Nota informativa sobre o “Alinhamento” Planetário

O Observatório vai abrir para observar o “alinhamento” dos planetas? Para responder a esta questão de forma mais abrangente, estamos publicando esta nota informativa

Sobre a figura: Situação das órbitas planetárias (de Mercúrio a Saturno) no dia 21/01/2025. A figura foi feita usando a ferramenta de visualização da NASA chamada “Eyes on the Solar System”. Você pode acessar a ferramenta em: https://eyes.nasa.gov/apps/solar-system/#/home. Crédito: André Luiz da Silva/CDCC/USP e NASA

Em uma reposta rápida, caso você não esteja com tempo de ler toda a nota: já estamos observando o tal alinhamento – que não é alinhamento – desde a reabertura das observações públicas no dia 11 de janeiro o e vamos continuar observando nos próximos finais de semana de atendimento. O “alinhamento” não acontece em uma só noite e se você quiser saber porque não é alinhamento e porque não tem nada de raro, continue lendo a nota…

A figura deste post, feita com uma ferramenta da NASA (veja “sobre a figura”, no final da nota) deixa claro que o “alinhamento” não existe, tal como várias notícias dão a entender. O que ocorre é uma situação em que os planetas ficam posicionados em direções próximas a um setor do céu e podem ser vistos em um mesmo horário (no momento, algumas horas após o pôr do sol).

No céu, eles podem ser vistos ao longo de um arco (que você pode, com muito boa vontade, chamar de “linha”). Ora, não há nada de excepcional em os planetas estarem nessa “linha”. Sabemos hoje que os planetas se formaram a partir de um disco protoplanetário ao redor do Sol, há 4,6 bilhões de anos. Até hoje os planetas giram ao redor do Sol em órbitas que são bem próximas ao plano desse disco. E como a Terra é um desses planetas, a gente sempre vê os planetas (e não só eles: o Sol e a Lua também), sempre desfilando no céu em uma “linha”. Na verdade, está mais para uma faixa, que de tão importante e conhecida, há muito tempo ganhou um nome. A faixa se chama Zodíaco.

A situação é um pouco parecida com a de uma formiga parada em uma pizza, a meio caminho entre a borda e o centro. Imagine que há algumas rodelas de tomates-cereja espalhados por toda a pizza. Do ponto de vista da formiga, as rodelas parecerão estar todas “alinhadas” ao redor dela, no plano da pizza. Mas, vistos de cima, essas rodelas não estarão alinhadas com o centro da pizza!

A disposição dos planetas que estamos observando agora não aparece e some de uma noite para outra. Não precisa ter pressa, pois essa configuração dura semanas, sendo que no final de fevereiro teremos mais um planeta visível a olho nu se juntando ao desfile: Mercúrio.

Aproveitamos para esclarecer que ninguém vai ver todos os planetas juntos através das lentes de um telescópio! Aliás, para ver o fenômeno do alinhamento, o telescópio é uma péssima opção: os telescópios só conseguem observar ao mesmo tempo porções pequenas do céu, algo do tamanho aparente da Lua, nada muito maior do que isso. E para termos uma ideia de como a Lua ocupa uma porção pequena no céu, basta o seu dedo mínimo – com o braço esticado – para cobri-la completamente. No momento, os planetas estão distribuídos por um leque de direções ao longo do Zodíaco e o melhor instrumento para apreciar a beleza do fenômeno é o olho, sem qualquer equipamento!

Mas além do desfile (palavra melhor que “alinhamento”) planetário, aproveite que você estará no Observatório e observe alguns de perto com os nossos telescópios. Atualmente, temos Marte, o nosso vizinho avermelhado em uma boa situação de visibilidade, além de Júpiter, o maior dos planetas, e Saturno, detentor do mais belo sistema de anéis do Sistema Solar. Vênus está encantando nossos finais de tarde/inícios de noites com seu brilho exuberante.

É bom lembrar que, dependendo da obstrução do horizonte por prédios próximos, da ocorrência de nuvens e do horário da observação, alguns (ou até mesmo todos!) planetas podem não estar acessíveis à observação.

Então, não espere “alinhamentos” ou outros anúncios sensacionalistas para apreciar os tesouros do céu. Venha ao Observatório regularmente e se maravilhe com astros, além de participar das nossas atividades e visitar nossos espaços expositivos!

Nossos horários normais de atendimento são sábados e domingos, das 20 às 22 horas. Fique atento(a) à nossa programação para as novidades! 

O Observatório Dietrich Schiel do CDCC/USP fica na Área 1 da USP de São Carlos, com acesso para pedestres próximo à esquina da Av. Dr. Carlos Botelho com a Rua Visconde de Inhaúma.

Boas observações!

Mais informações:
Tel.: (16) 3373-9191
ou acesse:
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Por André Luiz da Silva, astrônomo do Observatório Dietrich Schiel do CDCC/USP

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