brasil”. Na época, eu e o Prof. Sergio Zilio (que foi meu grande amigo, professor e companheiro por muitos anos) empacotamos tudo e despachamos para o Brasil mais de 500 Kg de equipamentos. Com isto, em doze meses já tínhamos experimentos rodando no Brasil com átomos frios e a vinda de outro grande apoio, Prof. Alain Aspect (Prêmio Nobel em 2022), que também se tornou visitante permanente de nosso Instituto. Em doze meses estávamos publicando trabalhos científicos em um tema em que poucos no mundo estavam conseguindo. O Prof. Kleppner foi, até recentemente, um grande consultor para mim. Kleppner me disse uma vez “A ciência que vale a pena é aquela que é feita com excelência”. Vejam, dois mentores tão especiais e quis o destino que partissem praticamente ao mesmo tempo para a eternidade.

Prof. Milton Ferreira de Souza faleceu em 24 de agosto de 2025 e o Prof. Daniel Kleppner em 16 de junho de 2025, o primeiro com 93 anos e o segundo com 92 anos. Sei que a vida deve continuar, mas agora sem a possibilidade de dizer “Deixe-me perguntar ao Milton ou ao Kleppner o que acham desta ideia”. Aos meus mentores e mestres, seja onde estiverem, quero dizer que não morreram, estão vivos até hoje e atuando com suas ideias através de nós, seus alunos. Junto com muitos outros que eles formaram, somos agora a razão viva de sua existência como professores e levamos adiante seu legado, da mesma forma que eles levaram o legado de outros.

Neste dia 15 de outubro, certamente vou parar por alguns minutos e memorizar tudo que recebi e ficar ainda mais convencido de tudo que tenho que deixar aos meus próprios alunos.

Certamente, a grande mensagem recebida de diversos dos meus professores “é que não basta apenas escolher os capacitados, é preciso capacitar os escolhidos”, e isto é o que tenho feito.

A todos os professores, minha reverência.

A todos os mestres, meu respeito.

E a todos os alunos, minha dedicação.

(Vanderlei Salvador Bagnato – Professor do IFSC-USP)

Assessoria de Comunicação – IFSC/USP

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